Uma ilusão chamada Suíça

por Comunidade Cultura e Arte,    26 Dezembro, 2018
Uma ilusão chamada Suíça
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Suíça. Centro económico e financeiro, aparte da União Europeia, sediado no coração da Europa, lugar considerado uma democracia liberal, e no entanto alberga uma população local completamente xenófoba e calculista. Para os “verdadeiros suíços” este paraíso fiscal é isso mesmo, um paraíso. Mas a imagem espelhada não reflecte a realidade dos milhares de emigrantes que procuram este país. Que o vêem como a possibilidade de financiar os seus agregados familiares, que ficaram nos seus países Natal onde o poder económico e a privação de oportunidades laborais que permitam a subsistência os obrigam a viajar para um país reconhecido como sendo “heterogéneo” e liberal. Pois existem sempre duas faces da moeda, aquela que mostra o símbolo da nação a que corresponde, e o número pelo qual a quantificamos. Pois bem, nesta analogia eu diria que o número seriam os cidadãos emigrados neste país, e o símbolo de identidade nacional exposto na face oposta a comunidade helvética.

A falácia que absorve geração após geração e alimenta sonhos e ambições do outro lado do Atlântico na grande nação do tio Sam pode ser, em certa medida aplicada na Suíça. A existência humana no mundo afirmadamente, e inquestionavelmente, capitalista em que vivemos na actualidade converge e repudia aqueles que não “pertencem” às linhas desenhadas na areia com um ramo, ou como gostam de afirmar em termos geopolíticos, aqueles que não foram concebidos nas suas fronteiras são tratados como em qualquer outra economia que tenha superioridade para com os países vizinhos, números, os outros, os que não pertencem… E mesmo os que aqui nasceram, que não tenham o fortúnio de na sua constituição genética serem a coligação de locais irão com certeza ser desacreditados, rebaixados e muitas vezes vítimas de assédio por parte do “generoso” povo que os acolheu.

Esta situação não está confinada a países como Suíça ou EUA, em toda e qualquer nação a crença de uma superioridade, de uma consciência intitulada, de um sentimento de pertença que os mune de argumentos validados pelas suas sociedades culminam no desprezo por aqueles que não possuem uma carteira identitária que lhes atribuí uma nacionalidade, uma mera categoria que provida armamento de guerra social e psicológica contra quem procura futuro, estabilidade e apenas oportunidade de conseguir dar o melhor aos seus familiares.

A necessidade supera os abusos diários a que estas pessoas são sujeitas. E não quero com isto dizer que toda e qualquer experiência de emigração documentada seja feita nestes termos, antes pelo contrário. São histórias de sucesso, não económico, mas humano que me levam a ter esperança. O reconhecimento de uma pessoa relativamente a outro ser humano, que apesar de não ter em comum os sons que emite ao vocalizar as suas emoções, os seus desejos e necessidades, consegue compreender que perante ele está um igual. Um membro da mesma espécie, e ainda assim o desprezo da espécie humana por si mesmo, o desdém racial, o egoísmo cabal que lhes permite pensar apenas em si mesmos aperta a cerca da destruição dos mecanismos que ao longo de séculos da história da humanidade nos conferem as qualidades que nos destingem dos demais habitantes deste planeta. O nosso espírito comunitário, a capacidade de mover montanhas, erguer monumentos, realizar proezas que desafiam as nossas capacidades. Conseguimos neste século viajar milhares de quilómetros em meras horas, viagem essa feita acima da linha das nuvens, e ainda assim, apesar da distância, parece que confinamos as pessoas que abandonam as suas casas e rotulamos como Ícaros, sujeitos cujo sonho de poder conceder uma vida digna aos seus descendentes, é vista pelos que os acolhem como um desejo lunático de quem esteve demasiado perto do Sol…. Ao invés de destruir a esperança porque não conceber oportunidade, demonstrar a face da moeda qualitativa, e não quantitativa. Porque apesar de tudo, moedas são moedas, constituídas pelos mesmos materiais, após derretidos, são exactamente o mesmo. E no fundo, nós seres humanos somos exactamente o mesmo…

Crónica de Válter André dos Santos

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