O fim da moral democrática

por Comunidade Cultura e Arte,    11 Janeiro, 2019
O fim da moral democrática
Ilustração de: The Daily Star
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É certo que várias são as manifestações que colocam em causa a Democracia tal é qual como a conhecemos e gostamos dela, porque ainda existem os que gostam verdadeiramente.

Os avisos e manifestações são sempre os mesmo, o crescimento da extrema direita nos países membros da união europeia, a crise dos refugiados, as elevadas taxas de abstenção, as manifestações antissistema, etc. Esta reflexão não tem como escopo identificar os indícios e de uma caminhada antidemocrática, pelo contrário, o princípio essencial desta exposição é demonstrar as práticas antidemocráticas que verdadeiramente destroem a nossa Democracia.

Ora, é sabido que a liberdade não conhece limites (a não ser o outro), e eu gosto dela assim, não gosto de leis que diminuam a liberdade de expressão (o direito mais português pós 25 de Abril), mais vale uma boa mentira, que uma forte censura. Não gosto de ouvir certos indivíduos a questionar a legitimidade de quem é eleito democraticamente, não gosto. Não gosto de leis que são criadas como o único propósito de regular, estrangular, sectores chaves da sociedade, não gosto. Não gosto de manobras políticas que sujam e mancham o sistema, não gosto. Não gosto, que juventudes partidárias, sendo certo que sou membro de uma, promovam líderes com currículos falsos e avenças políticas consideráveis, quando muitos dos meus amigos ainda não conseguiram o primeiro emprego, isto é que não gosto mesmo enquanto jovem. Não gosto de universidades e de um sistema de ensino fraco, que se limita a ensinar aos alunos determinadas matérias e conhecimentos de forma automática, continuo a gostar de considerar, que a única forma de ensinar é promover mecanismos de pensamento. Contudo, não é sobre os mesmo gostos que aqui escrevo, é sobre a liberdade.

Reconhecer a liberdade de outrem, é dar provimento a essa liberdade, mesmo contra o próprio sofrimento, esta é para mim a melhor definição de liberdade.

Assim, penso que a única medida para a liberdade que devemos experimentar é a moral. Só a moral poderá regular a liberdade. Infelizmente, é aqui que começa a contradição da minha reflexão. Hoje assistimos a uma sociedade sem moral, desnorteada, uma sociedade em que os valores estão perdidos, em que as ideias e ideologias apenas assentam bem aos sonhadores. Só existe uma moral, a moral que os fins justificam os meios.

Os meios continuam a ser o maior ataque aos princípios em que assenta a nossa democracia. Presidentes a ligar para programas televisivos, criminosos anunciados como autores de polémicas declarações, políticos que defende interesses próprios e corporativos, programas de televisão que escolhem os seus concorrentes pelo número de palavrões pronunciados e respostas erradas no campo da geografia, debates futebolísticos que ocupam dois terços dos programas de informação, clubes de desporto que se consideram mais que os outros, senhores do ministério público que usam as câmaras para aplicar justiça e condenados que contornam penas de prisão, é fácil concluir qual o caminho que estamos a optar. O fim é apenas um, o poder!

Cumpre, aos que mais sabem, aqueles que de forma privilegiada tiveram acesso ao conhecimento, guiar um pensamento forte que reafirme os valores e princípios democráticos. É através da educação, do ensino, que devemos encontrar o caminho, ensinar as novas gerações a pensar. Hoje somos uma sociedade de fragmentos de informação, falsas notícias que destroem a democracia e a única resposta passará por um povo capaz de saber escolher entre o bem e o mal, e por este caminho educativo que optamos, vamos ser todos Doutores e Engenheiros, mas burros como portas, peço desculpa pela expressão (principalmente ao PAN).

A dignidade humana é o fim e princípio da nossa Democracia, este deve ser o único fim que devemos salvaguardar e os meios usados devem corresponder a estes desígnios.

Se querem defender a liberdade, defendam um ensino capaz, digam a cada um dos nossos alunos que podem ser o que quiserem, quando quiserem, mas ser mais que o que somos agora, implicará sempre o respeito pelos outros, pelas suas ideias, pela sua visão do mundo. Ensinem história para identificar os erros, ensinem a pensar para não voltarmos a cair na tentação de os cometer, ensinem matemática para aprender a lógica, ensinem a pensar para perceber a medida de cada um, ensinem Português para defender a nossa identidade, ensinem a pensar para evoluirmos como cultura, mas antes de tudo, nunca limitem ninguém por ser diferente, a liberdade é isso, a diferença de todos assentem naquilo que a todos é comum.

No final do dia, Democracia deve significar felicidade para todos, somos todos felizes?

Texto de Diogo Farinha
Diogo Farinha, tenho 24 anos, sou licenciado em Direito pela Universidade do Minho. Não há nada melhor para mim do que parar e reflectir com um bom café e um belo livro. Aceito tudo, menos viver sem liberdade.

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