Um programa dedicado ao silêncio cruzará áreas artísticas e do conhecimento em Lisboa

por Comunidade Cultura e Arte,    13 Fevereiro, 2020
Um programa dedicado ao silêncio cruzará áreas artísticas e do conhecimento em Lisboa
Tiago Sousa. Fotografia de Vera Marmelo
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As Coisas Fundadas no Silêncio é uma programação destinada a refletir sobre o tema do silêncio, que envolve a participação de intervenientes de várias disciplinas artísticas e das ciências naturais, sociais e humanas, e que se realiza de 3 de março a 31 de maio, em Lisboa.

Para abrir esta programação, realiza-se um ciclo de conferências, nos dias 3 e 4 de março na Culturgest, com o objetivo de refletir sobre o lugar do silêncio na atual era do ruído e que inclui oradores de áreas tão distintas como o cinema, o teatro, a literatura, a astrofísica, a música, a epistemologia do som, a filosofia ou a religião.

A artista plástica Susana Mendes Silva vai inaugurar no dia 9 de abril “Como silenciar uma poeta”, um trabalho que nasce a partir da obra da escritora portuguesa Judith Teixeira (1880-1959). Esta exposição vai estar patente na Sala Sonae do Museu Nacional de Arte Contemporânea até ao dia 31 de maio e inclui também duas performances e a leitura da conferência “De Mim”, que a poeta e novelista publicou em 1926.

Rui Catalão, dramaturgo, encenador e jornalista, vai orientar um workshop na Appleton Square nos dias 28 e 29 de março, com o intuito de desenvolver um conjunto de “exercícios de silêncio”, dedicados à observação e intercalados com a leitura de pequenos textos, cenas de filmes, reproduções de pinturas e temas musicais.

Já o coreógrafo brasileiro Gustavo Ciríaco e a atriz e cantora portuguesa Isabél Zuaa, vão apresentar a performance inédita Uma voz” no dia 24 de abril, às 21:00, na igreja anglicana de St. George. Pretende-se tomar esta igreja como um imenso instrumento a ser tocado pela voz de uma mulher, usando a sua acústica para a exploração sonora, levando o público num passeio pelos cheios e vazios de um espaço compartilhado.

No dia 7 de maio vai realizar-se uma visita à câmara anecóica do Instituto Superior Técnico de Lisboa, um espaço onde o isolamento sonoro é tão grande que o visitante consegue ouvir os seus próprios batimentos cardíacos. Até hoje, o máximo de tempo que uma pessoa conseguiu ficar numa câmara anecóica foi 45 minutos. Convidamos o público a vir perceber porquê.

O pianista Tiago Sousa vai estar em concerto no Museu da Música, no dia 16 de maio, um momento para ouvir alguns dos seus temas originais e as composições de Federico Mompou, Arvo Pärt (com a violoncelista Bruna Maia Moura) e John Cage, entre elas “4’33’’”, a célebre peça silenciosa que alterou a estrutura convencional da música.

No Cinema São Jorge, nos dias 25, 26 e 27 é programado um ciclo de seis filmes que se ligam ao tema desta iniciativa, entre eles “Land of Silence and Darkness” de Werner Herzog, “Berlin 10/90”, de Robert Kramer, “Two Cabins” de James Benning e “Vitalina Varela” do realizador português Pedro Costa. As sessões serão apresentadas por Nuno Lisboa, diretor do Doc’s Kingdom.

“Vitalina Varela”, de Pedro Costa

Para encerrar este programa, no dia 30 de maio, vai ser apresentada a performance inédita de Gonçalo Alegria “Jogo da bomba” na Galeria Monumental, onde dois artistas atravessam o espaço, transportando objetos sonoros, com o objetivo de serem o mais silenciosos possível. Esta é uma coreografia que procura resistir ao ambiente que ela própria gera e que conta com a performer Maria LaLande.

A pensar nos mais novos, na livraria Tigre de Papel vão decorrer três oficinas com Joana Saraiva, nos dias 11 e 18 de abril, para que as crianças possam refletir sobre o silêncio, com recurso a imagens, textos ou filmes.

Marta Rema, diretora artística deste programa, partiu de um verso de Sophia de Mello Breyner para dar nome ao projeto. Rema foi a vencedora da 3ª edição do Prémio de Curadoria Atelier-Museu Júlio Pomar/EGEAC com “Muitas vezes marquei encontro comigo próprio no ponto zero”, uma exposição que já abordava o tema e que convocava propostas visuais diversificadas. Nesta programação dá continuidade à sua inquietação com o silêncio na relação com o corpo, o tempo, a linguagem, a música, o cinema e as artes plásticas.

Todas as atividades têm entrada livre, à exceção do ciclo de cinema no Cinema São Jorge.

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