Comunidade Cultura e Arte
No Result
View All Result
  • CINEMA
  • TV
  • MÚSICA
  • LIVROS
  • ARTES
  • SOCIEDADE
  • ENTREVISTAS
  • OPINIÃO
    • CRÍTICAS
    • CRÓNICAS
  • CINEMA
  • TV
  • MÚSICA
  • LIVROS
  • ARTES
  • SOCIEDADE
  • ENTREVISTAS
  • OPINIÃO
    • CRÍTICAS
    • CRÓNICAS
No Result
View All Result
Comunidade Cultura e Arte
No Result
View All Result

Tomás da Fonseca: a biografia do Missionário do Povo

por Bernardo Crastes
11 Janeiro, 2018
em Críticas, Livros
Tomás da Fonseca: a biografia do Missionário do Povo

A vida de Tomás da Fonseca atravessou dez décadas idiossincráticas da História de Portugal – entre 1877 e 1968 – plenas de tumulto social e mudança, na qual o mesmo teve uma participação considerável, quer no derrube da Monarquia Constitucional vigente, na manutenção da conturbada Primeira República ou na oposição à Ditadura Militar e Estado Novo. No entanto, o seu contributo acaba por ser ofuscado por contemporâneos mais reconhecidos, e o seu legado confinou-se à modesta povoação de Mortágua, família e amigos próximos de Tomás da Fonseca. Competiu à editora Antígona resgatar a vida do pedagogo, escritor, político e filósofo, da obscuridade. Após a edição de Na Cova dos Leões – Cartas ao Cardeal Cerejeira (prefaciada por Luís Filipe Torgal), surge agora a primeira biografia extensiva desta determinante personalidade do virar do século XX, assinada também por Torgal.

O estilo de escrita do biógrafo é detalhado e de vocabulário rico, sem ser demasiado clínico, e o fio condutor que encontrou para contar uma história de vida tão cheia torna o livro fluido. A divisão do livro em cinco capítulos bastante abrangentes – sendo eles Raízes, Religião, República, Educação e Oposição – para além de resultar numa cronologia bem construída, permite sobreposições de períodos em cada capítulo que repisam eventos importantes da sua vida mais que uma vez, consolidando bem a história do biografado. De tempos a tempos, enumerações de termos resumem correntes de pensamento ou fases da História, dando-nos oportunidade para organizar os conhecimentos adquiridos em caixinhas. Para quem nunca se aventurou em biografias, esta não mete medo e é genuinamente enriquecedora.

A temática anticlericalista, anticatolicista e, principalmente, antifatimista, explorada na compilação de cartas escritas por Tomás da Fonseca ao então Cardeal Patriarca de Lisboa, Manuel Cerejeira, Na Cova dos Leões, é aqui revisitada e, acima de tudo, contextualizada pela passagem de dez anos pelo Seminário Episcopal de Coimbra, que moldou bastante a forma de pensar do biografado. O “segundo filho varão, o mais idóneo para dar continuidade à tradição familiar de abraçar uma carreira eclesiástica” acabará por abandonar o curso de Teologia em 1903, mesmo no final do mesmo. As desilusões vividas ao longo desses dez anos concentraram a sua revolta numa escrita panfletária, que ataca repetida e implacavelmente a hipócrita religião católica e seu clero. No entanto, esses ataques não são despiciendos, tendo em conta a educação episcopal obtida no seminário, que o muniu de argumentos e histórias inabaláveis na desconstrução do discurso católico oficial.

Tomás da Fonseca na biblioteca da sua casa de Mortágua, década de 50

Esta viragem de rumo – pautada pela leitura de textos de pensadores como Kropotkine, Élisée Reclus ou Proudhon – levou-o “de ex-seminarista acolitado e celibatário a livre-pensador, rumo ao cepticismo, ao racionalismo, ao cientificismo, ao laicismo, ao ateísmo, à revolta anticlerical, ao matrimónio” (um exemplo das enumerações de Luís Filipe Torgal mencionadas anteriormente). Isto aproximou-o dos valores republicanos de matizes socialistas, propulsionando a sua luta pela conversão republicana de uma sociedade cada vez mais desimpressionada com a Monarquia Constitucional em vigor. Rodeou-se de personalidades ideologicamente símiles, redigiu manifestos, participou activamente em comícios e palestras com a sua “retórica clara, didáctica, arrebatada, profética, prenhe de convicções socialistas”, até que a “messiânica revolução republicana” se deu. No Governo da Primeira República, desempenhou funções executivas de chefe de gabinete do Ministro do Fomento – uma experiência fugaz e desapontante – e funções parlamentares de deputado da Assembleia Constituinte e, posteriormente, senador; onde lutou pelas causas que sempre guiaram a sua vida: a questão religiosa e a educação.

A educação é discutivelmente a área a que Tomás da Fonseca dedicou mais esforços, por acreditar “que seria ela a resgatar o povo da miséria, da insipiência e da menoridade cívica”. Ao longo do seu envolvimento no projecto das Escolas Móveis de Casimiro Freire ou nas Universidades Livres, a sua passagem pelo cargo de Director da Escola Normal de Lisboa – a qual, sob a sua alçada, sofreu a fusão das escolas feminina e masculina – e nomeação como professor da Escola do Magistério de Coimbra; viu as suas tentativas de reestruturação educativa goradas, quer por influências políticas ou tumultuoso ambiente social que se vivia, quer pela sua personalidade tolerante, paternal e bem-intencionada – abordagem defendida por si, mas mal vista numa altura em que a educação se esperava mais severa e disciplinante. No entanto, como escreve Torgal:

A sua defesa militante de uma escola primária pública obrigatória e gratuita, humanista, declaradamente laicista, racionalista, mista e interclassista, capaz de alfabetizar, educar, instruir, civilizar e libertar, simultaneamente, todas as crianças de ambos os sexos, provenientes de todos os grupos sociais, residentes nos lugares mais ou menos recônditos do país, fez dele um dos mais progressistas pedagogos nacionais da sua época.

O primeiro subcapítulo deste quarto capítulo (Educação) fecha com o traçar do fecho da Universidade Livre de Coimbra pelo Estado Novo, numa análise tão clínica que chega a inspirar tristeza. A História é assim, mas a resignação com esse ciclo fechado ainda custa a engolir.

Ilustrações de Tomás da Fonseca, por Octávio Sérgio

É sob o fantasma do Estado Novo que o capítulo final (Oposição) fecha o livro, sendo a maioria da bibliografia do mesmo proveniente de relatórios da PIDE. Até o funeral de Tomás da Fonseca é contado maioritariamente pelos olhos dos oficiais apontados para assistir à cerimónia e registar os seus acontecimentos. A censura foi implacável com o escritor de Mortágua, cujas ideologias eram diametralmente opostas às do regime, sofrendo perseguições repetidamente por parte da PIDE. Ainda assim, e apesar da sua idade já avançada, foi continuando a tentar publicar os seus textos mais e mais cáusticos, nunca se deixando abater ou conformar. Este segmento da sua biografia é ainda pontuado por colaborações mais orgânicas, como a de seu neto, Henrique Salles da Fonseca, que nos conta o seguinte formidável episódio:

Sempre que à porta lhe tocava alguém que ele não conhecia e se apresentava com certa marcialidade, o meu avó, Tomás da Fonseca, dizia com bonomia para a minha avó, Clotilde: – Ó Tilde, faz a mala! Mandava entrar os “cavalheiros” e esperava que a minha avó trouxesse a mala para ele levar para a estadia no “hotel” que, gratuitamente, a PIDE lhe disponibilizava.

Com uma bibliografia rica, variada e complexa, Luís Filipe Torgal delineia maravilhosamente o percurso da vida de Tomás da Fonseca desde o nascimento até ao seu funeral, analisando ainda o seu legado. Ao longo da biografia, uma pessoa não consegue deixar de encarar Tomás como um parente distante, pela forma familiar como a sua história é contada, abrindo janelas para a sua personalidade, sem ser uma mera listagem de eventos ou factos. O Missionário do Povo – epíteto que lhe foi atribuído por Guerra Junqueiro – já merecia uma obra assim.

Imagens retiradas do livro “Tomás da Fonseca – Missionário do Povo”.

Se quiseres ajudar a Comunidade Cultura e Arte, para que seja um projecto profissional e de referência, podes apoiar aqui.


Deixa o teu comentário, aqui:

Tags: AntígonabiografiahistórialiteraturalivroLuís Filipe TorgalTomás da Fonseca

Artigos Relacionados

A Generación de 27 na Espanha de Franco: de García Lorca até à actualidade

A Generación de 27 na Espanha de Franco: de García Lorca até à actualidade

por Lucas Brandão
16 Fevereiro, 2021
0

Na década de 1920, surgia um movimento literário e artístico que repensava os valores sociais, culturais e artísticos de um...

Marta Nunes ilustra a Pandemia em livro: “uma espécie de manual ilustrado de sobrevivência”

Marta Nunes ilustra a Pandemia em livro: “uma espécie de manual ilustrado de sobrevivência”

por Redacção
30 Novembro, 2020
0

A ilustradora Marta Nunes, que também colabora com a Comunidade Cultura e Arte, quis fazer um exercício diário com "aquilo...

Entrevista. Arlindo Oliveira: “A Inteligência Artificial não é uma tecnologia que se possa controlar”

Entrevista. Rui Tavares: “Esquerda e direita faz cada vez mais sentido. É a grande divisão política no mundo”

por Luís Grilo
13 Novembro, 2020
0

Nota prévia: Entrevistámos o historiador e político Rui Tavares no passado dia 22 de outubro, em Lisboa. A História e...

As obras e o legado de Mary Wollstonecraft

As obras e o legado de Mary Wollstonecraft

por Lucas Brandão
12 Novembro, 2020
0

Quando se aborda o feminismo como uma causa e como um movimento temos de ir às raízes. Essas raízes apontam...

A turbulência vivida e sentida por Sylvia Plath

A turbulência vivida e sentida por Sylvia Plath

por Lucas Brandão
27 Outubro, 2020
0

Pese embora as dificuldades emocionais e mentais com as quais se deparou, Sylvia Plath afirmou-se como um dos grandes nomes...

“História Global de Portugal”. 90 historiadores criam livro sobre a história de Portugal, desde a pré-história até ao séc. XXI

“História Global de Portugal”. 90 historiadores criam livro sobre a história de Portugal, desde a pré-história até ao séc. XXI

por Redacção
22 Outubro, 2020
0

José Pedro Paiva, José Eduardo Franco e Carlos Fiolhais dirigem uma obra pioneira da historiografia portuguesa, que teve a participação...

Assina a nossa Newsletter

Recebe em primeira mão, todas as novidades da Comunidade Cultura e Arte

Os mais Populares

17 filmes e uma série para veres na RTP nos próximos dias

17 filmes e uma série para veres na RTP nos próximos dias

2 Fevereiro, 2021
“Culto”. A série portuguesa que vai dar poesia às redes sociais e RTP

“Culto”. A série portuguesa que vai dar poesia às redes sociais e RTP

8 Fevereiro, 2021
Já se conhecem todos os vencedores dos Globos de Ouro 2020

Já se conhecem os vencedores dos Globos de Ouro 2021

1 Março, 2021
Já se conhecem todos os nomeados para os Globos de Ouro 2021

Já se conhecem todos os nomeados para os Globos de Ouro 2021

3 Fevereiro, 2021

Sobre a Comunidade Cultura e Arte

A Comunidade Cultura e Arte tem como principal missão popularizar e homenagear a Cultura e a Arte em todas as suas vertentes.

A Comunidade Cultura e Arte procura informação actual, rigorosa, isenta, independente de poderes políticos ou particulares, e com orientação criativa para os leitores.

ver mais

Segue-nos no Facebook

Segue-nos no Instagram

Seguir

  • 2.5k
    Circula um documento falso com um suposto plano de desconfinamento do Governo Portugue  s     Pela desinformac  a  o e falsas expectativas que pode gerar  com o inerente risco para a sau  de pu  blica  esta falsificac  a  o sera   objecto de comunicac  a  o ao Ministe  rio Pu  blico      pode ler-se no site oficial do Governo
  • 269
    Vamos aprender ou melhorar o nosso italiano   As inscric  o  es para os pro  ximos cursos do Instituto Italiano de Cultura de Lisboa esta  o a terminar  E ha   soluc  o  es para todos os ni  veis de conhecimento        Inscric  o  es ate   26 2 - aqui  https   iiclisbona esteri it iic lisbona pt imparare italiano i corsi di lingua come e quando iscriversi   iiclisbona  institutoitalianocca
  • 381
    Estreia exclusiva   PAPERCUTZ anunciam novo EP e lanc  am dois singles  Para 2021  os  PAPERCUTZ prepararam um novo EP  de nome    So Far So Fading     que alude ao estado impermanente e efe  mero de dias decorridos  O EP reu  ne novos arranjos de canc  o  es das diversas edic  o  es do projeto e composic  o  es originais com convidados     como o orquestrador Bruno Pinto Ferreira e um quarteto de cordas  Maree Lawn  mema   Sofia Marques   Evaya  Beatriz Bronze  e Meta  Mariana Bragada        Ouve no nosso site      Pedro MKK
  • 3k
    Aleato  rias memo  rias de acesso imediato  Os Daft Punk anunciaram o seu fim ha   dois dias  Agora  o Miguel de Almeida Santos revisita as suas memo  rias com o duo com numa curta cro  nica  Quais sa  o as vossas memo  rias com os Daft Punk       Le   no nosso site     David Black
  • 4.5k
    Document  rio    Liv   Ingmar     2012   do realizador Dheeraj Akolkar
  • 357
    1    encontro   LGBTQIA  Guia de Boas Pra  ticas Jornali  sticas        Se tiveres interesse disponibilidade inscreve-te pelo link das nossas stories
  • 1.2k
    Liliana Tome    investigadora da NOVA  distinguida com Medalha de Honra L   Ore  al Portugal para Mulheres na Cie  ncia  A investigadora foi distinguida com um pre  mio de 15 mil euros que visa apoia  -la na sua investigac  a  o na a  rea do ambiente       Sabe mais no nosso site
  • 2k
       Luca     novo filme da Pixar  estreia no ver  o de 2021      Sabe mais no nosso site
  • Sobre a CCA
  • Privacidade & Cookies
  • Apoiantes
  • Parceiros
  • Fala Connosco Aqui

CCA 2019 © Todos os direitos são reservados.

No Result
View All Result
  • CINEMA
  • TV
  • MÚSICA
  • LIVROS
  • ARTES
  • SOCIEDADE
  • ENTREVISTAS
  • OPINIÃO
    • CRÍTICAS
    • CRÓNICAS

CCA 2019 © Todos os direitos são reservados.