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“Tomb”, de Angelo De Augustine: o amor morto nunca foi tão belo

por João Diogo Nunes
11 Fevereiro, 2019
em Críticas, Música
“Tomb”, de Angelo De Augustine: o amor morto nunca foi tão belo

Capa do disco

Em Tomb, Angelo De Augustine vem decidido em desenterrar mágoas de amores pretéritos e amarguras de uma relação paternal conturbada e em mostrá-las, fossilizadas no âmbar da sua voz, como artefactos de uma beleza infinda. O mais recente álbum do artista de Los Angeles é uma obra de uma sensibilidade sublime que patina nos rinques do tempo havido sem medo algum de cair. Por isso mesmo, ouve-se um pedacinho da alma de Sufjan Stevens, o que é normal, tendo o álbum o cunho da editora do músico de Detroit e sendo frequentes as colaborações entre os dois artistas.

A lista de músicas abre com a homónima “Tomb”, uma composição marcante. A melodia da guitarra pica-nos repetidamente e o piano leva-nos de arrasto até à voz deleitosa, que tranca cada uma das sílabas na harmonia instrumental do jeito mais envolvente possível — é uma opção adequada para primeira faixa. Esmorece a canção inicial e segue-se “All to the Wind”, onde a alegria se cruza com o melodrama através das teclas; tons pesados tocados em velocidade pintam uma faixa que faz bom seguimento à anterior, mas que alcança pouco mais e tem dificuldades na evolução. “You Needed Love, I Needed You” apresenta-nos um rima prodigiosa e as suas cordas erráticas traçam um perfil altamente acústico que só se deixa interromper pelas paisagens sonoras leves e pelo piano indelével. A letra, muito concreta, lista objetos e elementos naturais que contrastam com o refrão, vazio de palpabilidade, que com a sua rima, a única na letra, confere um poder enorme à canção.

Angelo De Augustine

Antes de nos deixarmos embalar, surge “I Could Be Wrong”: uma batida digital que vem inesperada no álbum e emparelhada com uma construção minimalista. O refrão é insistente e a dicção é genial, ela força cacofonias falsas e garante uma identidade infinita, mas é só isso que de facto sobressai. A duração parece ser um pouco extensa para a tipologia do som. Funciona bem na lista porque nos desprepara para as guitarras serenas que regressam logo a seguir na abertura marcante de “Tide”, nesta, a guitarra e o piano são tão vívidos quanto a voz do artista. Pelos três minutos dos cinco totais, a canção muda para um tom mais embalador, uma ponte para o regresso da melodia vocal inaugural com uma pitada extra de alento. Ainda assim, o ritmo de canto irregular não resulta tão bem desta vez.

“Kaitlin” é uma canção de registo simples, clássica em toda a sua sonoridade e tem dificuldades em marcar o ouvinte, já que está ensanduichada por duas faixas fulcrais. Chegamos a “Time”, o single sonante com um assobio que se cola ao ouvido. Não se entrega de imediato e tem uma musicalidade belíssima e uma letra basilar na narrativa geral — é uma âncora no meio do álbum e uma peça de gabarito. Mas o que pôr depois do sucesso de “Time”? “Somewhere Far Away from Home” responde à questão com uma percussão digital deitada no fundo, naquela que parece ser uma versão mais lenta de “Forever Young” em certas partes. Entretanto, o espaço entre o narrador e a sua amada continua a dilatar-se.

“Wanderer” é mesmo isso, a voz doce e colocada de Angelo vagueia pelo meio das cordas que sopram como a brisa de um deserto primaveril (como quando chove no Atacama) onde as primeiras flores espreitam sob a forma das notas do piano. O autor está perdido na ressaca do amor e limita-se a desejar o melhor à correspondente da mensagem. Há ainda uma viragem temática que nos faz antever o final da narrativa. “A Good Man’s Light” inicia-se timidamente e vai ganhando força com as pequenas pausas que aparecem mais tarde. A auto-estima do narrador começa a renascer. Juntamente com a anterior, é uma faixa de lírica importante, a mais comunicativa do pacote, pode-se até dizer.

Em “Bird Has Flown” recua-se ainda mais no tempo para se ouvir falar da relação familiar do narrador aquando da partida do pai. Parece igual a tudo o que já ouvimos até aqui, passa despercebida na ordenação, ainda que tenha um tratamento vocal único. “All Your Life” é sensível e forte e aborda o suicídio numa tentativa de equilibrar a catarse. Acaba bem o álbum com a sensação de repouso que tem, porém, o refrão parece desprendido do resto — mais originalidade ajudaria na marcação mais definida da identidade da música final. Ainda assim, é das faixas mais deliciosas do conjunto. A história chega ao fim.

Este é um disco que pretende captar a revisitação das emoções enterradas. O amor sumido, as forqueaduras do arrependimento e o custo da honestidade são a matéria-prima de Angelo. Estes sentimentos mortos são sepultados em todos nós ao longo da vida e desenterrá-los é um processo doloroso, mas que pode ser transformado em algo belo, culminando numa meditação sobre o ondulante manto do tempo, que é excelsamente emulado pela sonoridade do artista.

Tomb é pacífico, caloroso, acolhedor. A abordagem vocal de De Augustine pega nos estilhaços de um coração partido com a confiança funcional de um homem das limpezas. Cada palavra é pronunciada com uma melifluidade sonora e rítmica apaixonante. Angelo beneficia imenso da sua voz, mas a sua interpretação não deixa de ser incrível, já que as alterações de tom e mesmo as aberturas confiantes das vogais são inevitavelmente tocantes. A tumba de De Augustine é um álbum sentido e desgastante em emoções escondido por detrás de um som amistoso e quente que dificilmente desilude quem se revê nesses adjetivos.

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Tags: Angelo De AugustineTomb

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