Ty Dolla $ign prolonga o verão com ‘Beach House 3’

por Sara Miguel Dias,    6 Dezembro, 2017
Ty Dolla $ign prolonga o verão com ‘Beach House 3’
Capa do disco
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Tyrone Griffin, aka Ty Dolla $ign, não poderia ter um nome mais genérico de rapper que aquele com que se apresenta. O que é curioso, dado Griffin não ser um rapper. O próprio se identifica como, mais que qualquer outra coisa, cantor, definindo o seu estilo como um hibrido de R&B com hip-hop.

Griffin tem um andamento já elevado. Sendo “Beach House 3” apenas o seu segundo álbum de estúdio, muitas são as mixtapes e EP’s por sí já disponibilizados, para além das incontáveis colaborações que tem feito. Ty escreve, canta e produz para diversos artistas – é frequente colaborador de Kanye West, com o qual fez, entre muitos outros hits, dois imprescindíveis singles de “The Life of Pablo”, “Fade” e “Real Friends” –, o que lhe trouxe reconhecimento para lançar os seus próprios projetos pessoais. Com “Or Nah” estabeleceu o seu próprio universo musical, com uma obscenidade lírica sedutora que lhe permitiu escalar aos tops musicais e de vendas, e em “Free TC”, o primeiro verdadeiro full leght, continuou a utilizar esse mesmo mundo, das mulheres, das drogas e do dinheiro, revelando ainda o seu ecleticismo enquanto produtor, saltando entre club hits, como “Saved”, ritmos acústicos que o permitem por em plano principal a sua rouca e envolvente voz, como “Solid”, e ainda a refinada orquestração de “Miricle/Whatever”.

Ty Dolla $ign com a sua Fender

 

Ora, em termos de receita, “Beach House 3” preserva a mesma que “Free TC”, mas com um tratamento mais cuidado: Ty pegou nos pontos fortes do anterior LP e afinou-os. Sendo multi-instrumentalista, talento que herdou do seu pai, Griffin incorpora mais do que nunca elementos que fazem deste um álbum de um som mais orgânico e fluido, e, por ter um ouvido especialmente refinado, recorre frequentemente à utilização de instrumentos orquestrais, sopros e violinos, particularmente nos interlúdios. Os interlúdios são neste compêndio nós cruciais de articulação, untando as transições de uns temas para outros, quando considerando que o artista é conhecido por acabar as músicas abruptamente. Todos são denominados “Famous …”, seguindo o mote introduzido pela primeira música do álbum, também do mesmo nome. Nela, apenas acompanhado de guitarra acústica, Griffin exibe os seus melhores atributos vocais, muito típicos do R&B contemporâneo, oscilando entre o flow arrastado e falsetes carregados de auto-tune.

Seguem-se os temas de vangloriarão (diga-se) “amorosa”, os singles “Love U Better”, com Grifin a comparar a suavidade das suas palavras com as de The-Dream, que também participa no tema e é conhecido pelos seus hits de R&B ousados e sexuais, e ”Ex”, com o colaborador de longa data YG, em que utiliza uma sample da arrojada “Only You” de 112 com Notorious B.I.G. e Ma$e. O interlúdio que se segue “Famous Excuses”, é um dos climaxes do álbum em termos de produção, e consegue tonalmente transformá-lo, passando das quentes melodias iniciais, para temas onde há predominância do kick sobre a melodia. “Droptop in the Rain”, que se inclui neste segundo grupo, destaca-se pela originalidade na composição da gíria vulgar e ordinária de “That pussy feels like / Droptop in the rain”, em que há um retorno aos tempos de “Or Nah”.

Em “Stare” e “So am I”, $ign mostra-se versátil estilisticamente adaptando-se aos seus colaboradores, Pharrell Williams e Damien Marley, respetivamente, para cada música. Na primeira, com uma sample da “Moments in Love” de Art Of Noise, a fase leviana até agora relatada começa a desaparecer, e em “So am I” e “Lil Favourite” a monogamia é a nova rainha. O espaço para os lamentos e arrependimentos surge no quarto final do álbum, com “In Your Phone”, que Ty partilha com Lauren Jauregui, única colaboração que não é uma feature. É, mais que um dueto, uma discussão, que termina tão rápido como se inicia, e que leva o artista a esmorecer progressivamente, até ao desabar emocional de “Message in a Bottle”, facilmente o melhor tema do álbum, e que faz desejar de Griffin um álbum de R&B, puro e simples. A sua voz emana tristeza, enquanto retrata a sua tentativa ébria de comunicar com a ex. O jogo de palavras do título e a fluidez narrativa realçam as qualidades de $ign enquanto escritor, motivo pelo qual é tão recorrentemente convidado por outros artistas à colaborar.

Ainda que o seu maior reconhecimento surja do trabalho que faz para e com outros, não se deve fechar os olhos ao esforço individual de Ty Dolla $ign, cujas músicas curtas, lascivas e bem produzidas radiam entre a ostentação juvenil e a dor do amadurecimento.

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