Quarentena Cinéfila. Cinco filmes, de Raúl Ruiz, Julien Faraut a Wim Wenders, para veres de forma gratuita

por Comunidade Cultura e Arte,    22 Fevereiro, 2021
Quarentena Cinéfila. Cinco filmes, de Raúl Ruiz, Julien Faraut a Wim Wenders, para veres de forma gratuita
“O Estado das Coisas”, de Wim Wenders
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Com o confinamento a prolongar-se, a Medeia Filmes, em colaboração com a Leopardo Filmes, continua a sua programação regular on-line, com duas “sessões” semanais da “Quarentena Cinéfila — Raridades”, que entrará a 1 de Março na sua III fase, levando o cinema à sala dos/as espectadores/as, em streaming gratuito, no seu site.

O primeiro filme será “O Território”, de Raúl Ruiz, o primeiro dos filmes do realizador chileno produzido por Paulo Branco, que segue o “pesadelo” de um grupo de turistas americanos e franceses perdidos numa serra labiríntica (o filme foi rodado na serra de Sintra), esforçando-se por sobreviver. Este filme, que explora o corpo como lugar de desejo e violência, uma espécie de “conto surreal de terror psicológico” (Ruiz é um mestre na exploração do inconsciente) que nos hipnotiza, acabaria também por “dar origem” a “O Estado das Coisas“, de Wim Wenders. No “intervalo forçado” da rodagem de Hammett, Wenders veio a Portugal visitar uma amiga, a actriz francesa Isabelle Weingarten, que participava no filme. O realizador alemão ficou impressionado com a atmosfera do plateau, com o trabalho de Ruiz, e com o director de fotografia que há muito admirava, o célebre Henri Alekan, que fizera a fotografia de “alguns dos mais belos filmes a preto e branco”, como “A Bela e o Monstro“, de Cocteau. E teve a ideia de fazer um filme, com a equipa que trabalhava em “O Território”. Sondou o produtor Paulo Branco e assim nasceria O Estado das Coisas, onde participaria também como personagem o lendário produtor Roger Corman, que deveria ter sido um dos produtores de O Território” (o filme de Ruiz tem, na sua maior parte, um elenco americano), mas que nunca enviaria o dinheiro. Um filme raro de um dos maiores e mais singulares cineastas, a quem há pouco tempo o Film Lincoln Center de Nova Iorque organizou uma homenagem e retrospectiva, a merecer a (re)descoberta.

Segue-se o documentário “John Mcenroe: O Domínio da Perfeição”, de Julien Faraut, que em 2018 foi um dos filmes mais aclamados pela crítica. Sob a epígrafe de Godard, “O cinema mente, odesporto não”, juntam-se aqui John McEnroe e Ivan Lendl na célebre final de Roland Garros, Serge Daney e os seus textos, os filmes de um visionário na forma de filmar o desporto, Gil de Kermadec, e a narração de Mathieu Amalric (e a sombra de Chris Marker a pairar por ali…). Para os amantes do cinema, para os amantes das artes, para os amantes do ténis, para os amantes do desporto em geral.

A partir de 8 de Março, veremos “Chuva de Julho”, obra-prima de Marlen Khutsiev (o LEFFEST dedicou-lhe, em 2014, a sua primeira retrospectiva completa, dando assim a conhecer uma das obras mais modernas e livres da sétima arte soviética, relegada ao “esquecimento” por razões políticas. No ano seguinte, também o festival de Locarno e a Cinemateca Portuguesa lhe dedicariam homenagens). Como escreveu Alena Shumakova para o catálogo do festival, “este filme comprova o traço principal da coragem de Khutsiev, que residia sobretudo no saber ‘constituir um limiar, o cume absoluto’, para usar as palavras de Miron Chernenko, do cinema soviético dos anos cinquenta e sessenta e abrir uma nova página, começar a fazer o cinema do futuro.”.

Depois, “Carneiros”, de Grímur Hákonarson. Vencedor do prémio Un Certain Regard no Festival de Cannes, esta comédia islandesa foi considerada pelo Le Monde como “um poderoso poema rural islandês com uma tonalidade burlesca e melancólica”. Para ver entre 11 e 15 de Março.

Por fim, a partir de 15 de Março, encerra-se esta terceira fase com “Movimento em Falso”, multi-premiado filme de Wim Wenders. Com argumento de Peter Handke e Wim Wenders, a partir da obra de Goethe, Os Anos de Aprendizagem de Wilhelm Meister, foi o grande vencedor dos Prémios do Cinema Alemão em 1975, nas categorias de Melhor Realização, Melhor Fotografia, Melhor Argumento, Melhor Actuação, para o conjunto do elenco, Melhor Montagem e Melhor Banda Sonora. Este filme que, como na obra de Goethe, viaja pela Alemanha num movimento único e belo, é, nas palavras de Peter Handke, a transposição, da “situação histórica de alguém que parte, que está a caminho para aprender algo, para ser outra pessoa, para ser realmente alguém”.


É de relembrar ainda que esta semana ainda serão exibidos dois filmes em streaming da segunda fase da Quarentena Cinéfila: “Boom For Real — A Adolescência Tardia de Jean-Michel Basquiat”, de Sara Driver, disponível a partir das 12:00h de dia 22 de Fevereiro até às 11:59h de dia 25; e “Asas”, de Larisa Shepitko, a partir das 12:00h de dia 25 até às 11:59h de dia 1 de Março.

A partir de 1 de Março
“O Território”
 (1981), de Raúl Ruiz

Um grupo de jovens turistas americanos e franceses parte numa caminhada pela floresta com os seus filhos. Quando o guia que os acompanha os abandona, os viajantes tomam consciência da sua falta de preparação para a situação que têm pela frente. Cada vez mais cansados e esfomeados, perdem-se no “Território”, uma área que resiste à compreensão…

Com: Geoffrey Carey, Paul Guetty Jr, Jeffrey Kime, Isabelle Weingarten, Camila Mora

Disponível a partir das 12:00h do dia 1 de Março até às 11:59h do dia 4 A partir de 4 de Março
“John Mcenroe: O Domínio da Perfeição”
 (2018), de Julien Faraut

Um documentário sobre a final de 1984 do Torneio de Rolland Garros entre John McEnroe e Ivan Lendl, quando McEnroe era o melhor jogador do mundo. Através de filmes de arquivo de 16 mm das suas actuações no court de Roland Garros, Faraut revela tanto a atenção de McEnroe ao desporto em si como às próprias filmagens, criando um retrato vivo e imersivo de um atleta motivado. Este é um estudo sobre o ténis, o corpo humano e o movimento e, em última análise, sobre como tudo isto se liga com o próprio cinema.

Disponível a partir das 12:00h do dia 4 de Março até às 11:59 do dia 8


A partir de 8 de Março
“Chuva de Julho”
 (1966), de Marlen Khutsiev

Lena está prestes a casar-se com Volodya quando descobre que o noivo é uma má pessoa e que aquela relação não tem futuro. Depois de o abandonar, procura um rumo para a sua vida em aventuras com artistas que também procuram a sua identidade. À chuva, conhece Zhenya.

Com: Yevgeniya Uralova, Aleksandr Belyavskiy, Yuri Vizbor, Aleksandr Mitta

Disponível a partir das 12:00h do dia 8 de Março até às 11:59h do dia 11 A partir de 11 de Março
“Carneiros”
 (2015), de Grímur Hákonarson

Num vale isolado na Islândia, dois irmãos que não falam um com o outro há quarenta anos vão ter de se unir para salvar o seu bem mais precioso: os seus carneiros.

Com: Sigurdur Sigurjónsson, Theodór Júlíusson, Charlotte Boving

Disponível a partir das 12:00h do dia 11 de Março até às 11:59h do dia 15 
A partir de 15 de Março
“Movimento em Falso”
 (1975), de Wim Wenders

Uma cidade no norte da Alemanha, Bona, um palácio ao longo do Reno, a periferia de Frankfurt e, finalmente, a montanha Zugspitze – são estes os lugares da viagem que o jovem Wilhelm Meister inicia, na esperança de salvar-se da irritabilidade e do desânimo que o atormentam na sua cidade natal. Em lugares desconhecidos, pensa que será capaz de fazer o que sempre quis – colocar em prática a vontade incontrolável de escrever. Ele quer tornar-se um autor. Com a viagem, que conta com o apoio da sua mãe, Wilhelm espera ampliar os seus horizontes e, acima de tudo, encontrar-se. O filme conta com argumento de Peter Handke e Wim Wenders, a partir da obra de Goethe “Os Anos de Aprendizagem de Wilhelm Meister”.

Com: Rüdiger Vogler, Hanna Schygulla, Nastassia Kinski, Ivan Desny, Marianne Hoppe, Hans Christian Blech

Disponível a partir das 12:00h do dia 15 de Março até às 11:59h do dia 18

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