“RoboCop 2”, de Irvin Kershner: não envergonha em nada o seu antecessor, mas falha nas personagens

por João Miguel Fernandes,    19 Dezembro, 2019
“RoboCop 2”, de Irvin Kershner: não envergonha em nada o seu antecessor, mas falha nas personagens
“RoboCop 2”, de Irvin Kershner
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Se mencionarmos o nome de Irvin Kershner é provável que a maioria das pessoas não o reconheça, mas a verdade é que Kershner foi o responsável por realizador aquele que é considerado por muitos o melhor filme da saga “Star Wars”, o episódio V (“Empire Strikes Back”). Após o sucesso de Star Wars, Kershner foi convidado a realizar um James Bond, nomeadamente o “Never Say Never Again” (1983), o último de Sean Connery enquanto 007. Com dois filmes das sagas mais famosas do cinema, seria de esperar que a carreira de Kershner explodisse e este se tornasse num dos realizadores de referência em Hollywood, mas não. Após “RoboCop 2” (1990), Kershner nunca mais voltou a realizar um filme.

Pegar num dos filmes de acção mais bem sucedidos de sucedidos dos anos 80 e fazer uma sequela não é tarefa fácil, mas Kershner fê-lo três vezes na sua carreira e sempre de forma minimamente boa, para não dizer brilhante, no caso de “Star Wars”. “RoboCop” (1987) de Paul Verhoeven tinha sido um sucesso comercial, assim como “Star Wars: A New Hope”, mas Kershner conseguiu sempre manter a fasquia elevada e criar duas obras de qualidade.

“RoboCop 2”, de Irvin Kershner

Em 1990 estamos perante os sucessos de “Terminator” (1984), “Aliens” (1986), “RoboCop” (1987) e “Predator” (1987). O cinema de acção blockbuster violento estava em altas e fazer uma qualquer sequela destes filmes era um enorme desafio. Irvin Kershner pegou em “RoboCop 2” e não alterou grande parte da estrutura. Peter Weller continuou a ser Alex Murphy e Nancy Allen regressou para o papel de Anne Lewis, assim como alguns personagens secundários. A premissa era promissora e a verdade é que resulta na perfeição. Detroit foi privatizada, as ruas vivem dias de caos e violência, mas vivem também o desafio de combaterem um novo Drug Lord que tem espalhado a sua droga pelos habitantes da cidade. RoboCop é chamado a intervir, ao mesmo tempo que um novo programa da policia desenvolve um novo RoboCop, através do perfil de psicopatas. Tudo é meio cartoonesco em “RoboCop 2”, algo que já era feito de forma similar no primeiro filme. Esse tom encaixa na perfeição nesta Detroit destruída pela violência e droga. Alguns personagens como Cain (Tom Noonan) e  Hob (Gabriel Damon) dão algum brilho ao filme, assim como a violência exagerada. Contudo, falta inovação neste novo filme. O processo narrativo é bastante idêntico ao do primeiro filme, o que por um lado torna tudo seguro, mas por outro não o permite realmente demarcar-se do que já tinha sido criado.

“RoboCop 2”, de Irvin Kershner

Um dos pontos negativos de “RoboCop 2” é o facto de não construir praticamente nada a nível emocional, ou o que constrói ser feito de forma abrupta e sem seguimento. Numa das cenas iniciais vemos Murphy, dentro do seu carro, a observar a casa onde viveu com a mulher e onde esta ainda vive. Mais tarde é confrontado com o facto de não ser um humano, apenas um robô e ter que parar de visitar a mulher. Este seria um ponto de partida interessante, mas nunca mais é explorado durante o filme. O personagem de Hob, uma criança super violenta, maléfica e bastante inteligência, seria também algo interessante para explorar do ponto de vista emocional. Numa das cenas do filme, Hob é atingido pelo novo RoboCop/Cain e Murphy encontra-o antes deste morrer. “Não me deixes sozinho”, diz Hob a Murphy, ao qual este lhe responde “nunca te vou deixar sozinho”. Esta cena poderia sem dúvida ser bastante importante, mas a verdade é que não tem nenhum background, os dois personagens eram inimigos, nunca houve um traço humano pacifista no personagem de Hob e toda a cena parece feita à pressão.

“RoboCop 2”, de Irvin Kershner

“RoboCop 2” é um filme consistente, não tem nenhum elemento mau, mas carece de cenas especiais. Há momentos em que podia brilhar, mas nunca leva o seu potencial exactamente ao máximo. Há uma cena interessante na qual RoboCop persegue Cain numa mota, enquanto Cain se encontra num camião (Olá “Terminator 2”), assim como outras cenas que envolvem o processo de transformação de Cain em “RoboCop 2”, mas a cena do confronto final é aborrecida e previsível.

No seu todo, “RoboCop 2” é um bom momento de acção, apesar de falhar no desenvolvimento dos seus personagens. A diversão é garantida, assim como a continuação de bons momentos de violência e algumas cenas caricatas. Não ficará para a história, mas é será sempre bom de revisitar para os fãs do género.

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