Os 50 melhores álbuns internacionais de 2019

por Comunidade Cultura e Arte,    23 Dezembro, 2019
Os 50 melhores álbuns internacionais de 2019
Ilustração de Carlota Real / CCA
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Ao longo dos últimos anos, o advento da cultura de streaming e curadorias de playlists tirou o foco daquela que é, por excelência, a forma de ouvir música: o álbum. Ter acesso à visão de um artista ao longo de um conjunto de músicas é uma experiência riquíssima e, hoje em dia, quase um privilégio. Dificilmente noutra época teremos tido música tão diversificada a ser feita. Este é o reflexo de uma sociedade cada vez mais global e (gostamos de acreditar que sim) inclusiva.

Os 50 álbuns desta lista espelham o consenso do grupo de redactores que participou no processo de escolha, tendo sido referidos quase 200 álbuns diferentes. A pluralidade de opiniões é um dos motes da nossa Comunidade e é por isso que consideramos este tipo de rankings tão importantes.

Aqui ficam os 50 melhores álbuns internacionais de 2019 para a Comunidade Cultura e Arte:

50. Kota the Friend – FOTO
49. Beirut – Gallipoli
48. Solange – When I Get Home
47. clipping. – There Existed an Addiction to Blood
46. Foals – Everything Not Saved Will Be Lost (Parts I & II)
45. Whitney – Forever Turned Around
44. Danny Brown – uknowhatimsayin¿
43. Aldous Harding – Designer
42. Nilüfer Yanya – Miss Universe
41. Cigarettes After Sex – Cry

40. Kelsey Lu – Blood
39. Little Simz – GREY Area
38. (Sandy) Alex G – House Of Sugar
37. KAYTRANADA – BUBBA
36. The Comet Is Coming – Trust in the Lifeforce of the Deep Mystery
35. Temples – Hot Motion
34. Rapsody – Eve
33. Blood Orange – Angel’s Pulse
32. Ariana Grande – thank u, next
31. DIIV – Deceiver

30. Bill Callahan – Shepherd in a Sheepskin Vest
29. Big Thief – Two Hands
28. Tool – Fear Inoculum
27. Freddie Gibbs & Madlib – Bandana
26. Big Thief – U.F.O.F.
25. Flying Lotus – Flamagra
24. Thom Yorke – Anima
23. Charli XCX – Charli
22. slowthai – Nothing Great About Britain
21. Helado Negro – This Is How You Smile

20. Floating Points – Crush

Em 2019, Floating Points reaproximou-se das suas origens de música electrónica dançável, após as suas experiências por territórios mais etéreos, no jazz e ambiente de Elaenia e no post-rock de Reflections – Mojave Desert. Dessas experiências, Sam Shepard não perdeu a mesma meticulosidade na produção de canções, o que resulta em épicos de dança concisos como “LesAlpx” ou na construção e destruição de “Anasickmodular”. No entanto, não se limita à pista de dança, apostando ainda na sensibilidade melódica, ouvida na pacífica “Sea-Watch” ou na inclassificável “Falaise”. Crush é um álbum rico que subverte as expectativas do que a música electrónica pode ser, funcionando como uma excelente porta de entrada para quem a reduz ao simples ‘puntz-puntz’. – Bernardo Crastes

19. JPEGMAFIA – All My Heroes Are Cornballs

Ele passou o tempo todo a prometer uma desilusão. JPEGMAFIA adora provocar. Sempre gostou de colocar o dedo na ferida e fazer com que o corte demore só mais um bocadinho a cicatrizar. All My Heroes Are Cornballs não desilude. O rapper deliciosamente brinca com todas as especiarias que consegue encontrar na sua despensa, sem tirar o sabor à receita que é Veteran. O disco – todo ele gravado e misturado pelo artista de Baltimore em sua casa – pega no caminho trilhado pelo antecessor e continua a esticar as arestas do hip-hop. É rap experimental aquecido na panela com um ethos punk e temperado com uma pitada de loucura. Peggy atira-se aos críticos de teclado e aos conservadores com a mesma clarividência com que tece reflexões sobre o novo estatuto a que começa a ascender na carreira, num álbum que é um sucesso devido à musicalidade refinada que apresenta. Há uma melodia contagiante no meio do caos e JPEGMAFIA canta-a como poucos. – Daniel Dias

18. Toro y Moi – Outer Peace

Chaz Bear sempre foi um artista inovador, nomeadamente como um dos porta-estandartes do género chillwave. Mas em Outer Peace, o seu mais recente projecto como Toro y Moi, decide ir um passo mais longe e mostrar uma dualidade bastante curiosa: deixar o ouvinte a dançar sem ter de sair de casa. Temas como “Freelance”, “Laws of the Universe” ou “Fading” convidam a um pé de dança, e “Monte Carlo” ou “New House” mostram algo mais caseiro, lo-fi e introspectivo. Bear navega por este mundo com facilidade e à vontade com este ambiente, num malabarismo sonoro digno de se ouvir. Espalhando a paz exterior, Toro y Moi demonstra uma paz interior e a certeza de que o seu percurso na indústria musical ainda vai dar muitas voltas. – Miguel de Almeida Santos

17. Jessica Pratt – Quiet Signs

Para Quiet Signs, Jessica Pratt apurou a produção, mas aumentou a distância. A sua primeira experiência a gravar em estúdio tornou os seus testemunhos de tumulto e ansiedade mais oníricos que diarísticos, com a introdução de componentes mais psicadélicas e até progressivas na sua folk tranquila. As canções desenrolam-se como mantras, que tanto podem servir para expurgar mágoas reprimidas (“Crossing”) ou simplesmente para nos perdermos num trance induzido pela repetição de uma melodia mística (“As The World Turns”). Antes, a música de Jessica Pratt servia para estados de espíritos específicos; agora, é a música que nos induz um estado de espírito baseado no seu ambiente acolhedor e pacificador. Quiet Signs é daqueles álbuns intemporais, que nos faz perder noção do tempo à medida que carregamos no botão de replay Bernardo Crastes

16. Leonard Cohen – Thanks for the Dance

Em You Want It Darker, tema que deu nome ao último álbum de Leonard Cohen lançado em vida, ouve-se “I am ready, my Lord”, prenunciando a morte do músico/poeta canadiano 19 dias após o lançamento do álbum. Ainda que prenunciando a morte, You Want It Darker deixava em suspenso uma continuidade que julgávamos que não chegaria, mas Adam Cohen – filho de Leonard Cohen e produtor do último álbum – pegou em músicas e poemas deixados pelo pai e, com o apoio de vários músicos como Bryce Dessner, Patrick Watson ou Feist, lançou Thanks for the Dance 3 anos após a morte do pai. É um agradecimento de vida e um apaziguador da saudade. É uma despedida formal, ainda que nunca nos despeçamos verdadeiramente de Leonard Cohen. – Linda Formiga

15. Anderson .Paak – Ventura

A confirmação de Anderson .Paak no NOS Alive certamente deixou ansiosos todos aqueles que Ventura conquistou ao longo deste ano. O músico decidiu juntar toda a sua doçura amorosa num projecto que o vê concentrar o seu arsenal sonoro numa atmosfera que bebe da soul e da música mais descontraída. No entanto, ainda há barras, a começar pela estrondosa prestação de Andre 3000 em “Come Home”, que certamente satisfaz o mais ávido fã do hip hop na música de .Paak. E ainda que este lançamento não seja tão expansivo como projectos como Malibu ou Oxnard, a mesma destreza que caracteriza esse ecletismo é aqui replicada com entusiasmo. É um conjunto de temas em que a atitude musical já conhecida de .Paak é cruzada com a música Motown e a energia do funk, uma (a)ventura que ninguém deve perder. – Miguel de Almeida Santos

14. Black Midi – Schlagenheim

Ainda o álbum de estreia do jovem quarteto londrino não tinha sido lançado e já a sua sonoridade explosiva fazia furor na internet, quer partilhada através de vídeos de actuações ao vivo, quer expressada sob a forma de infinita admiração pelo incrível baterista, Morgan Simpson. Black Midi erguem Schlagenheim como um monumento a uma faceta alternativa muito menos trilhada: uma obra ambiciosa de enorme complexidade e instrumentação que raramente segue o caminho da estética mais imediata, saltando entre tempo, temática e tom praticamente de segundo a segundo. A voz de Geordie Greep assombra composições inteiramente imprevisíveis e sem padrão identificável que parecem constantemente estar em queda-livre por geometrias impossíveis, distantes das habituais noções de tonalidade. Podemos reconhecer-lhes grandes influências no post-punk e math rock que marcaram a década, bem como viajar até ao kraut para explicar a caótica hipnose em que nos mergulham de imediato, mas a conclusão final será sempre que Schlagenheim cai como um meteoro capaz de marcar a sua própria – e muito significativa – cratera.  – João Rosa

13. BROCKHAMPTON – GINGER

Depois de alguns tropeções em iridescence, os BROCKHAMPTON demonstram que estão de volta e prontos a singrar na vida (e no topo das tabelas). GINGER é um trabalho extremamente emocional e, apesar de a boy band mais criativa e díspar que alguma vez existiu ainda sofrer com os problemas do passado, o álbum mostra que isso já não é um entrave à sua tremenda força criativa. Desde a sinceridade de “NO HALO” ou “VICTOR ROBERTS” à jocosa faceta de temas como “IF YOU PRAY RIGHT” ou “BOY BYE”, não há Barba Ruiva que impeça estes rapazes de navegarem em direcção a um futuro promissor e cheio de música boa. – Miguel de Almeida Santos

12. Kanye West – Jesus Is King

Um dos mais divisivos lançamentos do ano, odiado por muitos ouvintes de boa vontade. É uma sentença legítima: “I miss the old Kanye”, já brincava o próprio em The Life of Pablo. Mas o caos e a turbulência do novo Kanye continuam a nascer de uma sede criativa que parece não ter limites. A produção imperfeita de Jesus Is King torna-se parte de um manifesto mais vasto: o processo de produção está muito próximo do de consumo. São muitas as ideias, e pouca a paciência para as trabalhar. Nesse sentido, Kanye West é um perfeccionista sui generis, mais à boleia do instinto do que da ponderação, apesar das constantes hesitações e edições que têm vindo a permear o seu trabalho. Jesus Is King é um álbum de pequenos mundos que chegam, se afirmam, e seguem adiante. Mas há ambição em muitos dos temas; há criatividade, frescura, visão; um processo assumido de experimentação. Sejamos honestos: não são estas as coisas que continuamos a esperar da música de Kanye? – Tiago Mendes

11. Vampire Weekend – Father of the Bride

Ao longo de três álbuns, os Vampire Weekend criaram um estilo muito próprio e facilmente reconhecível, com conceitos bem definidos. Após um longo hiato e a perda de um membro, a banda abraçou a megalomania musical neste Father of the Bride, abarcando muito mais influências e temáticas com uma urgência nunca antes sentida na sua música. Seja a pôr um pé na bossa nova em “Flower Moon”, a devolver a doçura ao country em “Married in a Gold Rush” ou simplesmente a soar como eles mesmos, como na maravilhosa “This Life”, 2019 foi o ano em que o universo dos Vampire Weekend se tornou verdadeiramente grande, graças a Father of the Bride. – Bernardo Crastes

10. The National – I Am Easy to Find

I Am Easy to Find foi talvez o álbum mais inesperado que os The National lançaram. Depois de Sleep Well Beast, lançado no Outono de 2017, e no meio de uma digressão quase ininterrupta com projectos individuais à mistura, os The National conseguiram lançar 1 hora e 4 minutos de música nova, composta a muitas mãos e com a participação de várias cantoras para fazerem companhia a Matt Berninger, sem nunca serem consideradas como meras participantes. É um álbum de colaborações que revela o pico criativo que a banda de Ohio tem vindo a revelar nos últimos tempos, inovando, indo além, tanto musical como liricamente, e mostrando que a fórmula vencedora é aquela em que a entrega é completa e descomprometida. Fazem-no ao vivo, fizeram-no em disco, e este será, para muitos fãs, o melhor disco dos The National desde Boxer, de 2007. Matt Berninger canta, a páginas tantas, que “there’s a million little battles that I’m never gonna win anyway”, mas The National têm vindo a ganhar sempre. – Linda Formiga

9. Bon Iver – i,i

Primeiro, o Inverno de For Emma, Forever Ago (FEFA), depois a Primavera de Bon Iver, Bon Iver, o Verão de 22, A Million e o ciclo fecha-se com o Outono de i,i. Entre a Primavera e o Verão da carreira de Justin Vernon – o maestro do projecto colectivo que se designa por Bon Iver – houve um hiato algo prolongado que quase fazia adivinhar um desfecho precoce. O ciclo continuou, mas não evitou uma cisão acentuada com as sonoridades de outrora, agora mais mecanizadas, mais processadas, com fragmentos, experimentalismo, camadas e camadas de sons. O ciclo continuou e encerra com i,i, que parece estar nas antípodas de FEFA em sonoridade, mas não na universalidade ou profundidade. Nem, tampouco, na vulnerabilidade que Justin Vernon transmite e nos relembra a nossa. i,i é o álbum mais pessoal de Justin Vernon, é o final de um ciclo, mas não é o final da viagem e, pelo caminho, vai-nos dizendo “Tell them I’ll be passing on / Tell them we’re young mastodons”. – Linda Formiga

8. FKA twigs – MAGDALENE

Para aqueles cuja capa não assustou, MAGDALENE é um deleite. FKA twigs aliou-se a um batalhão de produtores – que encapsula nomes tão distantes como Skrillex, o lorde do dubstep, ou Nicolas Jaar, o aventureiro electrónico – para elevar a sua música a um novo patamar. É extremamente eclético – espelhando a artista – e tanto podemos ouvir um banger mais “seguro” e convencional como “holy terrain” ou epopeias arriscadas de vozes angelicais e sussurros em falsete como “thousand eyes” ou “home with you”. O álbum surgiu depois de um momento devastador na vida da artista nascida Tahliah Barnett, o fim de uma relação. Mas toda essa fealdade e trauma desabrochou num dos projectos mais tocantes e bonitos deste ano, e o projecto mais interessante desta entusiasmante artista britânica. – Miguel de Almeida Santos

7. Nick Cave and the Bad Seeds – Ghosteen

Considero sempre um acontecimento louvável e excepcional quando um artista, já num estádio avançado da sua carreira, dá um passo novo que agita a sua discografia. Embora neste caso essa agitação se concretize na forma de embalo. Ghosteen nasce de uma dor lacerante, mas atravessa múltiplos estados de alma. Conduzidos pela profunda sensibilidade de Nick Cave, deslizamos pelo meio das canções de uma maneira quase cinemática. Sentimos a angústia, a esperança, a desilusão, a ansiedade e a redenção. A fé e a falta dela. Com Cave subimos aos píncaros do êxtase, mas apenas por breves segundos: na espiral de “Sun Forest” e no coração de “Ghosteen”, por exemplo. Mas a maior parte do tempo estamos perdidos, à procura da paz que não chega. Muitas destas sensações partem do discernimento das palavras; mas seria injusto ignorarmos o papel transcendente dos sintetizadores ao longo do disco. Um monumento ao luto e à condição humana. – Tiago Mendes

6. Weyes Blood – Titanic Rising

É um critério de peso na apreciação de um artista: a vastidão da sua ambição. Arpeggios electrónicos emocionantes, guitarras slide que nos atravessam o espírito, orquestras em júbilo. Pode parecer um exagero, mas o Titanic que Weyes Blood se propôs trazer à superfície vem mais exuberante e espantoso do que antes de se afundar. A discografia da artista norte-americana era, até agora, uma promessa. Com Titanic Rising, a profecia cumpre-se. A vastidão artística é uma das prerrogativas, a sensibilidade das sequências harmónicas não deixa nada a desejar e a voz funda de Natalie completa o resto. Que bonito encontro, entre uma sonoridade que nos remete para o passado e uma visão que nos promete um futuro mais humano, que não se rende diante das inevitabilidades que nos querem castrar a esperança. Titanic Rising é uma obra de arte singular. – Tiago Mendes

5. Billie Eilish – WHEN WE FALL ASLEEP, WHERE DO WE GO?

Billie, Billie, Billie. Um dos grandes nomes no mundo da música em 2019. A menina que com 13 anos já era música tornou-se num fenómeno em pouco tempo. Com 18 anos feitos a semana passada, ainda traz consigo um pouco da inocência da infância, mas já guarda em si uma mulher forte o suficiente para carregar toda a dor do mundo. WHEN WE FALL ASLEEP WHERE DO WE GO? é um dos principais discos do ano; trata-se apenas do disco de estreia, é certo, mas já correu o mundo e as cerimónias de prémios. Os cinco singles que o antecederam foram sendo lançados desde o verão de 2018, permitindo uma entrada mais profunda neste que é o mundo único de Billie. São 18 faixas criadas com o irmão FINNEAS; este é um aspeto importante, porque pouco se consegue distinguir onde acaba um e começa o outro. As palavras e a melodia juntam-se em algo criado através delas, mas que já não lhes pertence. Aliás, também não pertencem a Billie; são canções que parecem ter o dom de pertencer a quem as ouve, quer tenha 10 ou 40 anos, quer se reflita no que é cantado ou apenas o imagine. Por entre os mais jovens, poucos são os que escapam ao furacão Billie, este remoinho negro e intenso, ambíguo e inovador. – Sofia Matos Silva

4. Angel Olsen – All Mirrors

Três anos depois, Angel Olsen regressa com um dos discos mais importantes do ano. Ao longo de 48 minutos, este verdadeiro anjo tanto sussurra como nos berra ao ouvido, libertando tudo o que sente e pedindo para nos libertarmos com ela. Onze hinos, todos os espelhos e a dissecação do Ser. Se havia alguma emoção por conhecer, agora já não há. Tudo é explorado em All Mirrors, exorcizado e recriado. “Hiding out inside my head, it’s me again, it’s no surprise I’m on my own now”, lamenta Olsen. Mas, apesar de presa dentro de si própria, nunca estará sozinha. Tem consigo os milhões de amantes de música que, pelo mundo fora, encontram nas suas canções um espaço seguro. Um lar. A delicadeza com que canta contrasta com a precisão visceral com que nos afeta. Ninguém fica indiferente a All Mirrors. Daqui a um mês o anjo levitará até ao Porto e Lisboa. A ligação entre a americana e os portugueses é particularmente forte. Esperemos que por aqui encontre um lar também. – Sofia Matos Silva

3. Lana del Rey – Norman Fucking Rockwell!

É possível que, ao longo da sua discografia, Lana del Rey tenha salvo a década americana em termos de escrita para canções. Se quaisquer dúvidas restavam acerca das suas capacidades neste sentido, o último álbum retira-as por completo. Logo no início, no tema homónimo, diz “God damn man child, you fucked me so good that I almost said “I love you””. Qualquer ouvinte de Lana del Rey já está habituado a esta tristeza assoberbada de um resquício de Hollywood velha e esperança de uma Califórnia menos superficial, mas é em Norman Fucking Rockwell! que não há notas ao lado, são glórias atrás de glórias. Fãs de Bukowski têm aqui uma encarnação no presente para se deliciarem, mas numa versão de poder no feminino, porque Bukowski não tem as consoantes de Lana em “Bartender”, e ninguém assume a fragilidade que ela assume na faixa que fecha o disco, “hope is a dangerous thing for a woman like me to have – but I have it”. E ninguém muda de tom no último verso de um disco assim, com a voz num fio, quebrando os espíritos de quem ouve, que precisam ser quebrados, nestes tempos confusos. Norman Fucking Rockwell! é uma inspiração ao mesmo tempo que é uma cura, sendo Lana a musa, a curandeira e a cantora. É uma melhor ameaça tripla que a do costume (cantar, dançar, representar). Porque é todo interno. E pelo menos soa a verdade. – Luís Miguel Davies

2. James Blake – Assume Form

Em dezembro do ano passado, escolhíamos “Don’t Miss It” como a sétima melhor canção do ano. No entanto, mal sabíamos o que por aí vinha. Logo no dia 18 de janeiro, Assume Form foi lançado para o mundo, repleto de canções que poderiam facilmente entrar para as escolhas de 2019. Contando com as participações de Travis Scott, Metro Boomin, Moses Sumney, Rosalía e André 3000, o britânico apresenta um conjunto de 13 músicas arrepiante. James Blake sabe o que faz, sem o saber. Consegue juntar toda a fragilidade que sente à força que nele o mundo vê, a dor à leveza, a tristeza mais profunda à mais pura das alegrias. Assume Form é a obra mais perfeita de 2019, um disco no qual as músicas se unem como se não existisse um início nem um fim, mas um sempre. Sentimo-nos livres com “Where’s The Catch?” e despidos com “Mulholland”, perdidos num universo que não nos pertence, mas a que queremos pertencer. James Blake é o verdadeiro mestre dos géneros musicais e dos sentimentos e, quase um ano depois, continuamos a redescobrir-nos em Assume Form. – Sofia Matos Silva

1. Tyler, The Creator – IGOR

Se há coisa familiar aos fãs de Tyler, the Creator, é a quantidade de personagens que habitam o universo musical do rapper e produtor norte-americano. Mas nunca nenhum se mostrou tão complexo e sonicamente desafiante como IGOR. É um personagem que se desdobra numa história de um homem apaixonado, transtornado pelo amor, mas renascido com a certeza de que o sentiu verdadeiramente. Referir um ou mais temas seria infrutífero: apesar da sua enorme qualidade individual, a força conceptual do conjunto torna-os ainda mais especiais. Falar sobre “NEW MAGIC WAND” sem referir como “RUNNING OUT OF TIME” desagua nesse tema e como “A BOY IS A GUN*” prossegue essa caminhada seria um crime musical. É o trabalho mais ambicioso de Tyler Okonma que prova definitivamente que a música e estética deste artista estão em constante transformação, numa gloriosa trajectória de ascensão. – Miguel de Almeida Santos

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