Terceira temporada de “True Detective” com sucesso da fórmula original

por João Fernandes,    17 Março, 2019
Terceira temporada de “True Detective” com sucesso da fórmula original
Terceira temporada de “True Detective”
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Em 2014 o canal HBO lançou a primeira temporada de True Detective. A série destacou-se do resto ao ter uma dupla invulgar de detetives com uma história envolvente e repleta de mistério a partir de um clima sombrio e pessimista. Essa temporada superou as expectativas de todos, tornando-se num marco televisivo para o género de drama criminal. Enquanto em 2015 a segunda temporada, numa forma geral, foi uma desilusão, que quase resultou no cancelamento do franchising. Felizmente, como o ditado diz, “o tempo cura tudo” e 4 anos depois, a série mais pessimista sobre detectives está de volta. O criador Nic Pizzolatto aprendeu a lição a partir dos sucessos da primeira temporada e dos fracassos da segunda, criando mais uma vez uma história intensa e cativante.

Esta terceira temporada volta à fórmula de sucesso com diferentes linhas temporais. A primeira linha é em 1980 em Arkansas, Will e Julie Purchell, duas crianças saem de casa para um passeio de bicicleta e nunca mais voltam. O pai, Tom Purcell (Scoot McNairy), liga para a polícia e relata o desaparecimento. A investigação do caso fica a cargo de Wayne Hays (Mahershala Ali) e do parceiro dele, Roland West (Stephen Dorff).

A segunda é em 1990, onde os ex-parceiros Hays e West tomaram rumos diferentes na vida e na carreira, mas se voltam a juntar quando surge uma nova pista sobre o caso de 1980. Já a terceira é em 2015, e Wayne Hays é já um homem velho, com demência, que é ocasionalmente entrevistado por uma equipa televisiva (que analisa casos famosos não resolvidos), para falar sobre o caso de 1980, com o objetivo de fechar de vez este capítulo trágico.

Como o Rust Cohle dizia, “time is a flat circle”. Estas três linhas temporais funcionam de uma forma bastante orgânica e até poética que acaba por enriquecer o mistério e o drama mostrando aos poucos o que aconteceu na investigação. Mais uma vez, esta fórmula funciona muito bem devido ao elenco de luxo, a começar com o protagonista. Mahershala Ali (vencedor de dois Óscares pelos filmes Moonlight e Green Book) mostra de novo a sua flexibilidade como actor ao criar três versões da mesma personagem, sendo a mais velha a melhor. O desempenho do Ali brilha com pequenos pormenores como a sua postura, a maneira como anda ou fala. As mudanças vendem a ideia que realmente se trata de um idoso. Stephen Dorff também não fica nada atrás, fazendo um óptimo papel como parceiro do Wayne, sendo muitas vezes a voz da razão nas suas jornadas.

Terceira temporada de “True Detective”

Depois, temos a mulher de Wayne, Amelia (Carmen Ejogo) que surge como uma carta fora do baralho. é uma personagem complexa que além de ser par romântico do protagonista também tem um papel importante na historia. Amelia desenvolve uma linha paralela de investigação ao escrever uma série de livros sobre o caso. O primeiro livro tem um impacto acentuado na vida de Wayne, no seu relacionamento amoroso e até na própria investigação. A personagem de Carmen é interessante, principalmente por ser difícil de decifrar as suas motivações, que nunca são respondidas na totalidade, e certas atitudes que fazem com que a olhemos com desconfiança.

O argumento foca-se sobretudo neste trio de personagens e nas suas relações, sendo Ali o centro delas. A investigação do caso acaba por ser um mecanismo narrativo para fazer a história avançar. Desta maneira, vemos os detetives obcecados em descobrir a verdade, cometendo erros atrás de erros, seguindo falsas pistas, falsos suspeitos, afectando drasticamente as suas vidas e as vidas dos sujeitos ao seu arredor.

Outro aspeto positivo nesta temporada é a imprevisibilidade do enredo. Nunca conseguimos ter uma imagem clara de como isto vai acabar ao juntar as peças que nos são dadas. Somos enganados ao mesmo tempo que os detectives.

Por fim, a terceira temporada de True Detective conta uma história realista pelos olhos dos detectives, que não se foca realmente no caso em questão, mas sim nas pessoas envolvidas nele. Apesar de à primeira vista parecer uma espécie de imitação da primeira temporada, o argumento toma rumos diferentes e usa sim a familiaridade da primeira para nos apanhar em contrapé.

Crítica escrita por João Fernandes

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