Os nossos melhores filmes do ano

por Comunidade Cultura e Arte,    31 Dezembro, 2017
Os nossos melhores filmes do ano
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Final do ano é sinal de retrospectivas, nostalgia e… tops. O Cinema é obviamente uma das Artes que discussão promove e as listas de melhores filmes do ano por parte de pessoas em nome próprio ou medias são já dado adquirido. Não fugimos à regra e fizemos a nossa lista dos filmes que mais gostámos de ver ao longo deste ano de 2017. Sabendo de antemão que é sempre impossível que tais escolhas sejam unânimes, tentámos.

Para esta lista só foram contabilizados filmes que tenham tido estreia ou antestreia (por exemplo em festival de Cinema) neste ano de 2017 em Portugal. Decidimos ainda não incluir na mesma filmes que estiveram nomeados aos Óscares em 2017, por acharmos que os mesmos já tiveram o reconhecimento devido.

23 – 120 Battements par Minute

Filme-sensação da 70.ª edição do Festival de Cinema de Cannes, 120 Batimentos Por Minuto recebeu o Grande Prémio do Júri. A realização, a cargo de Robin Campillo leva-nos até início da década de 1990 onde um grupo de activistas se esforça por captar a atenção da opinião pública para a epidemia de SIDA através de um grupo criado por alguns jovens, o Act Up, para promover acções não-violentas em defesa da prevenção e do tratamento da doença.

22 – Fábrica do Nada

Esta história foi Pedro Pinho que nos trouxe, numa adaptação da peça homónima escrita por Judith Herzberg há 20 anos e que Jorge Silva Melo, de quem partiu a ideia original deste filme, encenou com os Artistas Unidos em 2005. Mas do texto original pouco sobra neste filme de três horas, de ficção por onde hão de entrar o musical que percorria toda a peça original e o documentário. Retrato de um Portugal em crise económica e de valores, Fábrica do Nada foi um marco do cinema nacional em 2017.

21 – Aquarius

Realizado por Kléber Mendoça Filho com Sónia Braga num pungente papel este filme é uma manifestação de força num Brasil contemporâneo. Clara (Sónia) é a única habitante que num condomínio resiste à venda do seu apartamento a uma construtora. Não há preço que nos faça abdicar da memória e sobretudo, a prova de que não há preço que nos faça mudar os nossos ideais.

20 – I am not a serial killer

Foi uma surpresa surpreendente a qualidade do filme que passou em exclusivo por Portugal no festival IndieLisboa. I Am Not a Serial Killer é um drama de suspense e terror original e criativo que coloca um jovem com tendências de psicopatia a investigar por interesse próprio sobre a identidade de um misterioso assassino em série que assola a comunidade local num Inverno rigoroso do interior dos Estados Unidos. O jovem Max Records é uma promessa para o futuro, assim como o seu co-protagonista Christopher Lloyd é um charmoso regresso ao passado.

19 – kfc (Crítica)

Esta curta longa-metragem de 70 minutos vietnamita é praticamente desconhecida pela própria internet, e só tivemos o “prazer” de o ver em Portugal a propósito da sua exibição no Motelx 2017. Trata-se de um drama de terror, com temáticas cruéis e macabras apenas para os fortes de estômago, mas em que o realizador Le Binh Giang consegue extrair uma história, planos e fotografia dignas de antologia. Há mais alma e substância em cada uma destas personagens interligadas, provavelmente com menos de 15 minutos de écrã cada, do que na esmagadora maioria das produções cinematográficas de hoje.

18 – The Handmaiden

Chan-wook Park é melhor conhecido pelo seu Oldboy – o original coreano de 2003 – onde fornece uma das derradeiras reviravoltas na narrativa das últimas décadas no cinema. The Handmaiden é uma nova montanha russa imprevisível do realizador coreano, mas diferente na densidade das personagens, principalmente nas três principais, interligadas por uma linha que não permite que qualquer uma delas exista sem as outras em nenhum momento. É um filme tão cru e duro como os melhores que Park já nos deixou até hoje.

17 – The Lost City of Z

A Cidade Perdida de Z conta a fantástica história verídica do explorador inglês Percy Fawcett (Charlie Hunnam), que viaja ate à Amazónia no início do século XX e descobre provas de uma avançada civilização até então desconhecida, que terá habitado a região. O filme de James Gray transporta-nos até à época e leva-nos a um ambiente em muito semelhante ao clássico Apocalypse Now, de Francis Ford Coppola.

16 – The Square (Crítica)

Merecido vencedor da Palma de Ouro deste ano, The Square é o desconcertante novo filme de Ruben Östlund, realizador do aclamado Força Maior, e uma sátira ao mundo das artes e dos media que conta com Elisabeth Moss e Dominic West no elenco.

15 – The Disaster Artist

The Room é um marco no cinema, por entrar na categoria tão específica de filmes que são tão maus que se tornam bons. Tommy Wiseau tornou-se uma verdadeira personagem além do filme que criou e tudo isto se tornou o material para, primeiro, o livro de Greg SesteroThe Disaster Artist” e, agora, o filme com o mesmo nome realizado por James Franco. A representação de Wiseau está brilhante e a mensagem transmitida vai além daquilo que se poderia prever aquando do visionamento do The Room.

14 – Dunkirk (Crítica)

Escrito por Christopher Nolan, Dunkirk retrata a retirada das tropas aliadas de Dunquerque para a Grã-Bretanha durante a Segunda Guerra Mundial. Cercadas por tropas alemãs, na praia estavam cercadas centenas de milhares de tropas britânicas, francesas e belgas que aguardavam por salvação via mar. O retratado no filme é toda essa luta, essa angústia e toda essa luta pela sobrevivência no meio do caos. É em ambientes como estes que a verdadeira natureza humana vem ao de cima, e Dunkirk retrata bem isso em muitos momentos acompanhando sobretudo as personagens interpretadas na perfeição por Fionn Whitehead (Tommy), Anneurin Barnard (Gibson) e Harry Styles – esse mesmo, o de One Direction – (Alex); três personagens que representam o lado mais humano e o mais cruel de toda esta história. Rostos novos, uma excelente escolha de Christopher Nolan.

13 – Coco (Crítica)

A subtileza com que a perda e a importância de recordarmos aqueles que nos são queridos (algo com que a Pixar sempre lidou, mas recordamos facilmente por exemplo em Up) nunca foi tão bem tratada como em Coco pela companhia norte-americana. Repleto de twists, cor e com uma banda sonora à altura, Coco ganha ainda todo um novo significado mais perto do final, onde a importância do nome desta história se clarifica num e faz terminar o filme de lágrima cambaleante no canto do olho.

12 – Lucky (Crítica)

O canto do cisne de um dos actores mais queridos do público, Harry Dean Stanton, que faleceu este ano aos 91 anos. Lucky é um belíssimo filme e está nesta lista por mérito próprio. Uma reflexão poética e simples sobre a mortalidade que o próprio actor nonagenário enfrentou, traduzida na sua simples rotina de dia a dia numa vila rural dos Estados Unidos, com diálogos minimalistas e assertivos, aliados à melhor interpretação do veterano actor desde Paris, Texas.

11 – Good Time (Crítica)

Murro minimalista e realista por parte dos irmãos Benny e Josh Safdie protagonizado por Robert Pattinson, criminoso que após um assalto falhado a um banco tem uma corrida contra o tempo para tentar libertar o seu irmão da prisão. Poderoso e pesado drama, o filme prima também por um estilo visual algures a fazer lembrar Refn.

10 – La mourt de Louis XIV (Crítica)

Com uma interpretação perfeita por parte de Jean-Pierre Léaud, o filme de Albert Serra faz-nos crer estarmos perante um tableau vivant – expressão imortalizada no Cinema através do mestre Luís Buñuel que em Viridiana, recorrendo a um grupo de mendigos representou a “A Última Ceia” de Leonardo da Vinci, valendo-lhe obviamente fortes críticas por parte da Igreja – de uma qualquer obra de Rembrandt, pintor e gravador holandês mais conhecido pelos seus retratos e ilustrações de cenas bíblicas. Rico em detalhes, parece por vezes tratar-se de uma peça de teatro o que vemos em ecrã, mas cujo efeito total se perderia na impossibilidade dos close-ups que vamos tendo ao longo das quase duas horas de filme, onde os rostos sóbrios, ora desacreditando a situação ora apreensivos do austero Fagón (Patrick d’Assumção), o médico, incapaz de fazer um prognóstico e Blouin (Marc Susini), o principal criado e confidente do rei, ambos interpretados de forma fabulosa e que só rostos experientes conseguiriam levar à câmara.

9 – Song to Song (Crítica)

Cada cena de Song to Song parece ter vida própria, abrindo e encerrando um capítulo, com uma realização notável. O triângulo amoroso entre as personagens de Michael Fassbender, Rooney Mara e Ryan Gosling vai-se desenrolando através de diálogos preenchidos, em cenários luxuosos e bem construídos, à medida que saltamos “de música em música”. Através das várias faixas vamos encontrando pequenos pedaços que nos são transmitidos por grandes nomes reais da música, ajudando a avolumar a intensidade das relações entre todas as personagens, principal ponto de interesse de mais uma óptima compreensão da emoção humana de Terrence Malick.

8 – Wind River (Crítica)

É uma América selvagem aquela que Taylor Sheridan cria, idealiza e nos mostra nas suas obras, sobretudo em Wind River. Uma América onde a beleza, constatável nas paisagens naturais, no ambiente e, por consequência, na fotografia sempre fantástica dos seus filmes, se confronta – e nos confronta – com o selvático geralmente oriundo da natureza (e profundeza) humana, cruel e crua nas suas acções. Wind River não é excepção; pelo contrário, é o filme onde a diferença entre o lado humano e animal é menos tangível e ambos se confluem num só, despojados de sensibilidade, racionalidade e, por fim, perdão, característica que nos é tão necessária. O cinema de Sheridan é feito de traços comuns, mas cada um desses traços traz consigo uma uma frescura de se aplaudir e uma capacidade de nos causar desconforto ao mesmo tempo que nos mete a pensar sobre o sucedido.

7 – Mother! (Crítica)

A visão apocalíptica de Darren Aronofsky que seguimos através da personagem sem nome de Jennifer Lawrence é a base de Mother!. Não é um filme consensual, mas quem o estranha é também quem não está já habituado aos planos e à realização que tornaram Aronofsky conhecido no passado. Cada cena individual causa um mal-estar enorme na personagem e no espectador, à medida que, progressivamente, Lawrence se encontra num nível mais elevado de desespero. Nenhuma antecipação é suficiente para o final caótico que encerra mais uma peça fantástica do realizador americano.

6 – Three Billboards Outside Ebbing Missouri (Crítica)

Este é o retrato da América rural de Martin McDonagh, o realizador que havia assinado aquilo que já se pode considerar um filme de culto: In Bruges, de 2008. A linguagem utilizada é a expectável, um misto de drama e comédia negra no qual uma mãe solteira desafia as autoridades da vila que dá título ao filme que tardam em descobrir o assassino da sua filha adolescente. Frances McDormand tem talvez a melhor interpretação feminina do ano, assistida por um Woody Harrelson em pico de forma e Sam Rockwell encarnar um dos papéis mais desafiantes do ano.

5 – Logan

Não estávamos habituados a filmes de heróis assim. O filme, realizado por James Mangold, o mesmo de Wolverine e Walk the Linemostra-nos o anti-herói às voltas com um pedido de Charles Xavier (Patrick Stewart) para proteger Laura Kinney (ou X-23), uma jovem mutante com habilidades semelhantes à de Wolverine. Tudo isto num mundo devastado após a morte de diversos mutantes. Negro, melancólico e, sobretudo, realista, Logan é um verdadeiro soco no estômago.

4 – Call Me By Your Name

Estreou em Portugal no Lisbon & Estoril Film Festival e pelos elogios e constante presença em listas de melhores filmes do ano, Call Me By Your Name pode ser considerado o ponto de viragem do cinema queer independente para o grande público. Realizado por Luca Guadagnino, esta é a história de um primeiro amor entre o adolescente Elio e um universitário americano Oliver, interpretado por Armie Hammer, num idílico Verão no Norte de Itália em 1983. Timothée Chalamet, enquanto Elio, corporiza este sentimento universal de forma brilhante, com um argumento sobre o qual quanto mais se reflecte, mais onírico se torna.

3 – Blade Runner 2049 (Crítica)

A realização do filme é soberba. Denis Villeneuve estudou ao detalhe cada plano, cada característica do filme original, cada elemento da cultura actual e criou uma obra que vai ainda mais além do que o de 1982 criou (a nível técnico, não estético). Do ponto de vista técnico “Blade Runner 2049” é uma obra prima. A cinematografia de Roger Deakins aliada à edição de som tornam este filme numa das melhores obras do cinema de acção dos últimos anos, possivelmente a par com “Mad Max: Fury Road” (2015). Os planos, cortes, sequências e elementos cénicos estão primorosos, criando um ambiente que só conseguimos mesmo encontrar no filme original.

2 – Get Out (Crítica)

Get Out não é um filme que se destaque pela mestria da sua execução ou por interpretações brilhantes. Pertence, no entanto, a uma rara linhagem de filmes repletos de mérito pelo diálogo social que são capazes de criar, cumprindo assim em absoluto essa árdua tarefa de nos fazer sair da nossa redoma e interrogar o que nos rodeia. Um propósito maior que Jordan Peele conseguiu alcançar bem ao seu estilo. Desprovido de convencionalismos, Get Out tem o condão de nos encaminhar lentamente num sentido para o qual nunca nos chega a preparar, criando uma aura e estranheza e imprevisibilidade repleta de momentos que nos fazem lembrar a série Black Mirror.

1 – Paterson (Crítica)

O mais recente filme de Jim Jarmusch é um filme genial sobre absolutamente nada de especial. Paterson conduz um autocarro, escreve umas linhas de poesia desajeitadas e lida com uma vida normal dia após dia, terminando-se sempre a beber um copo num bar próximo. É nos detalhes que está a riqueza, na manutenção da simplicidade que dura até ao fim e que proporciona um espelho de uma realidade que não tem de ser maior do que si mesma.

Artigo redigido por David Bernardino, João Estróia Vieira, João Miguel Fernandes e Sandro Cantante.

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