Paredes de Coura 2018: o que sugerimos

por Comunidade Cultura e Arte,    14 Agosto, 2018
Paredes de Coura 2018: o que sugerimos
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Sabemos que o mundo dos festivais portugueses estaria incompleto sem o Vodafone Paredes de Coura – este ano na sua 26.ª edição, o cartaz oferece-nos um eclético conjunto de bandas do panorama alternativo internacional. O habitat natural da música – é esta a frase bandeira desta festa. E é de facto o cenário florestal que nos faz acreditar que muitos dos concertos que ali acontecem ganham uma aura incomparável. Destacamos alguns daqueles que mais temos antecipado, e que não iremos perder por nada entre 15 e 18 de Agosto junto à praia fluvial do Taboão.

KING GIZZARD & THE LIZARD WIZARD (15 Agosto, Palco Vodafone, 23h15)

Saídos de um 2017 em grande, com cinco álbuns lançados, tours intermináveis e muita música, os King Gizzard and the Lizard Wizard são mais uns dos retornados a Paredes de Coura. A energia que caracteriza os concertos da banda é inevitável, e muito provavelmente será redobrada pelo entusiasmo que o público português manifesta relativamente a estes australianos. Desde a última passagem por Portugal, os King Gizzard and the Lizard Wizard lançaram três novos álbuns, pelo que música nova não irá faltar, assim como motivos para ver o concerto. Esperamos uma passagem pelas várias vertentes do som da banda, incluindo o jazz e bossa nova de Sketches of Brunswick East ou o psicadelismo característico de Flying Microtonal Banana.

JAPANESE BREAKFAST (16 de Agosto, Palco Vodafone FM, 20h30)

A discografia de Japanese Breakfast tem-se construído à imagem de uma montanha russa de emoções. Por um lado, a produção tem-se alterado de trabalho para trabalho, caminhando progressivamente de um invólcro lo-fi para uma paisagem mais polida e aprimorada; por outro, os sentimentos permanecem crus, expressos pela voz simultaneamente doce e cortante de Michelle Zauner. O segredo é a intensidade e sinceridade, que neste seu projecto a solo encontrou um trampolim que catapultou a sua carreira (ao fim de alguns anos enquadrada numa anterior banda de midwest emo, os Little Big League, que nunca chegou a levantar tão alto vôo). Paredes de Coura será o priveligiado habitat que acolherá pela primeira vez em Portugal uma das artistas indie que mais tracção tem ganho no último par de anos. Estamos ansiosos por nos perder no indie rock melódico e destrutivo de Zauner, que promete conquistar até os mais incrédulos – Japanese Breakfast é talvez a confirmação mais forte do palco secundário do festival.

FLEET FOXES (16 Agosto, Palco Vodafone, 23h15)

Em 2017, os Fleet Foxes conseguiram isolar o público do bulício do NOS Alive com a sua música emotiva e contemplativa, e uma quota-parte de momentos catárticos. Imaginamos então o que a banda conseguirá fazer no amplo anfiteatro natural que alberga o Vodafone Paredes de Coura. As belas melodias de guitarra fundir-se-ão com o arrulhar do rio Coura, em canções delicadas como “The Cascades” ou “On Another Ocean (January / June)”; enquanto que clássicos como “Your Protector” ou “Helplessness Blues” apontarão para o céu aberto e ecoarão pela serra com a ajuda das vozes do público. Ainda na senda de Crack-Up, um dos álbuns mais refinados de 2017, a banda demonstrará o que aprendeu naquele que promete ser um dos concertos mais bonitos não só do festival, mas do ano.

JUNGLE (16 Agosto, Palco Vodafone, 00h45)

Com uma reputação ao vivo que os precede, os britânicos Jungle impressionam o público com os seus ritmos neo-soul carregados de baixo pulsante, que impelem a dançar. A presença carismática e falsettos característicos de Josh e Tom, mentores do grupo, também ajudam a convencer-nos das boas intenções do colectivo, que se está a preparar para lançar um novo álbum – For Ever – em Setembro próximo. Deste novo trabalho já se conhecem quatro amostras, que decerto serão ouvidas em Paredes de Coura. “Heavy, California” é a canção mais directamente dançável que a banda já fez e será certamente mais um momento de festa que se juntará às já conhecidas “Busy Earnin’” e “Drops”, nas suas traduções soberbas ao vivo, que merecem ser ouvidas e vistas.

LUCY DACUS (17 Agosto, Palco Vodafone, 18h30)

Lucy Dacus é um dos mais recentes nomes a surgir no panorama indie: a cantautora americana acaba de lançar o seu segundo trabalho, não totalmente distante da expansividade da música de Mitski, embora com características absolutamente diferenciadoras. As composições, com os seus crescendos vocais e de guitarra, convocam um espaço de poder, afirmam-se e ganham espaço – convencem. Dacus impõe-se nos seus álbuns de estúdio, e estamos em crer que a sua estreia em Portugal confirmará em palco o mesmo fenómeno. O indie rock cantado no feminino está definitivamente em força no cartaz do Paredes de Coura. Embora não faça sentido elencarmos neste artigo todas as coisas boas que iremos ouvir, é impossível não referir Frankie Cosmos como outro incontornável exemplo do género, também a marcar presença nas margens do Taboão. Este processo de acumulação, que revela uma interessada, pertinente e atenta curadoria, fala alto no panorama dos festivais portugueses.

KEVIN MORBY (17 Agosto, Palco Vodafone, 19h40)

Esta edição do Vodafone Paredes de Coura está marcada pelos seus regressos, entre os quais se inclui o nome do norte-americano Kevin Morby. O folk rock introspectivo e bucólico de Singing Saw, álbum anterior do artista, encontrou uma casa nas margens do rio Coura em 2016, mas agora é a vez de City Music. Com uma sonoridade mais expansiva, Kevin Morby irá encher o anfiteatro natural de Paredes de Coura num adequado horário de final de tarde. A sua mestria de guitarra e letras entusiasmantes evocam uma sede de viajar, sentimento que também guiou o público do festival até à vila nortenha. Este concerto será uma boa oportunidade para entender por que se urgiu um regresso tão rápido deste prolífico músico a Paredes de Coura.

SLOWDIVE (17 Agosto, Palco Vodafone, 23h15)

Foram um dos melhores regressos da década no mundo da música – vinte anos depois da edição de Pygmalion e do desmembramento da banda, os Slowdive surpreenderam-nos em 2017 com a edição de um novo disco, num regresso que se aproximou da elevada fasquia da sua mítica carreira. Encontram-se entre os definidores da dream pop e do shoegaze, e as múltiplas camadas que sobrepõem nos espectáculos ao vivo convocam um grau de beleza único e muito envolvente. Estivemos nos concertos da banda em Portugal no início deste ano (tanto em Lisboa como no Porto). Saímos deslumbrados. Por isso o encore de Coura terá um gosto a prolongamento, desta vez tendo apenas o céu por tecto. Queremos desfrutar cada minuto como se fosse a última emissão de uma luz que não sabemos por quanto mais tempo permanecerá acesa, já que não é evidente se o fluxo criativo da banda voltará a eclipsar-se (como após a primeira vaga no início dos anos 90).

BIG THIEF (18 Agosto, Palco Vodafone, 21h20)

Os Big Thief não são apenas mais uma banda. Excluindo os consagrados cabeças de cartaz, existe mesmo a possibilidade de serem o mais surpreendente dark horse do cartaz desta edição do festival. Nunca se sabe bem o que iremos ouvir quando começa um concerto dos Big Thief; as suas setlists mais ou menos imprevisíveis incluem uma parcela significativa de músicas nunca lançadas. Em dois anos de existência, contam com dois álbuns e um EP – transbordam produtividade, criatividade e emoção. As letras – sublimes. A sonoridade – reinventando a pólvora, a partir de uma refrescante abordagem do indie folk, injectando-lhe eficácia e paciência. A voz de Adrianne Lenker é um poderoso portal para novas percepções da vida, da fragilidade e da entrega. Vai ser seguramente um grande concerto, a não perder, na estreia do colectivo em solo nacional. São o estandarte do melhor que o género tem para oferecer neste momento – são o som fresco do momento.

DEAD COMBO / M. LANEGAN (18 Agosto, Palco Vodafone, 23h15)

O duo português que muito tem contribuído para a internacionalização da música portuguesa com o seu híbrido de rock e sons latinos e africanos, assente na atmosfera do nosso fado, regressa a Paredes de Coura após 6 anos, ainda maiores e com mais música na bagagem. Um grande destaque deste regresso claramente será a participação especial do colosso Mark Lanegan no concerto, mas a música dos Dead Combo não precisaria disso para chegar ao público, pois bastariam momentos intimistas como os de “Esse Olhar Que Era Só Teu” ou “Anadamastor”, ou então a dança desgarrada de “Lisboa Mulata”. Quem viu os Dead Combo recentemente, sabe que estão em topo de forma ao vivo, e nada melhor que um concerto num dos festivais portugueses mais reputados para provar isso mesmo.

ARCADE FIRE (18 Agosto, Palco Vodafone, 01h00)

A longa e sólida carreira dos Arcade Fire colocam a banda canadiana no pedestal da indie – eles são a banda de uma geração. E foi ali, no meio da floresta de Paredes de Coura, que Portugal os viu primeiro. Corria o ano de 2005, e muitos ainda se recordam dessa estreia fulgorosa. Regressam agora ao norte do país, pela primeira vez desde essa altura, com a missão de encerrar em festa o último dia do festival. Não vai ser difícil: teatrais, intensos, emocionais – o público cantará e dançará até gastar os últimos cartuchos. Não esqueceremos o desgosto de Björk nos ter fugido, mas Arcade Fire serão o melhor dos remédios. Antevemos já, com expectativa, um memorável concerto.

Artigo redigido por Bernardo Crastes e Tiago Mendes

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