Os 10 melhores concertos de 2019

por Comunidade Cultura e Arte,    27 Dezembro, 2019
Os 10 melhores concertos de 2019
Ilustração de Carlota Real / CCA
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Após termos analisado os melhores álbuns nacionais e internacionais, e as melhores canções nacionais e internacionais, falta-nos olhar para mais uma forma de apreciar música: os concertos. A Comunidade Cultura e Arte nunca teve tantas reportagens de concertos como ao longo deste ano, pelo que vale a pena olhar para aqueles que nos marcaram especialmente.

Os 10 concertos desta lista espelham o consenso do grupo de redactores que participou no processo de escolha, tendo sido referidos quase 60 concertos diferentes. A pluralidade de opiniões é um dos motes da nossa Comunidade e é por isso que consideramos este tipo de rankings tão importantes.

Aqui ficam os 10 melhores álbuns concertos de 2019 para a Comunidade Cultura e Arte:

Conan Osíris – Coliseu dos Recreios (Lisboa)

Se ainda existiam dúvidas sobre o fenómeno Conan Osiris, foram afastadas com a sua estreia no Coliseu dos Recreios. A música de Tiago Miranda, aquela que encanta gregos e enfurece troianos, acompanhada por um quarteto de cordas e o flautista Sunil Pariyar, foi o comburente para um espectáculo visual explosivo em formato arena, proporcionado por João Moreira, o fiel companheiro de Miranda nas actuações ao vivo, e pela equipa de dançarinos Team Bolo de Arroz. Entre mudanças de visual e coreografias extenuantes, Conan Osiris consagrou-se perante os seus “bebés” numa experiência completa e memorável, ao seu jeito e ao seu estilo. – Miguel de Almeida Santos

Conan Osíris. Fotografia de Fred Gomes

Julia Holter – Capitólio (Lisboa)

Julia Holter parece pertencer àquele raro e ambicioso conjunto de artistas que decidem privilegiar a criatividade e a intuição, em detrimento da acessibilidade da sua música. Não são muitos os artistas que, após editarem um álbum com canções de formato mais tradicional – e com enorme aclamação crítica e crescente número de ouvintes – decidem dar um passo ao lado e voltar a desenhar um trabalho abstracto e denso. Se, gravado, Aviary já é uma experiência única de ser ouvida, ao vivo Julia Holter ainda nos convenceu mais facilmente. Ora por meio das sequências de acordes inspirados, ora pelo génio meio maníaco que convoca nos arranjos – tudo se torna uma aposta ganha. A banda alargada que traz consigo é pulmão que executa cada tema de maneira brilhante. E brilhante era ainda a qualidade de som do Capitólio, naquela noite – tudo se percebia, cada nota de cada instrumento. Um concerto memorável que testemunhou, sem espaço para dúvidas, o talento de uma das mais promissoras artistas da década. – Tiago Mendes

Kraftwerk – EDP Cool Jazz (Cascais)

O berço da electrónica continua a pulsar. De maneira emocionante e muito pertinente. Os Kraftwerk trouxeram a Cascais o seu espectáculo 3D. Tinham diante de si uma plateia sentada no relvado, e, mais atrás, muito espaço para se poder estar de pé e dançar. Tive a sorte de poder ouvir o concerto no segmento de trás. Porque não estamos a falar de um som antiquado – talvez datado, de certa forma, mas ainda assim tão interpelativo que quase me custava acreditar. De olhos fechados, o que nascia dos quatro sintetizadores entrelaçava-se de maneira colorida e emotiva. De olhos abertos, os efeitos tridimensionais eram um deleite visual. Já o corpo pedia para se mexer. À nossa volta o contexto era relativamente formal, havia uma estranha quietude entre a plateia. Mas a música dos Kraftwerk não se rendia, e era convite à pista de dança, pisando até, pontualmente, o território do techno. Que maravilha de contributos, emaranhados, uma teia electrónica que soava como um monumento. Património vivo, fonte e inspiração para o futuro de um género – mas ainda exímios, no pico do seu talento. Uma longa vénia para uma discografia que, na sua passagem para um espectáculo ao vivo, só se tornou ainda melhor. – Tiago Mendes

Kraftwerk. Fotografia de Sara Falcão / EDP Cool Jazz

Manel Cruz – Capitólio (Lisboa)

Manel Cruz tem-se apresentado ora com banda, ora a solo. Foi no seguimento do lançamento do álbum Vida Nova que Manel Cruz se apresentou, a 1 de Maio, com Nico Tricot, Eduardo Silva e António Serginho num Capitólio com lotação esgotada para um concerto de mais de 2 horas e 4 encores. Não houve memória que não fosse reavivada, nem novidade que não fosse apresentada. Pelo alinhamento passaram os temas de Vida Nova e muitos do mui prolífero projecto Foge Foge Bandido, passando pela quase perfeita “Capitão Romance” num dos encores, cantada a uma só voz. Para terminar, “Não aldrabes” (e faz). Não houve ali quem tenha ou fosse aldrabado num dos concertos memoráveis que passaram pelo Capitólio este ano. – Linda Formiga

Massive Attack – Campo Pequeno (Lisboa)

Mezzanine será para sempre visto como um clássico do trip hop e da música dos anos 90. A sua renovada apresentação ao vivo foi um espectáculo audiovisual impressionante e que transmitiu fielmente a magia desse projecto. É assombroso e curioso verificar como a sonoridade imbuída de negrume que caracteriza temas como “Risingson”, “Inertia Creeps” ou a espantosa “Angel” faz tanto sentido nos tempos que correm e numa sociedade cada vez mais claustrofóbica, dormente e simultaneamente mais viva do que nunca no mundo digital. A música dos Massive Attack sempre teve uma componente activista, mas há o risco de um álbum de há vinte anos atrás soar datado. Felizmente, o espectáculo visual que o acompanhou conseguiu trazer sem problemas este álbum para o século XXI. Há vinte anos, o mundo era um local muito diferente. Felizmente, a música boa é intemporal, como os Massive Attack provaram tão bem. – Miguel de Almeida Santos

Mitski – Vodafone Paredes de Coura (Paredes de Coura)

Antes de entrar num hiato de duração desconhecida, Mitski trouxe o espectáculo que usou para apresentar Be the Cowboy (um dos melhores álbuns de 2018) a Paredes de Coura. Usando uma secretária e cadeira como adereços, Mitski fez todos os malabarismos possíveis com as suas posições – tanto dos objectos como do seu corpo –, quase sempre cantando estática e com uma expressão afectada e imutável. Poderia ter parecido frio demais, especialmente tendo em conta a natureza emotiva das suas canções, mas a verdade é que o seu desprendimento da natureza humana tornou a actuação ainda mais acutilante. Mitski é uma mestre das emoções, algo bem patente na fabulosa balada “Two Slow Dancers”, em que a encosta de Coura se calou para a ouvir, num momento verdadeiramente assombroso. – Bernardo Crastes

Mitski. Fotografia de Sofia Matos Silva / CCA

ROSALÍA – NOS Primavera Sound (Porto)

Rosalía é uma daquelas artistas que sabe proporcionar uma experiência do outro mundo para qualquer pessoa, quer aprecie ou não a sua música. E isto é um talento bastante raro; porque haveríamos de gostar de um concerto, se um concerto é música, e não gostamos da música? A resposta é simples: Rosalía é música, mas também é muito mais. A rainha latina aterrou na noite fria de 8 de junho no Porto como um tornado, trazendo consigo o calor de terras mais quentes e a promessa de uma noite memorável. A escolha da abertura com “PIENSO EN TU MIRÁ” deixou logo bem claro que esta seria uma atuação de grandes emoções. A canção de El Mal Querer, disco de novembro do ano passado que catapultou a espanhola para os tops mundiais, é uma que deixa logo qualquer alma de rastos. Daí até à esperada “MALAMENTE” – que encerrou a passagem de Rosalía pelo país – foi um carrossel de emoções: tanto se viu a encosta inteira a dançar, como se assistiu à caída de lágrimas em catadupa nas filas da frente. A artista que mistura a tradição com a modernidade como ninguém é um dos fenómenos da música atuais a que vale a pena estarmos atentos. O concerto no Primavera não deixou margem para dúvidas: Rosalía veio para ficar. – Sofia Matos Silva

Rosalía. Fotografia de Linda Formiga / CCA

Toro y Moi – Lisboa ao Vivo (Lisboa)

No primaveril mês de maio, os Toro y Moi apresentaram o álbum Outer Peace no Lisboa ao Vivo, conseguindo ultrapassar as expectativas dos presentes. O vocalista Chaz Bear e companhia conseguiram praticamente encher ambos os pisos do Lisboa ao Vivo e pôr grande parte dos presentes a dançar. Os passos de dança simplistas e contagiantes do vocalista durante toda a atuação, bem como o bom uso do palco foram indispensáveis para cativar os presentes e tornar este concerto memorável. Infelizmente, a banda não acedeu ao pedido entusiástico de encore por parte do público; deixou, contudo, a promessa de voltar em breve. Nós cá os esperamos. – João Jacinto

Toro y Moi. Fotografia de João Rosa / CCA

Vampire Weekend – Coliseu dos Recreios

A espera para um novo concerto a solo dos Vampire Weekend em terras portuguesas foi longa, mas todos os presentes no Coliseu dos Recreios para o retorno da banda norte-americana à capital podem confirmar que (quase) valeu a pena. Os 9 anos que separam as duas datas trouxeram mudanças na banda, mas a música não parece ter sofrido. O espectáculo percorreu todos os seus álbuns, naquele que foi um orgulhoso ostentar de uma carreira frutífera e sem sinais de abrandar. Houve tempo para os grandes êxitos e para temas mais refundidos na sua discografia, e o entusiasmo foi igual independentemente do tema. Ficou prometido um retorno mais breve e, depois da explosão musical que foi aquela noite, é bom que essa promessa seja cumprida. E se essas palavras soam a ameaça, isso não é intencional, é apenas um reflexo de um amor incondicional. – Miguel de Almeida Santos

Vampire Weekend. Fotografia de Tiago Cortez / Everything is New

Yves Tumor – NOS Primavera Sound (Porto)

O futuro do rock está aqui. Futurista, abrasivo e mergulhado em ruído, música para o apocalipse, para o caos dos tempos modernos, para um futuro em que somos todos surdos por ouvirmos tanta música e apenas saberemos distinguir sons se estiverem no meio do ruído. Sean Bowie move-se freneticamente em palco ou no meio do público, envergando a sua indumentária de pele, com a atitude de um rockstar alienígena. “Licking an Orchid” foi o momento sensual S&M, o pedido de ajuda de “Noid” soou especialmente urgente e “Lifetime” fechou o concerto com a catarse emocional que a acumulação de ruído precisava. Foi intenso e muito, mas muito bom. – Bernardo Crastes

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