Philip Roth, um dos maiores escritores norte-americanos da era contemporânea

por José Malta,    18 Março, 2018
Philip Roth, um dos maiores escritores norte-americanos da era contemporânea
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A sua extensa obra literária, que vislumbra toda uma américa em diferentes épocas e contextos, é marcada fortemente por personagens como Nathan Zuckerman, uma espécie de alter-ego seu, sendo que se coloca também a si mesmo como personagem principal em algumas das suas obras. Fascinado por Newark, cidade que utiliza muitas vezes como espaço no qual a acção dos seus romances decorre, tendo como grande influência a comunidade judaica da qual fez parte, Philip Roth é dono de uma carreira literária invejável. Tais obras valeram-lhe inúmeros prémios, entre os quais o Prémio Príncipe das Astúrias em 2012 e o Prémio Pulitzer em 2002, com a obra Pastoral Americana. Além disso, é uma aposta recorrente para vencedor daquele que é considerado o maior de todos os prémios literários: o Nobel.

Philip Roth consegue assim fazer, através das suas obras, um retrato exímio das diferentes eras nos Estados Unidos, abordando e evidenciando nos seus livros temas como a guerra, as políticas sociais, o racismo, os contrastes e toda uma conjuntura de questões à volta da inclusão judaica na comunidade Norte-Americana. Apesar de se encontrar de momento retirado da escrita, é um dos autores de maior prestígio do momento, continuando a atrair leitores de todo o mundo.

Nascido em Newark a 19 de Março de 1933, Philip Roth foi o segundo filho do casal Bess e Herman Roth, tendo passado a sua adolescência no bairro de Weequahic. Apesar de hoje ser assumidamente ateu, a comunidade judaica está fortemente presente em toda a obra de Philip Roth, sendo este um dos temas que mais fortemente aborda. Grande parte da ficção de Roth gira em torno de temas autobiográficos, enquanto aborda de uma maneira consciente as conexões entre o próprio e suas personagens fictícias. Exemplos desta relação entre a vida do autor e os seus personagens incluem narradores e protagonistas como David Kepesh e Nathan Zuckerman, bem como o próprio como protagonista em alguma das suas obras.

A carreira de Philip Roth começa ainda no seu período enquanto estudante universitário, na revista Chicago Review, onde publicou algum do seu trabalho enquanto escritor. O seu primeiro trabalho literário oficial publicado em 1959, Goodbye Colombus, valeu-lhe logo o prémio National Book Award de 1960. A obra mostra um olhar irreverente sobre a vida dos judeus americanos de classe média, satirizando, segundo a complacência e materialismo. Philip Roth estreava-se assim da melhor maneira, e os anos seguintes proporcionaram um grande sucesso comercial e apreciações positivas por parte da crítica. Durante a década de 1970, Roth experimentou em vários modos, entre os quais a sátira política presente em Our Gang, que mostra fortes críticas às políticas de Richard Nixon durante a década de 70. Publica ainda, em 1972, The Breast, uma sátira à obra “A Metamorfose” de Franz Kafka, cujo protagonista David Kepesh acorda com um peito feminino de considerável dimensão. Além deste, também The Professor of Desire (1977) e, mais tarde, The Dying Animal (2001), utilizam David Kepesh como protagonista.

No final da década de 70, Roth criou o seu alter-ego e uma das personagens mais marcantes da sua obra literária: Nathan Zuckerman. Numa série de romances altamente autorreferenciais e novelas que se iniciaram em 1979 com The Ghost Writer, Zuckerman apareceu como o personagem principal e como interlocutor noutras tantas obras, como Zuckerman Unbound (1981), The Anatomy Lesson (1983) e ainda The Prague Orgy (1985). Publicou ainda uma segunda série de romances onde Zuckerman surge como narrador, nomeadamente, The Counterlife (1986), o tão ilustre American Pastoral (1997) – que retrata os Estado Unidos da década de 60 e a Guerra do Vietname, e adaptado ao cinema em 2016 por Edward McGregor – I Married a Communist (1998), The Human Stain (2000) e Exit Ghost (2007). Publicou também, utilizando-se a si mesmo como personagem e protagonista, Novotny’s Pain (1980), The Facts: A Novelist’s Autobiography (1988), Deception: A Novel (1990), Patrimony: A True Story (1991), Operation Shylock: A Confession (1993) e The Plot Against America (2004), obras que dão uma notoriedade não só ao escritor, mas também ao cidadão e ser humano, que dão alma a um Philip Roth que hoje conhecemos e que chega até nós através da sua escrita. A sua obra literária termina com a série Nemesis, constituída por pequenos romances e iniciada em 2006 com Everyman, que lhe valeu o prémio Faulkner Award for Fiction de 2007, seguindo-se de Indignation (2008), The Humbling (2009) e terminando com Nemesis (2010), fechando assim uma carreira literária invejável composta por obras de ficção, romances, contos e um lado humano bastante presente em toda a sua obra.

Hoje com 85 anos e estando já afastado da rotina literária de escritor, Philip Roth é considerado ainda um dos maiores escritores de renome do momento, continuando a atrair leitores de todo o mundo e estando ligado ao que de melhor se produz na literatura dos novos tempos. É certo que a cereja no topo do bolo, que é a sua obra completa, será mesmo o Nobel, o prémio que consegue dar aos escritores o mais alto patamar literário e que teima cada vez mais em surgir. Contudo, os prémios literários promovem os escritores, mas não a sua produção literária, pois a promoção desta será sempre feita com ideias, com métodos de escrita e acima de tudo com livros. O que é certo é que a obra literária de Philip Roth já lhe valeu reconhecimento, admiração e estima pelos leitores de todo o mundo, e estes são prémios que conseguem ser muito mais valiosos do que qualquer outro prémio literário.

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