RAP significa Pratica(mente)

por Romão Rodrigues,    2 Maio, 2021
RAP significa Pratica(mente)
Capa do disco
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Praticamente é o modo antagónico de algo que se traduz na teoria e, por essa razão, pode significar — como já declarei indiretamente — o desempenho de uma ação. “Praticamente”, após ser realizada uma segregação quase a meio do termo, divide-se em “pratica” e “mente”: daqui, germina e interioriza-se uma diretriz que — literalmente — nos impinge ao fervilhar e ziguezaguear de ideias. O português é espécie que não se desprende (por nada!) das amarras da prostração e nada afeto a ordens — neste caso — vanguardistas. A Partir De Agora, só um portento poderá alterar o estado de graça…

Em 2006, Sam The Kid ergueu algo sintomático do Praticamente e transmitiu à Juventude uma mensagem que passava pela redefinição de uma identidade repleta de denodo, caminho que se percorre até ao traçar de uma nova Mentalidade. Além disto, mordeu os colegas de profissão — artistas — que não “lusitanizam” o seu trabalho e obrigou-os a colocar a gramática em prática, olvidando a crítica pré-histórica concernida ao RAP: “ah e tal, a música rap não é nem nunca será poesia porque os rappers não sabem escrever”.

Como qualquer protagonista da cena artística, Samuel Mira não praticou a Abstenção, amolou a voz cortante, cogitou contra a classe promíscua e alegou ser a insatisfação, a não comparência e a indiferença. Esta filosofia gera consequências: crises, défices, recessões. Os Negociantes sofrem, a precaridade aumenta e as oportunidades esvaem-se.

Mas o propósito não passa por essa Retrospetiva. Até porque, quando se vincula o termo a algo, é bom que o mesmo se associe a um Amor Profundo: a música, a sonoplastia e a escrita, no caso de Sam The Kid. A última das paixões, em alguns singles, é corolário da observação da realidade que o circunscreve: o narcotráfico e a lei das balas, a tão palrada cultura da street. Lançaram-se, ao longo dos anos de atividade, vários alertas. Presta Atenção, por favor!

Samuel também soube descer ao solo árido, o local onde repousam comuns mortais. Pus-me a Pensar, arquitetei uma análise ao álbum e infiro que os assuntos triviais também são (re)tratados: amores longínquos, promessas defraudadas, cenários especulados, perspetivas interiores. De Repente, a eterna problemática no mundo da rua: os MC’s que possuem a pretensão enformada de avareza aquando do salto imediato do primeiro para o último degrau da escadaria do RAP. Um claro sinal de Ignorância!

Ai! O Tempo… (provavelmente, a esta altura do parágrafo, já me teceram acusações de estar retido nele). Sam The Kid gosta de desprender-se desta limitação, questiona a ordem crescente do calcorrear dos ponteiros e expõe teorias relacionadas. A da fama, a título de exemplo ilustrativo. Fama essa que não olvida a humildade e a modéstia, no que lhe diz respeito. A característica descrita provém da descendência, é algo normal e socialmente conotado como Hereditário. Restam questões retóricas e existenciais na desconstrução das relações interpessoais…

O traçar do caminho cruzou o destino a 16/12/95. Dois acontecimentos com carga completa de veracidade, múltiplos cenários construídos a partir da sagacidade. Escutar Samuel Mira traduz-se na absorção do universo real e do universo paralelo, simultaneamente.

Estar À Procura da Perfeita Repetição constitui um ato estéril. Nem a subir os degraus isoladamente. É necessário manter a segregação entre Sam The Kid e os restantes Poetas de Karaoke.

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