‘The Visitor’: um álbum que mantém Neil Young fiel a si mesmo

por José Malta,    6 Dezembro, 2017
‘The Visitor’: um álbum que mantém Neil Young fiel a si mesmo
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O mês de Dezembro foi inaugurado pelo segundo álbum de 2017 de Neil Young. Depois de Hitchhiker, um trabalho lançado em Setembro e que recupera algum do material de 1976 nunca antes reportado, chega então The Visitor, um álbum de originais gravado este ano e lançado quase no seu desfecho. Trata-se também do segundo álbum do músico gravado com a banda Promise of The Real, sendo que o primeiro fora The Monsanto Years lançado em 2015 e que teve uma recepção bastante positiva por parte da crítica. A vasta carreira musical de Neil Young permitiu-lhe trabalhar com diferentes bandas sendo a mais conhecida os Crazy Horse, que lhe conferiu os seus maiores sucessos musicais. No entanto, a aposta renovada nos Promise of The Real é a prova de que, mais do que a idade ser apenas e só um número, Neil Young continua fiel ao seu estilo musical único, apostando também em bandas mais jovens que permitam fazer o uso do seu apelido na vida real. Com 72 anos acabados de completar no passado mês de Novembro, Neil Young termina assim o ano em grande com o seu trigésimo nono álbum e sempre com o mesmo espírito e energia que o caracterizam como músico e como ser humano.

Não será por acaso que a primeira faixa, intitulada por Already Great, mostre tais características. Logo nos primeiros versos proclamados pela sua emblemática voz acompanhada pela guitarra eléctrica , apercebemo-nos de que estamos perante uma canção muito própria do músico canadiano: “I’m canadian by the way / And I love the U.S.A”. No entanto à medida que a letra flui pelas cordas e os instrumentos que o acompanham, damos conta de que se trata de uma forte crítica à agressiva e asquerosa campanha de Donald Trump para as eleições presidenciais de 2016. Os versos de protesto que proclamam constantemente “No Wall, No ban, No fascist USA” e o término da canção que conta com a repetição constante pela voz de Neil Young dos versos “Whose streets? Our streets” demonstram uma posição de protesto deste músico que, apesar de canadiano, adora o melhor que há nos Estados Unidos excepto, claro está, o actual presidente. Segue-se Fly By The Night, uma melodia com uma precursão mais acelerada mas que mostra o estilo do country rock trabalhado por Neil Young, numa espécie de diálogo interpretado pelo músico e pelos vocais de fundo que acompanham a canção, terminando com um solo de guitarra ao seu estilo confundível. Almost Always trata-se de uma balada que se inicia com a harmónica estridente que tende a aparecer em diversas partes da canção que envolve um registo mais doce da voz do músico canadiano, passando para Stand Tall, uma canção mais agressiva que exibe o rock numa faixa em que mais uma vez Neil Young mostra que consegue ser ele mesmo trabalhando com músicos e bandas com diferentes reportórios.

Segue-se Charge of a Heart, outra balada ao estilo do músico canadiano, envolvida num conjunto de instrumentos bastante melódicos e pelos assobios suaves que surgem na canção. Já Carnival, sexta faixa do álbum, é uma canção com um misto de estilos musicais envolvidos. Como o próprio nome indica, a canção faz uma alusão a um ambiente carnavalesco não só pelos diferentes registos que surgem no decorrer da melodia e das gargalhadas constantes mas também pela letra que relata um espectáculo remetendo-nos para um ambiente idêntico ao de um circo. Depois de todo este ambiente festivo chegamos a Digging in a Hole, uma canção com um compasso semelhante a uma melodia de blues. Já Children of The Destiny, single lançado em Junho deste ano, trata-se de uma espécie de canção patriótica americana que faz alusão às crianças que serão no futuro o destino do mundo, passando também uma mensagem de esperança às gerações vindouras. O blues surge novamente em When Bad got Good, onde Neil Young conta com um coro e um piano incansáveis durante esta canção de apenas dois minutos. Por fim, chegamos à décima e última faixa intitulada por Forever, com dez minutos recheados do lado mais doce das baladas de Neil Young, sendo esta a mais longa melodia do álbum. A letra reflecte um pouco sobre o que há de mais belo no mundo, beleza essa que se encontra facilmente na natureza, nos seres vivos, nas paisagens, longe do lado mais negro do ser humano. É repetida várias vezes a frase “Earth is like a church”, onde Neil Young faz uma alusão harmoniosa ao mundo que nos rodeia

The Visitor é um álbum que mostra que Neil Young se encontra enérgico e fiel ao seu estilo trovador que lhe confere a identidade de músico. Com uma carreira musical notável que começou ainda nos Buffalo Springfield e que prossegue numa invejável carreira a solo na qual cometeu riscos ao trabalhar com diferentes bandas mas que conseguiu sempre superar as espectativas, Neil Young demonstra assim o desejo de não querer ficar por aqui. The Visitor é assim um álbum à Neil Young que conta com registos interessantes e que mostra mais uma vez o seu lado mais puro. Músico genuíno, compositor virtuoso, activista incansável, orgulhoso canadiano com uma paixão pelo que de mais poético há no mundo, o ano de 2017 termina assim com mais um álbum de originais deste que é já uma lenda da música rock country. É caso para deixar no ar uma pergunta que se torna quase óbvia: Mestre Neil, teremos o quadragésimo álbum de originais já em 2018?

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