‘The Favourite’, de Yorgos Lanthimos, é um retrato da luta pelo poder no feminino

por Paulo Portugal,    30 Agosto, 2018
‘The Favourite’, de Yorgos Lanthimos, é um retrato da luta pelo poder no feminino
“The Favourite” de Yorgos Lanthimos
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O trabalho de programação de um festival passa também pela forma como os filmes são apresentados. No caso de The Favourite, do grego Yorgos Lanthimos, e Roma, do mexicano Alfonso Cuarón, torna-se claro que existiram razões para se verem em conjunto. Desde logo por serem dois registos fortíssimos que celebram o feminino. Mesmo sem terem de agitar a bandeira do MeToo. Mas também, já agora, por abordarem de uma forma bem diversa a diferença de classes: de um lado, duas mulheres oportunistas (interpretadas por Emma Stone e Rachel Weisz) procuram cair nas boas graças da rainha Anna, a monarca britânica que ocupava o trono naquele início do século XVIII; do outro, a relação particular entre uma mãe mexicana (Marina de Tavira) e a sua empregada Claro (Yalitza Aparicio). Em suma, dois belos filmes a confirmar o alto nível da selecção de filmes em concurso para o Leão de Ouro.

“The Favourite” de Yorgos Lanthimos

Comecemos por The Favourite, com Lanthimos a prolongar a sua carreira internacional, desta vez com um muito particular filme de época sobre alguns tiques da monarquia britânica e a forma, por vezes tão caricata, como lida com o poder. De resto, fá-lo com a mesma atitude de cinema extremado que nos habituou no passado e, talvez, no seu melhor filme desde Canino. O cineasta grego começa por desvirtuar por completo o estilo do filme de época, pelo uso de uma câmara muito móvel, e pelo uso de lentes que deformam a imagem, num efeito semelhante ao ‘olho de peixe’.

The Favourite é um setting de absolutismo barroco dominado pela rainha e por estas duas mulheres, em que os homens ficam reduzidos a pajens e fidalgotes sem estofo para elas.

O que temos é um verdadeiro power struggle, no feminino, e apenas em pano de fundo uma corte preocupada com uma guerra eterna com os franceses. No entanto, a Anne interessa mais os seus 17 coelhos e o afecto de Lady Sarah (Rachel Weisz) e depois também pela jovem Abigail (Emma Stone) que soube trepar pela escada social.

“It’s fun to be the Queen, sometimes”, dirá Anne (Olivia Colman, que será a Rainha Isabel II na 3.º série The Crown, prevista para 2019).

Poder-se-á talvez dizer que The Favourite tem algo que soa a Peter Greenaway, não só no lado excessivo, mas também pelo requinte cénico e de mise em scène. Dito isto, em nada desmerece o filme, seguramente o favorito de muitos.Artigo escrito por Paulo Portugal, em parceria com Insider.pt

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