Somos todos Mutantes

por João Estróia Vieira,    12 Março, 2017
Somos todos Mutantes
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‘Os Mutantes’, realizado por Teresa Villaverde, vencedora de um prémio de realização com este filme no Seattle International Film Festival. em 1998, e que fez parte da Selecção Oficial de Cannes Un Certain Regard, é uma obra-prima do cinema português que o marcou de forma indelével até aos dias de hoje. Nesta peça de realismo seguimos a vida de ‘Andreia’, ‘Pedro’ e ‘Ricardo’, três adolescentes para quem a vida não reservou facilitismos, a vida “esqueceu-se” deles e deixou-os na rua para uma liberdade enganadora.

De planos aproximados sobre rostos carregados com o peso da existência em tão tenra idade, este é um filme em que as personagens funcionam como motor da narrativa pelas suas histórias, caminhadas, fugas, retornos e luta. Grande parte dos actores principais como Pedro (o nosso já conhecido Alexandre Pinto, actor principal da curta ‘Respirar (Debaixo D’água)’ de António Ferreira) era até então residente numa destas instituições de reinserção social que nos são mostradas neste filme. Longe de ser acidental, o realismo desta obra leva-nos a questionar se não se trata efectivamente de um documentário que era, inclusive, a primeira opção da realizadora quando pensou em retratar a vida dos adolescentes nestas instituições.

Além de Alexandre Pinto temos ainda Nelson Varela, o pequeno ‘Ricardo’ que não tem direito a sorrir, a descansar, a ser jovem. Há ainda que destacar o brilhante papel de Ana Moreira (que viria de resto a trabalhar novamente com Teresa Villaverde anos mais tarde em “Transe” onde foi, tal como aqui, protagonista) que transporta o sofrimento, fragilidade e angústia de forma particularmente tocante. Ana que foi de resto premiada como melhor actriz no Bastia Mediterranean Film Festival e no Taormina International Film Festival.

Adultos cedo demais, estes três jovens que acompanhamos ao longo do filme são os nossos “mutantes”por se recusarem a aceitar as coisas como a vida lhes impõe, por serem corpos estranhos no mundo que os rodeia.
Visualmente agressivo (duro e crú, em particular salientamos uma cena de aborto), negro, incómodo, longe de finais felizes, longe de estética ou de uma Hollywoodização, é essa distância de tudo isto que torna este filme numa das mais belas obras de arte que o cinema português nos trouxe até hoje.

Recentemente a RTP disponibilizou no seu arquivo digital uma conversa entre dois dos protagonistas, do filme de Teresa Villaverde: Ana Moreira e Alexandre Pinto. Podes ver tudo aqui.

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