O punk, o rap e o caos de Ho99o9 em ‘United States of Horror’

por João Horta,    9 Maio, 2017
O punk, o rap e o caos de Ho99o9 em ‘United States of Horror’
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Estes homens descendem das ruas, das periferias, onde consumiram o que as culturas suburbanas nova-iorquinas têm para oferecer: do grafitti ao hip hop, do punk ao hardcore. Formas de expressão que transcendem leis e políticas. A dupla, Yeti Bones e TheOGM não inventou nada que os Bad Brains, Death Grips ou Beastie Boys não tenham criado. Cruzaram todos estes com referências do thrash (Suicidal Tendencies e Municipal Waste) e do punk hardcore (Black Flag e Madball). Pode ser um enxerto de porrada para os nossos ouvidos, no entanto, nada que estes jovens não nos tenham habituado anteriormente, em “Dead Bodies in the Lake”. Depois, de partirem a festa toda em Barcelos no verão passado, este ano, Paredes de Coura que se prepare para o furacão Ho99o9 e traz uma prenda nova na bagagem: “United States of Horror”.

Álbum produzido por David Sitek conhecido por ser guitarrista dos TV On The Radio e produtor de artistas como Santigold ou Thee Oh Sees. Malhas sangrentas, violentas e musculadas, repletas de uma chinfrineira epiléptica, desafiante das velocidades do rock. Há espaço para tudo, incluindo faixas que se vão arrastando por sonoridades próximas do trap e do horrorcore, como é o caso de “War Is Hell”, “Splash” ou a mais sombria “Moneymachine”.

Os Ho99o9 são empolgantes, caóticos e capazes de gerar o pânico entre as plateias, revestem-se de hostilidade e revolta, digna de qualquer banda hardcore. Excelente retrato disso é “Street Power”, uma música tresloucada e brusca, com uma agressividade própria dos emblemas punk, passeia-se assim até entrar a arrebatadora “Bleed War”. Coros revoltados e um breakdown de nos levar ao chão, fazem de “Sub-ZerO” a canção mais punk hardcore do disco. “City Rejects” vive da velocidade confusa do rock n’roll. Entre elas, um interlúdio que tresanda a erva, “Feels Like” pauta-se por um ritmo lento, como “Hydrolics” que nos leva novamente para territórios do trap. Levantam-se logo e espetam “New Jersey Devil”, uma malha onde a bateria entra a pés juntos, galopante, até se deteriorar pelos riffs thrash e a fatalidade do breakdown final.

Cuidem-se os amigos que vão a Paredes de Coura, vem lá um vendaval de punhos cerrados e pontapés no ar. A frescura e a fumarada serão escassas para libertar as correntes da marginalidade que corre nas veias de Yeti Bones e TheOGM. “United States of Horror” é o melhor manual de instruções para um concerto, que deixará a vila minhota em estado de sítio.

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