O papagaio falecido não está morto

por Comunidade Cultura e Arte,    3 Julho, 2019
O papagaio falecido não está morto
BBC/Netflix
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Contemplando atentamente o desenrolar dos acontecimentos, o cinco de outubro, como português e patriota que sou, foi, é e será a data com maior preponderância, imediatamente disposta nas traseiras do 25 de abril de 1974. Primeiramente, a autenticação do tratado de Zamora e exaltação de Afonso Henriques, numa prova elementar de independência e, posteriormente, a implementação da república portuguesa que cessava 767 anos de monarquia nefasta e gloriosa, dependendo das variantes e respetivos reinados são factos dignos de condecorações e homenagens constantes. Sem eles não éramos Portugal, certamente. Ou podíamos ser, mas mais indigentes espiritual e culturalmente.

Para a Santíssima Trindade reunir a plenitude dos feitos na data supracitada, demandava uma terceira peripécia, “algo completamente diferente” do trivial à semelhança dos outros dois fatores. Aqui, em 1969, emergem os Monty Python! Seis tipos (mas inicialmente cinco e isto só pode ser presságio!) que sinalizaram a rebelião e a insurreição diante do humor frívolo e superficial ao leme de um non-sense anarquicamente silly e insólito, traduzido em sketches com primor na inteligência, na sagacidade e na sátira social mais que frequente, albergando todo e qualquer tabu ou crendice sagrada e intocável, impavidamente. Os primeiros (e únicos!) a inverter o sentido dos polos do globo, a permutar a linha do Equador pelo Meridiano de Greenwich, a arrefecer desertos e a aquecer glaciares.

No ano vigente, assinala-se a marca que todos almejam calcorrear. Os 50 anos vão ser comemorados com … claro, com o arquétipo visionário e inconfundível. Os fãs, reencarnando na personagem mais regular dos seus sketches, Mr. Gumby, comparecerão num sítio a definir. “Their brains hurts”! Além de tudo isto, a “rephytonização” da BBC. O regresso à maternidade e ao ombro amigo de uma vida com a divulgação de sketches antigos e especiais, na rádio, embora já sem a presença física (a espiritualidade conecta-se automaticamente) de Terry Jones e Graham Chapman.  Desde a primeira aparição que isso lhes está entranhado. A obra e toda a epopeia humorística, dividida em três odes mordazes: Life of Brian, Monty Phyton and the Holy Grail e Monty Python Flying`s Circus, resultante, mais tarde, em And Now For Something Completely Different e The Meaning of Life compõem exemplos ilustrativos dessa vincada unicidade: os “Beatles da comédia” ultrapassaram, de modo perpétuo, o tempo, a vida, a mentalidade dos mortais e as circunstâncias vividas nos distintos períodos durante a sua atividade. A intemporalidade no sentido cristalino do vocábulo!

A manifestação da censura corrosiva e sôfrega, de modo repetido, conduziu a investidas com diversos pointed sticks. Eles (e os que o rodeavam e acolitavam) estavam perfeitamente conscientes da aparição da Spanish Inquistion. Aí, majoravam as aulas de self defense against fresh fruit. Pelo que foi supracitado, nunca questionei a utilidade delas…

Artigo escrito por Romão Rodrigues

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