O dia em que o Basqueirart criou um portal para outra dimensão no Museu de Lamas

por Sofia Matos Silva,    12 Julho, 2019
O dia em que o Basqueirart criou um portal para outra dimensão no Museu de Lamas
Fotografia de Sofia Matos Silva / CCA
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A terceira edição do Basqueiral decorreu em Santa Maria de Lamas nos dias 14 e 15 de junho. Mais do que um festival de música, o Basqueiral é uma celebração das artes. O Basqueirart é uma peça central neste puzzle; este ano, esteve novamente a cargo da Companhia Persona. Esta curadoria conta com a colaboração do Museu e dos alunos das escolas do concelho. Lígia Lebreiro e Simão Valinho são os fundadores e diretores artísticos da Companhia – presentes também no Festival em nome dos Shared Files. Já conheciam os organizadores, foram à primeira edição do festival e, entretanto, foram convidados para colaborar no segundo ano de Basqueiral.

Fotografia de Sofia Matos Silva / CCA

Uns minutos antes das primeiras notas musicais soarem no segundo dia de festa em Lamas, conversámos com Lígia Lebreiro, que nos explicou em detalhe o trabalho do Basqueirart e nos fez uma visita guiada pelo Museu de Santa Maria de Lamas. Lígia conta que 2018 foi o primeiro ano em que o Basqueiral funcionou neste recinto e no Museu. A Companhia Persona foi convidada a intervir no espaço, de forma a tirar o foco da música, a envolver a comunidade e a alongar o Festival a outras linguagens artísticas. Assim, esta intervenção tem uma função tripla: decoração, valorização do espaço e atração de novos públicos.

O Basqueirart está por todo o lado nestes dois dias: num mural participativo, do lado de fora da entrada Este; em instalações espalhadas por todo o lado – quer sejam os cisnes gigantes com LEDs vermelhas que flutuam nos pequenos lagos, quer sejam os origamis infinitos; no trabalho de Sofia Neto, ilustradora convidada para fazer uma banda desenhada do Festival; no Braindance, uma performance com arte digital e dança contemporânea que acontece em quatro momentos; na intervenção massiva no Museu.

Fotografia de Sofia Matos Silva / CCA

O resultado final da curadoria artística no Museu de Santa Maria de Lamas é o nascer de uma outra dimensão. Ao passar a porta da entrada, o visitante é transportado para um outro local, intemporal e com espaço indefinido, porque parece inconcebível a ideia de ainda se estar em Lamas. O expoente máximo desta experiência é – considerando a visita ao Museu como um percurso pelas várias salas – o caminho guiado pelos origamis com luz negra, que assinalam a chegada à Sala da Cortiça.

Lígia explica que a Companhia Persona acha interessante o contraste entre o muito antigo – o barroco – e as linguagens mais contemporâneas, como a arte digital. Esta Sala da Cortiça é um bom exemplo disso. Estando fechada ao público, é aberta especialmente para o Basqueiral; depois do desabamento que destruiu a maior parte do interior, a ideia foi devolvê-la ao público e mostrar o seu potencial para novos usos. A decoração é feita com barcos de papel, o Bom Barqueiro, um andor de cortiça de D. Pedro que pertencia à antiga Sala, e videomapping do Comendador, que conta a história do museu.

A par da visita guiada por Lígia – intercalada com o soundcheck de Acid Acid, músico que atuou no Palco Igreja Alternativa numa das salas do museu – visitámos o Museu umas horas depois. À noite, o Museu transforma-se, ganha uma magia única e torna a visita numa experiência surreal. Estando-se sentado na Sala da Cortiça, por entre a música, os origamis e as luzes, perde-se completamente a noção de onde se está. É mesmo um portal para uma outra dimensão, um espaço suspenso por entre o tempo.

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