‘Quebra Nuvens’, dos Galgo, é rock de outro mundo

por João Horta,    20 Abril, 2018
‘Quebra Nuvens’, dos Galgo, é rock de outro mundo
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Estou no deserto em Goya / não há mar aqui”. Os primeiros versos de Quebra Nuvens elevam-se, progressivamente, mas não se denunciam. “O processo criativo modificou-se um pouco por causa da preocupação em criar e manter o conceito”, justifica o quarteto. Se a estreia Pensar Faz Emagrecer nos apresentou vozes despreocupadas, imoladas pela euforia punk, o novo trabalho dos Galgo segue o caminho inverso: as vozes apresentam cuidados redobrados, com estrofes trabalhadas e vocalizações harmoniosas.

Existe, de facto, um conceito. Os temas, na sua maioria, não apresentam uma estrutura clássica (verso / pré-refrão / refrão) – por meio desta inovação, os Galgo jogam no campo do inesperado, mas surpreendendo sempre de forma organizada. Mesmo o single “Bambaré” – que significa confusão de vozes – demonstra que as vozes convivem em simetria com os restantes elementos melódicos. “Brutus”, por sua vez, recorre a coros onomatopaicos meramente presenciais na construção orquestral das cantigas.

Fotografia de Rita Carmo / Blitz

Quebra Nuvens suporta-se em instrumentais musculados, implementando uma jornada composta de sete faixas desafiantes, conforme assinala a banda: “Tentamos contar uma história em que o Galgo, como personagem, é confrontado por uma tempestade digital em forma de nuvem.” E o Galgo vai quebrando as nuvens, auxiliado por um baixo titânico, empenhado no combate à tempestade. Uma unificação orgânica que desliza com delicadeza inata, assumindo teclados excêntricos e rock capaz de evocar danças de outro mundo. “Vem de um planeta colorido e angular, mas por vezes meio dramático. Não adivinha nem vem do futuro; é só de um universo paralelo”, mas chega até nós, presenteando-nos também com momentos de expansão – como o interlúdio “Tan”.

A banda não se desvia da rotina habitualmente rockeira, mas esforça-se por aplicar camadas novas, arranjos arejados, sintetizadores alegres, que resultam em cenários dançantes. É nesta jovem felicidade desmensurada que vive Quebra Nuvens.

Um disco nativo digital, moderno, refrescante, mas com tudo o que o rock tem de bom para oferecer. Tanto se lança por melodias desenfreadas e nos dá “Banho Quente”, como “Tira-Teimas” aos acordes groovie. Quebra Nuvens é inovador; não se contenta em ser apenas mais um disco dos Galgo. E é mais uma prova de riqueza no actual cancioneiro português.

 

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