Os ímpetos dos novos rumos do ser

por Lucas Brandão,    21 Novembro, 2017
Os ímpetos dos novos rumos do ser
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Por entre as forças criativas, as pulsões remetidas e estimuladas pelo estudo da psicologia e da sociologia, há algo que vai para além de todo o estudo antropológico, e para o qual nada do que é teórico e científico é chamado. Por mais interessante e pertinente que se revele, talvez more mais a felicidade no ignoto, no desconhecedor que carece de saber, mas que se enriquece com a sabedoria de viver, com algo que está para lá dos livros.

No entanto, nada disto descura aquilo que é a importância da educação. Para se manter os sentidos bem abertos e despertos para a realidade envolvente, torna-se indispensável que a educação esteja lá. Para lá de saber somar e subtrair, multiplicar e dividir, associar estas operações à vida real, naquilo que são as suas várias aplicações e os seus desdobramentos, não perde nenhum grau de relevância.

Porém, o que é a vida sem se sentir, sem se exprimir, sem se saborear? Por muito que se aprenda, por muito que se conheça, por tanto e pelo imenso potencial que um alguém tenha, não é feito para ficar na prateleira, numa promessa que se vai adiando consoante os dias passam, consoante as jornadas se acumulam num calendário que se acende em dúvidas e questões.

Claro que tudo por escrito parece tão fácil. Como não percecionar todas as barreiras construídas e erigidas nas expectativas criadas e depositadas, em halos de sobreproteção e de sobrestima. São palcos nos quais ninguém se vê feliz, remetido a promessas de um foro equivalente às sinas familiares, que encaminharam os potenciais académicos a linhas de orientação e de atuação muito próprias. O potencial individual não se trabalhava nem se descobria. Determinava-se, e sobreviveria, na sua boa sorte, na selvajaria da competição e da competitividade, não se dando ao trabalho de colocar tudo em questão, inclusive as próprias esperanças criadas, com ou sem fundamento.

Nestes tempos novos, de século XXI, e por muito que seja relevante não esquecer os retrógados cantos antípodas dos nossos, nos quais a civilização estagnou muito antes das legislações com os direitos de todos os seres humanos, os ímpetos estão em mãos cada vez mais seguras. Existem mais condições, mais meios, mais inspirações e recursos. As mentes vão-se ampliando e deixam os rótulos nas gavetas que acumulam pó, onde está o triste lastro de obstáculos criados à independência e à emancipação de cada um. Por mais que as gerações vão passando, ninguém apaga a história. As lições, por mais deduzidas e assimiladas que estejam, não deixam de pairar em aulas esquecidas, nas teorias que poucos querem explorar, mas que foram as práticas de outros alguéns.

Hoje, sente-se mais a voracidade generalizada, a vontade de se conquistar o mundo com experiências únicas, com uma personalidade única, que se molda com os conhecimentos proliferados por tudo que é meio. A vontade de diferenciação é crescente, por mais padronizada que essa intenção esteja. Todos querem ir ali e acolá, todos querem fazer isto e aquilo. No entanto, isso torna-se menos proeminente quando a felicidade reside nessa concretização. Por outro lado, não deixa de ser comum existirem vozes que queiram algo diferente. Não se querem render ao mercado de trabalho, não se querem medrar pelos rumos predestinados que os próximos anos, que as próximas décadas preconizam e preveem. Querem algo mais, algo que acrescente, de facto, algo de substancial no seu período de vida. Algo mais do que dinheiro na conta bancária, algo mais que uma mera experiência turística.

É aqui que entra um certo desejo de mudança, compelido e intuído num novo sentido de mudança. São ímpetos diferentes, descobertos consoante a experiência varia e enriquece, partindo para lá daquilo que a tendência social. Encontrar a individualidade no quotidiano é um desafio cada vez mais empreendido, cada vez mais curioso. É nesse caminho voltado para dentro, na companhia repleta da solitude, que se desvenda uma personalidade cada vez mais rica, e que se apetrecha para se proporcionar ao mundo como alguém que, por certo, se trata de alguém diferente, desmembrado do que é normal ou natural.

Os impulsos partem, assim, de proveniências novas, para lá do habitual. O conhecimento está disponível para os curiosos, para aqueles que se querem sintonizar com o máximo de coisas diferentes, reforçando o seu rumo. Porém, nada disto pode e deve ceder o lugar ao pleno viver, à plena experiência, ao pleno reencontro com uma essência que faz, dos escritos dos poetas mais badalados e lidos, a verdadeira vida. Porque quem da poesia fez legado para a eternidade, dos mais rabiscados aos mais maturados, fez da própria linha cronológica da sua vida os versos e as estrofes que constituíram esse precioso testemunho na primeira pessoa. Seja do amor, da dor, dos receios e anseios, das irritações e convulsões, das iras e raivas, das contemplações e revoluções. A ficção imaginada e rendilhada só ajudou a que se estilizasse o perfumado vivido, porque nada substitui a experiência.

Por mais que se saiba, os impulsos dos novos rumos de se conquistar a vida, agora mais disposta e entrosada com os sonhos e metas de cada um, nunca deixarão de conter, na sua génese, o beijo e a estalada, o berro e o elogio, a crítica e a dor, o abraço e o embaraço de um novo conhecer, de um novo contactar. Entre novas e velhas realidades, entre novas e velhas culturas, permanece um intenso providenciar de uma experiência que se redesenha, de tão diferenciada e inspirada por referências tão únicas e evidentes. O potencial arranca e, dele, se faz um espetáculo pirotécnico, que se enche das cores assinaladas nas ditas composições líricas, recheadas de uma musicalidade inaudível e de um figurativismo invisível. A arte é o espelho da comunidade, que se vai desenhando geracionalmente, e que vai construindo identidades únicas e indivisíveis. É já hoje que se coordena a nova corrente artística, que, por ironia (ou falta desta) do destino, se vai desenhando uma plenitude de novas formas de se sentir, de se viver, de se ser. Como espelhos da humanidade, canta-se hoje, em pulmões dotados e cheios, um novo hino da felicidade.

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