Primeiro álbum dos Foo Fighters foi editado há 25 anos

por José Malta,    4 Julho, 2020
Primeiro álbum dos Foo Fighters foi editado há 25 anos
Capa do disco
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Em 1995, um ano após a trágica e inesperada morte de Kurt Cobain, muitos dos amantes do rock característico dos Nirvana, em especial os mais jovens, ainda se encontravam de luto daquela que tinha sido uma era gloriosa e explosiva durante o início da década de 90. Os Nirvana em pouco tempo conseguiram tornar-se num fenómeno musical a nível mundial, sendo um dos grandes promotores do grunge, uma vertente do rock muito associada às bandas de Seattle e de outras cidades do estado de Washington, que cresceu nessa tão emocionante década que seria assinalada pela inclusão de novos intérpretes que marcariam toda uma geração. Com o suicídio de Kurt Cobain, aos 27 anos, aquela era considerada por muitos a maior e mais icónica banda de rock do momento, com um reportório de grande sucesso que conseguia levar os seus fãs ao delírio, desfazia-se. Não fazia qualquer sentido a continuação da banda tendo apenas o baixista Krist Novoselic e o baterista Dave Grohl, quando o rosto principal era Kurt Cobain, que se tornaria também numa espécie de figura litúrgica naquela época. No entanto havia também rumores de que estes dois músicos podiam acabar com a sua carreira musical, dado o enorme impacto da morte de Kurt Cobain, ou então poderiam continuar com novos projectos, tentando assim colocar a sombra pesada dos Nirvana atrás das costas.

Nesse mesmo ano corria a notícia de que Dave Grohl, que na altura era mais conhecido como “o baterista dos Nirvana” do que pelo seu próprio nome, estaria prestes a lançar um novo álbum de originais com um novo projecto, uma banda sua através da qual conseguiria dar um marco importante na sua carreira musical, numa era pós-Nirvana. Depois de alguns convites para tocar bateria noutras bandas e projectos, o próprio sentiu-se enérgico e inspirado ao criar algo que fosse seu. Tal notícia deixaria alguns fãs dos Nirvana curiosos, e outros críticos musicais bastante interessados no que poderia vir do homem que esteve ao leme da bateria durante os quatro anos mais bem-sucedidos da banda norte-americana. No entanto, neste seu novo projecto, Dave Grohl deixaria de estar ao comando da bateria passando a estar à frente do palco como vocalista e guitarrista, o que não deixava de ser curioso. Na verdade já existiam algumas demos de Dave Grohl a interpretar canções escritas pelo próprio e, de facto, não se safava nada mal. Talvez este tenha sido o ponto de partida na formação daquela que poderia ser uma banda diferente, ao seu estilo, podendo até mesmo aproveitar o que aprendeu durante os quatro anos em que foi baterista dos Nirvana. Só que agora, tal como se diz na gíria, a música seria outra.

Formados ainda em 1994, numa versão bastante preliminar e indefinida, foram precisos poucos meses para que os Foo Fighters lançassem o seu primeiro álbum de originais. Contudo este álbum seria gravado sob o total domínio de Dave Grohl, que tocaria todos os instrumentos do álbum, mas ainda assim pretendeu lançá-lo com o nome daquela que viria a ser a sua banda, até porque não iria estar a gravar os álbuns seguintes nem a dar concertos a tocar todos os instrumentos sozinho. Só depois é que angariou alguns músicos já conhecidos do seu meio, nomeadamente o baixista Net Mendel e o baterista William Goldsmith, da banda Sunny Day Real Estate, originária do estado de Washington, tal como os Nirvana. Juntar-se-ia também Pat Smear, um experiente guitarrista que participou como músico convidado em algumas das tours dos Nirvana, gerando assim um conjunto musical interessante. O nome da banda, Foo Fighters, advém de um termo utilizado pelos aliados durante a segunda grande guerra para os chamados UFOs (Undifined Flying Object), ou OVNIs no nosso português corrente. O nome, bem como a organização da banda, já seriam suficientes para que Dave Grohl conseguisse desligar parcialmente do seu passado nos Nirvana, criando o seu projecto independente, que prometia ter muito para dar. O primeiro álbum de originais seria lançado no dia 4 de Julho de 1995, curiosamente no dia da independência dos Estados Unidos da América, e seria intitulado com o mesmo nome do conjunto.

A capa do álbum trata-se de uma fotografia tirada por Jennifer Youngblood, fotógrafa que, na altura, era também casada com Dave Grohl, de uma pistola oriunda do mundo de ficção científica da tão bem conhecida série dos anos 70 e 80, Buck Rogers. As gravações decorreram nos estúdios da Robert Lang Studios, editora para a qual os Nirvana gravariam algumas das suas últimas maquetes, que seriam eventualmente incluídas num possível trabalho futuro. Por ironia do destino, sairia um trabalho gravado por Dave Grohl em tempo recorde durante uma semana de Outubro de 1994, contando com a ajuda do produtor Barrett Jones. Grande parte das canções já teriam sido escritas quando Dave Grohl estava nos Nirvana, o que ajudaria também a sua gravação quase instantânea. Este foi assim um álbum que teve uma boa aclamação por parte da crítica, embora tenham existido comparações inevitáveis aos trabalhos da sua anterior banda. Contudo, a interpretação das canções demonstrava paixão e inspiração notórias que poderiam conduzir para uma novidade na música rock, naquele que seria uma década onde foram muitas as bandas e intérpretes a surgir e a tornar o rock num estilo mais belo e moldável.

Daí, que esta nova chamada para um rock novo, espontâneo, alegre e dinâmico tenha como começo a canção This Is a Call, que inaugura o álbum de estreia dos Foo Fighters. É após o som de um conexão a uma chamada telefónica que emerge a voz de Dave Grohl, acompanhada pela sua guitarra. Logo de seguida, os restantes instrumentos invadem a canção, tornando-a emotiva até ao fim. Marcada pelos versos do refrão “This is a call to all my / Past resignations / This is a call to all”, a canção terá sido escrita por Dave Grohl no verão de 1994, pouco tempo após a morte de Kurt Cobain, tornando-se numa peça que ainda é muito conotada à banda nos dias de hoje. Num registo mais intenso, surge I’ll Stick Around, um trabalho mais ao estilo dos Nirvana, embora se note nuances musicais e líricas distintas. O título que no fundo significa “Eu vou ficar por aqui”, pode ser interpretado como uma afirmação do próprio Dave Grohl ao garantir que, apesar da partida do seu maior companheiro na música, continuará a entreter o público, desta vez estando incluído num novo projecto. Na verdade, a letra da canção em si é encarada como uma indirecta a Courtney Love, mulher de Kurt Cobain, que muitos consideram a principal razão do seu suicídio e que se tornaria numa figura odiável para muitos fãs dos Nirvana.

Big Me, trata-se de um balada que Dave Grohl já teria gravado numa das suas demos que nunca tinham sido reveladas. Com uma letra simples, trata-se de uma agradável canção que, ainda hoje, é uma das mais reconhecidas do repertório da banda norte-americana e que foi, também, uma das canções de maior destaque do ano de 1995. Alone+Easy Target volta a exibir o rock que se alastra pelo álbum, com os versos “I’m alone and I’m na easy target” a marcarem o refrão. Já Good Grief apresenta um ritmo mais acelerado o que também ajuda a mostrar as futuras vertentes musicais deste novo conjunto no álbum de estreia. Com Floaty, voltamos a um registo inicial de balada que, rapidamente, salta para uma melodia grunge que se propaga até ao final da canção, enquanto que Weenie Beenie mostra um lado mais agressivo numa canção onde riffs repetitivos marcam compasso e onde a voz de Dave Grohl se encontra modulada em modo stereo. Oh, George trata-se também de outra canção ao estilo grunge que termina com um solo de guitarra bem definido, algo que daria ainda mais notoriedade ao álbum.

Na faixa For All The Cows, deparamo-nos com uma canção com uma letra engraçada que se inicia num registo calmo e muito suave que rapidamente sobe à escala do grunge, onde surge uma sequência de riffs de guitarra elétrica que acompanham a voz de Dave Grohl. X-Static, que conta com o contributo da guitarra de Greg Dulli, dos The Afghan Whigs, e Wattershed são outras duas canções que mostram esse rock repleto de energia, paixão e toda uma interacção musical que colocaria sorrisos nas caras dos ouvintes e inspiraria outras bandas a envergar por um estilo musical semelhante. Assim, após um conjunto de canções tão apelativas, surge a canção Exhausted, que dá por concluído aquele que seria o primeiro álbum de originais dos Foo Fighters. Esta canção foi escrita e composta quando Dave Grohl estava nos Nirvana, e demonstra fortes nuances de Kurt Cobain na sua interpretação. A letra e a execução instrumental mostram aquele que foi uma espécie de último suspiro do espírito dos Nirvana, espírito que ainda estava bem assente em Dave Grohl.

Há 25 anos, a chegada de um álbum da “nova banda do baterista dos Nirvana” era encarada com expectativa, mas também com a noção de que poderia ser um fracasso, tendo em conta tudo aquilo que se passou com um dos maiores sucessos musicais de uma era. Em 25 anos, os Foo Fighters tiveram um incrível lote de aventuras, entradas e saídas e membros, nove álbuns de originais, presença assídua nos maiores festivais de música e, hoje, são considerados uma das bandas de maior renome à escala global. O tempo acabaria por provar que Dave Grohl conseguiria sacudir a tão pesada sombra, deixando de ser conhecido como “o baterista dos Nirvana” para ser conhecido pelo seu nome, ou por “vocalista dos Foo Fighters”, ou até como “o tipo mais porreiro do rock”, como há quem lhe chame. É facto que os Foo Fighters, hoje, não são só Dave Grohl, sendo também compostos por músicos que conseguem dar alma e que permitem que esta seja uma banda que tenha sucessos nos concertos e nos novos trabalhos que enchem de entusiasmo aqueles que amam verdadeiramente o rock. E é assim, graças a bandas como esta, que o rock manter-se-á vivo com um futuro risonho e com muitas outras histórias e aventuras para contar.

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