Pedro Augusto Almeida: um jovem cineasta de Setúbal a tomar em conta no futuro do cinema nacional

por João Miguel Fernandes,    26 Julho, 2018
Pedro Augusto Almeida: um jovem cineasta de Setúbal a tomar em conta no futuro do cinema nacional
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Pedro Augusto Almeida nasceu e cresceu em Setúbal, uma cidade de artistas e pescadores, de bom peixe e boas obras de arte. Nos últimos anos a cidade assistiu a um êxodo artístico que levou para fora das suas fronteiras artistas como Gonçalo Duarte, John Filipe, Vasco Vicente, António Piedade ou Zé Quintino.

A ligação entre cidade e as artes sempre se fez de forma homogénea. O rio Sado, a Serra da Arrábida e todos os bairros típicos sempre motivaram os jovens a construírem ideias e a explorarem a sua criatividade. Pedro Augusto Almeida é mais um desses exemplos.

Com cerca de 18 anos mudou-se para Abrantes, onde completou uma licenciatura em vídeo e documentário. Durante esses três anos realizou vários vídeos que foram exibidos em festivais de cinema um pouco por todo o país. No final de 2012 foi seleccionado para o projecto “Borderline”. O projecto foi produzido pelo NISI MASA com o apoio da “Guimarães Capital Europeia da Cultura 2012”.

É então em 2014 que surge a sua primeira aventura mais desafiante como realizador, com a curta-metragem “Por Aqui nada de Novo”. Esta curta abriu-lhe várias portas, tendo sido exibida no prestigiante Festival Internacional de Curtas-Metragens do Rio de Janeiro no Brasil e em várias cidades portuguesas.

Problemas sociais e personagens com carências financeiras/sociais são foco principal das suas histórias. Se na sua primeira curta-metragem conseguimos observar diversos planos estrategicamente bem criados e uma narrativa sólida, na sua segunda aventura como realizador em “Prefiro não dizer” começamos a verificar maior maturidade, cuidado com a fotografia e luz, atenção ao detalhe no ponto de vista de ligação entre argumento e realização, entre outros factores que começam a tornar Pedro Almeida num nome a ter em atenção.

Contudo, as duas primeiras curtas-metragens revelam ainda algumas precipitações. Na primeira a escassez de planos e o argumento simples torna-a algo limitada, o que é pena tendo em conta ideia geral, bem construída. Na segunda curta-metragem estamos perante uma brilhante interpretação de Tânia Ribeiro (premiada em vários festivais) e de uma excelente narrativa labiríntica entre o que “parece” e o que “é realmente”. Em ambos os trabalhos o facto dos problemas sociais serem o ponto essencial da narrativa limitam o ponto de vista criativo. Já o seu segundo trabalho é sem dúvida uma evolução, tanto a nível técnico como de carácter escrito, mas mais uma vez cinge-se à realidade portuguesa explorada em muitas curtas-metragens do nosso país.

E eis que chegamos ao terceiro trabalho do jovem realizador, “Laranja Amarelo” e à celebração total do seu cinema. Pedro Augusto Almeida dá um salto de gigante, pega em todas as suas armas e valências passadas e cria uma excelente obra dramática, cujo foco são as relações pessoas/amorosas, transpostas para o ecrã de forma tão simples. É esta arte que torna uma pessoa num verdadeiro realizador, esta capacidade de criar uma história simples, falar de relações complexas e sentimentos como se fosse fácil. Tecnicamente “Laranja Amarelo” é provavelmente o seu melhor trabalho. A luz e fotografia são excelentes, os planos são criativos e desafiantes (há um em particular a fazer lembrar as cores e tonalidades do cinema de Jean Pierre Jeunet) e os personagens são reais, palpáveis e humanos, tal como no seu trabalho anterior.

“Laranja Amarelo” pode ser visto em locais específicos pelo país, em pequenas exibições ou pedindo directamente a sua exibição ao próprio realizador.
Resta esperar para ver qual será o passo seguinte de um jovem que criou o seu universo, quebrou as barreiras do conforto e está agora a desafiar-se com novas realidades.

https://vimeo.com/213579260

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