Sean Yoro, o graffiter que pinta em cima duma prancha de surf

por Pedro Fernandes,    2 Abril, 2018
Sean Yoro, o graffiter que pinta em cima duma prancha de surf
PUB

Sean Yoro, de nome artístico “Hula”, actualmente em Nova York, cresceu no Hawai e descobriu a sua paixão pelos graffitis e tatuagens por volta dos 20 anos. Sempre gostou de surfar e de explorar lugares escondidos. Com a sua arte dos grafitis, pode devolver emoção e simbolismo a alguns destes lugares. A água faz parte das suas obras, não são meros desenhos que se podiam exibir em isolado. Uma história de amor entre o surf e os graffitis.

Desde 2015, quando entrou no mundo da arte urbana, que pinta quase sempre mulheres, são elas as protagonistas. Acredita que a mulher combina melhor com a natureza. Em entrevista ao Traveler.es explicou que “em diferentes culturas e mitos, considera-se que a natureza é feminina. Para além disso, creio que alguns dos lugares que encontro são misteriosos e incluir uma personagem feminina produz sempre emoções únicas às obras”.  As marcas que podemos ver em algumas delas, inspiradas pelas tatoos tribais, representam as cicatrizes que a vida nos dá. Não obstante, pensa que as cicatrizes para além de beleza, representam o que nós somos.

É um autodidacta que procura usar tinta não tóxica e biodegradável, que desaparece com o tempo. Trabalha sobretudo em lugares abandonados e submergidos por água, com o objectivo de lhes devolver vida. As suas obras têm uma mensagem ecológica e de alerta global de preservação do planeta. Como costuma pintar perto do nível médio das águas, quando a maré sobe, as suas pinturas ficam com um aspecto diferente e se antes as personagens pareciam seguras, depois podem parecer que estão a lutar pelas suas vidas. A variância do nível do mar, permite a várias das suas obras terem diferentes interpretações. As suas oscilações ajudam a criar uma história. Sobre um trabalho que fez em New Brunswick disse à CTV News “A interpretação fica em aberto. Estará ela a emergir da água, e quando a maré volta, estará ela a afogar-se? O que é que se passa? Adoro este mistério”.

Não tem uma metodologia fixa, cada obra é uma obra diferente que apresenta variáveis únicas também por pintar em lugar de difícil acesso. Primeiro, trabalha o conceito da obra tendo em conta as características do lugar, depois planeia as tarefas logísticas necessárias para executar a obra e leva consigo uma equipa. Acima de tudo, pinta de acordo com a natureza. Em certos momentos aconteceu-lhe o contrário, ou seja, tinha uma ideia do que queria pintar e a partir daí vai em busca de um local adequado. Por vezes, tem de superar dificuldades fruto da natureza dos lugares. Por isso, aprendeu a levar sempre material de pintura a mais. Algo que prefere a arrepender-se de não o ter feito por precaução. Fazem um graffiti num lugar de difícil acesso é sempre um risco, algo que ele sabe bem. Já fez um trabalho numa catarata, algo que o obrigou a lutar contra a corrente da água constantemente. Algo que não dispensa, quando trabalha, é a presença de música enquanto trabalha. Por motivos legais, evita dar dados sobre a localização das suas obras.

Podemos ver as suas pinturas com mais detalhe no seu website e redes sociais. Tem alguns vídeos no YouTube, nos quais podemos observar um pouco do seu processo de trabalho, que tanto o caracteriza e diferencia. No seu website há a possibilidade de o contactar e de comprar obras personalizadas ou outras de catálogo.

Amante de arte, contou ao Saatchi Art que os seus escritores preferidos são C. S. Lewis e J. R. R. Tolkien pela imaginação com que escrevem os seus livros. O seu pintor de referência é Istvan Sandorfi, alguém representa para si o nível de emoção e hiper-realismo que ele tanto ambiciona.

O melhor conselho artístico que lhe deram, foi uma passagem de Bukowski, que muito bem se enquadra na sua arte:

“My dear,
Find what you love and let it kill you.
Let it drain you of your all. Let it cling onto your back and weigh you down into eventual nothingness.
Let it kill you and let it devour your remains.
For all things will kill you, both slowly and fastly, but it’s much better to be killed by a lover.”

Gostas do trabalho da Comunidade Cultura e Arte?

Podes apoiar a partir de 1€ por mês.