Quinze filmes essenciais de língua espanhola

por João Braga,    18 Agosto, 2016
Quinze filmes essenciais de língua espanhola
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Esta lista concentra-se na indústria de língua espanhola, portanto todos os países de língua estão incluídos. Argentina, México e Espanha são os principais países e os mais contribuidores para o desenvolvimento da indústria.

Contrariamente com o que aconteceu à indústria italiana, por exemplo, que quase morreu após 1980, o Cinema espanhol viu, após esse período, um enriquecimento das suas fileiras com a formação de novos realizadores, produtores e actores que se tornaram essenciais para o desenvolvimento do Cinema europeu. O Cinema espanhol viu em países como Argentina e México dois propulsores da indústria, com o crescimento de realizadores e actores vencedores de diversos prémios da Academia. Em Espanha, apesar de haver muitos sucessos modernos, a grande fatia da indústria pertence, qualitativamente, aos filmes mais antigos que alimentaram a consequente indústria moderna do Cinema espanhol.

Esta é uma lista limitada a 15 entradas, e por isso muitos dos clássicos obrigatórios foram deixados de fora. Por isso, deixo-vos a lista dos restantes filmes, se fosse uma lista de 30 filmes: Los Santos Inocentes (1984), La caza (1966), Ensayo de un crimen (1955), La mala educación (2004), La lengua de las mariposas (1999), Tesis (1996), Nueve Reinas (2000), Tristana (1970), Surcos (1951), Todo sobre mi madre (1999), Los lunes al sol (2002), Calle Mayor (1956), Viridiana (1961), Plácido (1961), El viaje a ninguna parte (1986).

15 – Blancanieves (Pablo Berger, 2012)

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É o único filme mudo nesta lista, e mostra uma versão diferente do conto de fadas, A Branca de Neve, contendo um fim mais triste, mais realista e mais adulto deste conto de fadas. O facto de ser um filme mudo, lançado em 2012, é encantador. Sempre fui um fã de filmes mudos e o facto de eles ainda serem escritos e produzidos, realmente mostra a sua importância para a indústria cinematográfica. Por essa razão, foi colocado nesta lista. O filme foi pré-nomeado para os Óscares da Academia na correspondente edição da cerimónia, mas nunca passou para a próxima fase de nomeação. A acção acontece nos anos 20, em Sevilha, com a Branca de Neve a ser retratada como a filha de um toureiro que, por sua vez, após um acidente com um touro ficou confinado a uma cadeira de rodas, e dependente da ‘bruxa má’ retratada por uma enfermeira, que apenas quer tomar proveito do rico e famoso toureiro. O final representa uma viragem no conto de fadas, fornecendo um final mais realista e mais adulto do lendário conto.

14 – Relatos Salvajes (Damián Szifrón, 2014)

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“Relatos Salvajes” é uma antologia de pequenas histórias, muito inspiradas em lendários programas de televisão como ‘The Twilight Zone’ e ‘Tales of the Unexpected’ e tornou-se num dos filmes mais bem-sucedidos de 2014, contendo um conjunto de actores que são muito importantes para a indústria espanhola. Foi um filme nomeado para os Óscares e uma das maiores surpresas dos últimos cinco anos. Pessoalmente, gosto bastante deste tipo de filmes. Filmes de antologia são sempre óptimos para se encontrar um grupo de grandes actores misturados na ‘mesma receita’. As histórias nunca saturam, devido à sua pequena duração, apesar de terem um tema comum. Este filme, mais do que um filme, é um estudo de caso sobre a condição humana, explorando situações de tensão humana e as respectivas consequências na realidade. O filme é composto por seis histórias e cobrem, principalmente, temas como tensão, raiva e traição. Um dos melhores filmes dos últimos cinco anos.

13 – Vacas (Julio Medem, 1992)

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É visualmente incrível e surpreendente; o risco foi tomado por Julio Medem, apesar de ser o seu filme de estreia. Conta a história de duas famílias rivais durante um período de 50 anos, com três gerações diferentes. A acção ocorre entre 1975 e 1936, terminando quase no início da Segunda Guerra Mundial, iniciada três anos depois. É um filme impróprio para as pessoas mais sensíveis, que podem ver este lançamento como chocante e, por vezes, nojento. Foi muito controverso e visto como um dos filmes mais promissores por parte de um dos mais promissores realizadores da época. Surpreendeu-me bastante, bem como à crítica, apanhando-a de surpresa pela sua coragem e audácia. Os desempenhos são magníficos e o filme ganharia se tivesse mais 30 minutos de duração. Apesar de não aparecer, frequentemente, “Vacas” tem a capacidade de chocar e impressionar os espectadores.

Ver também Lucia y el sexo (2001) por Julio Medem.

12 – El Espíritu de la Colmena (Víctor Erice, 1973)

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Neste filme participa uma das mais talentosas actrizes do Cinema europeu, Ana Torrent. Teve, neste filme, o seu primeiro grande papel e desempenho, apesar de apenas ter sete anos. Viria a tornar-se numa das melhores actrizes espanholas do seu tempo, ainda em actividade. “El Espíritu de la Colmena” é muito reconhecido e lida com temas como infância e as perspectivas das crianças de uma Espanha no pós-guerra. Após ver uma versão do Frankenstein, com Boris Karloff, ela fica impressionada e assustada com o que vê. Graças à sua irmã mais velha, ela fica convencida que o monstro está vivo e que vive perto da sua casa. Mais tarde, elas encontram uma pequena casa abandonada, onde brevemente um fugitivo da justiça encontra refúgio. A menina fica convencida que ele é o monstro do filme, das suas fantasias e dos seus sonhos. Ana Torrent interpreta o papel de uma sonhadora, não tão obscura e triste quanto o papel que interpreta em “Cria Cuervos”, o maior clássico de Carlos Saura. Mesmo assim, o seu desempenho causa arrepios na espinha de tão fantástico que é. O filme fala da infância e fantasia, sonho e realidade de uma sociedade espanhola do pós-guerra.

11 – La vaquilla (Luis García Berlanga, 1985)

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“La vaquilla” é o único filme de Guerra na lista, o que é surpreendente, considerando o impacto da Segunda Guerra na sociedade espanhola e respectiva indústria cinematográfica. É talvez o melhor trabalho de Berlanga, após 1970, e o mais engraçado. O filme é imediatamente engraçado, devido ao plano idiota que o grupo de soldados concebe, mas também à realidade política e temporal em que o filme foi lançado. Dois lados das trincheiras, um a favor de Franco e o outro luta a favor das forças Republicanas. Os soldados Republicanos querem roubar o pequeno touro, dos soldados que lutam a favor de Franco, que será usado numa festa organizada em honra de Franco. Após irem para lá das linhas inimigas, o grupo de soldados ‘delinquentes’ fazem de tudo para roubar o touro, obrigando-os a esconder a sua identidade, guiando-os para um série de acontecimentos cómicos e divertidos. Os lendários actores, Alfredo Landa e José Sacristán, são os líderes deste grupo de ‘delinquentes’, reforçando a influência de ambos no Cinema espanhol.

10 – Mar Adentro (Alejandro Amenábar, 2004)

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Este filme tem que ganhar o prémio para o desempenho mais difícil e exigente desta lista. O estilo de Amenábar é muito associado à dissecação das emoções humanas, por vezes. Os detalhes e os estudos que o realizador faz das suas personagens são as principais características deste excelente realizador. Amenábar nunca esquece a necessidade em dar relevância ao guião e à história, criando histórias misteriosas e emocionantes até ao fim. “Mar Adentro” contém todas essas características, aprimoradas com uma fenomenal performance por parte de Javier Bardem, conseguindo aqui o seu melhor desempenho.

É uma história verídica, o que magnífica ainda mais o seu argumento e respectiva necessidade numa performance de ‘encher o olho’. O filme lida com temas como a Eutanásia e a amizade. O desejo de morrer, quando possível. Parar de viver e morrer feliz após um evento trágico que modificou a vida deste homem que se tornou num dos principais apoiantes da causa. Apesar do seu polémico e triste tema, este filme tem uma significante mensagem de esperança e carinho e é visto como uma referência do Cinema do pós-1990. O filme venceu o Óscar para Melhor Filme Estrangeiro.

Ver também Abre los Ojos (1997) por Alejandro Amenábar.

9 – Bienvenido Mister Marshall (Luis García Berlanga, 1953)

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É uma das melhores sátiras do Cinema europeu, mostrando a influência política dos EUA após a Segunda Grande Guerra, em tempos de implementação do Plano Marshall. É uma comédia hilariante e contém um fluxo de cenas cómicas e de situações ridículas, em torno de algo de tão trivial, factos que fazem deste filme um clássico do Cinema espanhol. Descreve a implementação do Plano Marshall e a sua influência sobre o povo de uma pequena cidade espanhola, Villar del Río. O presidente da câmara e as principais figuras da cidade são informadas que uma comitiva americana irá visitar a pequena cidade, para inspeccioná-la. A cidade, rapidamente, prepara tudo conforme o gosto dos americanos, de forma a poder agradar os ‘heróis’. É narrado por Fernando Rey e conta com José Isbert, como personagem principal, duas lendas da indústria espanhola. O filme acontece de forma acelerada, iniciando a acção logo desde o início do filme, descrevendo as peculiares personagens da vila. Têm um desejo de se parecerem com os americanos e viverem como eles vivem. O final é desapontante para as gentes da vila, no entanto os cidadãos de Villar del Río satisfazem-se com pouco.

8 – Cria cuervos (Carlos Saura, 1976)

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É talvez o melhor filme da filmografia de Carlos Saura, apesar de outros êxitos, “Cria Cuervos” criou uma legião de fãs e foi muito reconhecido em festivais da especialidade como um dos melhores filmes da história cinematográfica. Solidificou as carreiras de Saura e Ana Torrent, que tem o seu segundo grande papel neste filme. É um dos filmes mais difíceis de interpretar e seguir, já que apresenta uma série de referências alegóricas e interpretação psicológicas, que requerem um certo hábito na visualização deste tipo de filmes. Em alguns momentos, é mais complicado de perceber que alguns filmes de Fellini, por exemplo. Ana Torrent interpreta Ana, uma menina de oito anos que lida com a perda de uma forma mórbida. Ela vê várias representações mórbidas com relação à morte do seu Pai, um ex-militar fascista, e com relação à morte da sua Mãe, que será descoberta e concluída pelo espectador no início do filme. Ana e suas três irmãs são cuidadas pela tia e pela avó muda, ambas tentam ‘apagar’ a perda dos pais e o sofrimento das irmãs, mas parece que as três, e principalmente Ana, vivem num mundo só delas. Ana culpa o Pai pela morte da Mãe e usa um ‘veneno’ para distrair e matar todos os que contribuíram para a morte da sua querida Mãe.

É um filme perturbante e difícil de compreender, contendo diversas alegorias e referência que podem ser interpretadas de várias maneiras. Ana é o alvo de uma morte mal compreendida que a fazem sofrer, provocando uma série de pensamentos mórbidos que a podem levar a ter um comportamento desviante.

7 – Hable con ella (Pedro Almodóvar, 2002)

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Dois homens com os mesmos problemas acabam por partilhar uma amizade incomum, com características pouco usuais. O filme segue as vidas de dois ‘casais’ que percorrem caminhos diferentes ao longo do filme, mas que acabam por levar ao mesmo tipo de vida. Ambos homens preocupam-se com duas mulheres que estão num coma profundo após um trágico acidente, cada um com o seu acidente. O filme explora não só a dificuldade de comunicação, em casos de coma, mas também a solidão, amizade e até o amor psicótico. É o melhor filme de Almodóvar, em que finalmente deixa de lado um dos temas favoritos para o realizador, travestismo e homossexualidade, temas que se tinham tornado constantes em todos os seus filmes. O filme não foi escolhido para os Óscares, mas sim “Los Lunes al Sol”, olhando para trás o país talvez tivesse ganho mais com a escolha de “Hable com ella”, apesar da excelente qualidade do filme protagonizado por Javier Bardem.

6 – El hijo de la novia (Juan José Campanella, 2001)

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Este filme conta com uma futura lenda do Cinema espanhol, principalmente no que à América do Sul diz respeito. Ricardo Darín tem que estar presente neste tipo de listas, principalmente numa lista de filmes de língua espanhola. Ele está presente mais do que uma vez e fornece, neste filme, uma lufada de ar fresco com uma personagem muito forte e de difícil desempenho.

Ele interpreta um quarentão stressado pela vida profissional, sem tempo para a família, filha e pais, namorada e sem paciência para as reclamações da ex-mulher. A sua namorada tem o sonho de casar com ele, no entanto ele não repara nessa intenção, por causa do restaurante que ele gere e que herdou dos seus pais. O restaurante é a razão do seu stress e causa para todo o mal que lhe irá acontecer, apesar de ser muito importante para ele próprio e para a sua família. De repente, surge Juan Carlos, um velho amigo de infância que o faz recordar tempos idos em que ele era, realmente, feliz. O seu estilo de vida força-o a mudar de intenções e de vida, após um ataque cardíaco que o faz querer mudar de vida. No meio de tudo isto, e mais importante, a sua Mãe sofre de Alzheimer e está hospitalizada num lar para idosos, fazendo sofrer este quarentão stressado e o Pai do mesmo. Pessoalmente, vejo ambos, Pai e filho, como dois sonhadores, um porque tem uma vontade forte de mudar de vida e o outro porque quer voltar a casar com a mulher dos seus sonhos. Grande parte do filme é triste ou pelo menos com uma grande conotação infeliz, e só após acontecerem trágicos eventos é que se faz luz na vida desta família e se abre portas para a felicidade.

É um filme bastante sonhador e que dá esperança a quem o visualiza, fornecendo um sentimento de saudade e felicidade ao espectador. É um dos melhores filmes alguma vez lançados, após o ano 2000, com excelentes performances e mais uma do incrível Ricardo Darín.

5 – Atraco a las tres (José María Forqué, 1962)

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“Atraco a las tres” é o grande clássico da comédia espanhola e por vezes esquecido neste tipo de listas. É um excelente filme com todos ingredientes necessários para o ser. O argumento está muito engraçado e inteligente, os actores são perfeitos para os papéis e o final é bastante irónico. À semelhança com “Bienvenido Mister Marshall”, este também contém um fluxo constante de cenas cómicas que completam o filme e o tornam melhor, quando comparado com outros filmes de comédia. Para mim, é um dos melhores filmes cómicos que alguma vez vi (e já vi muitos filmes, mesmo…) e recomendo aos leitores da CCA que o vejam, estando disponível online. É uma comédia negra em que a crítica do ‘sistema’ é o principal objectivo do filme. Critica a sociedade espanhola de uma forma engraçada, apesar de o tema não ser motivo de riso, mostrando as falhas de um ‘sistema’ apenas disponível para os mais fortes e ricos.

Fernando lidera um grupo de funcionários de um banco que se quer rebelar contra o ‘sistema’, representado pelo director do banco e o seu gerente. Eles planeiam roubar o banco e delineiam um plano para executar esse mesmo plano, apesar de nenhum deles perceber alguma coisa de assaltos a bancos. Determinam um dia e uma hora para o fazer. As personagens estão muito bem construídas e são muito peculiares, razão forte para transformar “Atraco a las tres” num dos filmes mais influentes e importantes da indústria cinematográfica espanhola.

4 – Los Olvidados (Luis Buñuel, 1950)

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Os esquecidos é o título perfeito para esta obra-prima realista, lançado no pós-guerra. “Los Olvidados” é o exemplo perfeito de como escrever um filme realista com fortes componentes de mistério e crime, sendo um dos principais filmes do género a nível mundial. É um dos meus favoritos, não só ao nível dos filmes de Buñuel, mas também no Cinema em geral. O tema principal é a pobreza, principalmente ao nível da pobreza infantil, ou juvenil, como se quiser chamar. Segue as vidas de um grupo de ‘jovens delinquentes’ que se mete, constantemente, em sarilhos e executa diversos pequenos roubos e crimes, de forma a sobreviver no México. O final do filme é bastante controverso, visto haver uma outra possibilidade que seria mais feliz. O final original é excelente e pode estar sujeito a diversas interpretações. É uma obra-prima do Cinema realista, sendo considerado como essencial por especialistas e críticos. Os desempenhos dos jovens actores estão muito acima da média, apesar da juventude dos mesmos, eles conseguiram executar os papéis de forma exímia, apesar da complexidade do tema abordado no filme.

3 – Amores Perros (Alejandro González Iñarritu, 2000)

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Três pessoas diferentes, três histórias de vida e um evento que interconecta todos os intervenientes, num dos filmes mais extraordinários filmes desde 1980. Este é de longe o melhor filme de Iñarritu e é o primeiro filme de uma trilogia sobre morte, seguido por “21 Grams” e “Babel”. É uma verdadeira obra-prima e a sua estrutura é fantástica, filmado de forma incrivelmente inteligente, as performances são fenomenais e o final é de partir o coração. Também destaca a relação entre os seres humanos e os animais, e por essa razão intitula-se “Amores Perros”. É o filme mais violente e cruel de Iñarritu, abordando temas difíceis como lealdade, traição, morte e amor perdido. Não só é o meu filme preferido de Iñarritu, mas também é o melhor papel de Gael García Bernal, superando a performance que teve em “La mala educación”. “Amores Perros” ganhou diversos prémios, mas perdeu, injustamente, o Óscar para Melhor Filme Estrangeiro.

2 – El Secreto de sus Ojos (Juan José Campanella, 2009)

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De novo, Ricardo Darín participa em mais um filmed a lista, é uma obrigatoriedade tal acontecer, neste tipo de listas. É a obra-prima de Campanella e muito dificilmente fará um filme melhor do que este. Foi uma total surpresa e surpreendeu a indústria pelo seu incrível argumento de mistério/crime conjugado com uma forte componente romântica e de drama. Fornece uma diferente perspectiva sobre as consequências do amor na vida das pessoas. É contado numa série de flashbacks, quando Benjamin Espósito, interpretado por Darín, quer escrever um romance sobre um momento específico da sua vida profissional, enquanto procurador do Ministério Público argentino. Ele quer escrever sobre um caso de violação e homicídio que ele, sem sucesso, trabalhou 25 anos antes. Foi um caso que marcou a sua vida e as vidas de todos os envolvidos, principalmente a do marido da vítima e da chefe de Espósito, por quem mantém uma secreta paixão. Ele está a ter dificuldades em ultrapassar as emoções que emanaram desse caso e decide contactar Irene Hastings, a sua antiga chefe, para lhe contar das suas intenções.

A principal característica de “El Secreto de Sus Ojos” é o forte envolvimento emocional de todos os intervenientes num caso do passado, que teve repercussões no futuro. Fala de um amor perdido e que se arrastou durante 25 anos, e de uma obsessão que se manteve durante todo esse tempo, fruto do violento crime.

1 – Muerte de un Ciclista (Juan Antonio Bardem, 1955)

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Esta pode ser uma escolha estranha para muitos dos fãs do Cinema espanhol, mas garanto-vos que é uma escolha honesta com o intuito que destacar um dos melhores thrillers e mais misteriosos do pós-guerra. É o melhor filme de língua espanhola alguma vez feito, foi bastante censurado por Franco, devido às suas perspectivas sobre o regime e descrição da diferença entre os poderosos e os menos poderosos. Igualmente, estuda de forma pormenorizada a mente humana, dissecando duas personagens que se sentem culpadas pelo acto horrível que cometeram. Dois amantes, inadvertidamente, atropelam um ciclista. Apesar de ainda estar vivo, eles decidem não ajudá-lo, devido à publicidade que poderá acontecer, fruto da fama e reputação da mulher deste casal de amantes, casada com uma homem muito rico e importante. Eventualmente, o ciclista morre, iniciando um conjunto eventos que poderão sentenciar o fim da relação promíscua que ambos vivem. Os dois amantes são muito diferentes um do outro, ela é famosa e bem colocada na vida, ele é igualmente bem colocado na vida, mas não é respeitado pela sua família e é visto por muitos como um estorvo, apesar de ser um professor universitário. Atormentados pela culpa do seu trágico acto, ambos vêem a relação desmoronar-se, fruto da chantagem e manipulação que eles próprios são vítimas. O que parece ser uma decisão resignada, e uma forma de aliviar a dor e a culpa que vivem, resulta numa demonstração da verdadeira natureza dos seres humanos, na sua forma mais egoísta.

A dissecação das personagens é a mais forte característica deste clássico de Bardem, que analisa pormenorizadamente as vidas destes dois amantes, nunca temendo o fim trágico que ambos acabam por ser vítimas. É um dos filmes mais censurados da história do Cinema, e foi visto por Franco como um insulto ao regime.

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