Retomar a cidade: debater a justiça ambiental em tempos de covid-19

por Comunidade Cultura e Arte,    3 Junho, 2020
Retomar a cidade: debater a justiça ambiental em tempos de covid-19
Praça do Comércio, Lisboa, Portugal / Fotografia de João Reguengos – Unsplash
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Goethe-Institut Portugal e a Fundação Friedrich Ebert em Portugal estão a desenvolver, desde o final de abril, com o apoio da Associação São Bartolomeu dos Alemães em Lisboa, uma profunda reflexão sobre a justiça ambiental urbana, inserida na série de eventos Retomar a Cidade, que focou, em 2019, os temas da mobilidade e da habitação, apresentando caminhos futuros possíveis para uma vida mais sustentável nas nossas cidades. Chegou agora o momento de pensar de que forma podemos garantir que os acessos a espaços verdes e bens ambientais na cidade sejam distribuídos de uma forma mais justa, reflexão que se torna ainda mais urgente com a atual pandemia.

O debate arrancou com um primeiro encontro online entre especialistas da academia e de movimentos civis de Portugal e de outros países europeus, para desenvolver em conjunto o enquadramento e o formato deste debate. Nesta situação de limitações impostas pela pandemia do covid-19, o objetivo é transformar o ciclo num processo mais intenso que contribua para uma reflexão crítica e produtiva sobre questões de justiça no contexto do planeamento urbano sustentável. Partindo de experiências a nível internacional, o objetivo é tornar estas experiências num contributo enriquecedor para o contexto específico de Lisboa, no âmbito da nomeação como Capital Verde Europeia 2020

Fotografia de Jessica Verheij

O projeto será assim composto por uma série de encontros entre especialistas e representantes de iniciativas da capital portuguesa e de outras cidades europeias, pela publicação de artigos e vídeos nos canais digitais das duas instituições – o primeiro artigo da autoria da investigadora Jessica Verheij, que aprofunda as questões que formam a base do debate sobre a justiça ambiental urbana, pode ser lido aqui  – e por fim, por um debate público digital, previsto para meados de julho, onde serão discutidos os pontos cruciais desta reflexão.

O projeto conta com a participação de Annegret Haase, investigadora Principal do Centro Helmholtz para a Investigação Ambiental em Leipzig, na Alemanha, que desenvolve investigação sobre transformações urbanas sustentáveis, processos socio-ambientais e trade offs nas cidades, justiça e gentrificação ambientais, entre outros temas; Melissa García Lamarca, investigadora pós-doutorada do Laboratório de Justiça e Sustentabilidade Ambiental Urbana de Barcelona e ativista do direito à habitação, que reflete sobretudo sobre dinâmicas estruturais como os processos de “baixo para cima” no sentido de tornar as cidades mais justas e emancipativas; Susana Simplício, ativista do movimento Jardim Martim Moniz, que promove a criação de uma zona verde de referência neste espaço de Lisboa; Alexandra Alves Luís, formadora e investigadora do projeto Faces de Eva/CICS.NOVA, e ativista dos direitos das mulheres através da Associação Mulheres sem Fronteiras, que cofundou, e que tem coordenado vários projetos no âmbito do BIP/ZIP – Bairros e Zonas de Intervenção Prioritária de Lisboa, com foco em questões de sustentabilidade; e por fim Jessica Verheij, investigadora da Universidade de Lisboa que se debruça sobre o papel dos espaços verdes na regeneração das cidades e sobre a justiça ambiental, e que tem a decorrer um projeto em parceria com a Câmara Municipal de Lisboa para regenerar a zona ribeirinha do Beato-Marvila;

O campo de trabalho destas últimas três mulheres é uma cidade onde existe um risco grave de uma verdadeira “eco-gentrificação”: a criação de espaços verdes, a produção de energias renováveis e o desvio do tráfego automóvel são algumas das iniciativas ambientais que, apesar de terem benefícios indiscutíveis para os cidadãos, tornam os bairros mais caros e, por consequência, mais inacessíveis a muitas camadas da população. Na nossa capital existem ainda riscos graves de poluição atmosférica e sonora, seja pelo uso exacerbado do carro, pela localização do maior aeroporto do país que tem impactos sérios na saúde dos residentes das zonas habitacionais adjacentes, ou ainda pela falta de espaços verdes e pelo domínio do betão e do asfalto nos bairros (mais sobre este tema aqui).

A atual pandemia veio tornar estas desigualdades mais evidentes e urge cada vez mais encontrar soluções que possam tornar a cidade mais verde e simultaneamente mais acessível a toda a população.

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