O cancro da mente

por Frederico Lourenço,    18 Janeiro, 2019
O cancro da mente
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Li hoje com muito interesse esta notícia de que James Middleton, irmão da Duquesa de Cambridge, resolveu assumir publicamente que sofre de depressão, chamando-lhe «cancro da mente». As pessoas estão sempre a ser criticadas por se «exporem» (basta ler as caixas de comentários a muitos posts meus sobre questões mais íntimas, do tipo «não sei como tem coragem de se expor assim»), mas eu considero que falar publicamente destes problemas tem um efeito positivo, porque ajuda outros a perceber que não estão sós a lidar com um problema que é só deles. A depressão é uma doença psíquica, sem dúvida, e o pior que a pessoa que dela sofre pode ouvir é que «está tudo na tua cabeça, é só fazeres um esforço para estares bem».

Este cancro da mente tem uma sintomatologia física muito nítida, que no entanto varia de pessoa para pessoa. Pessoalmente, não faço segredo nenhum do facto de que tenho tido na minha vida de lidar com ataques graves de depressão: há textos sobre isso no meu livro «O Lugar Supraceleste». Quando esse livro foi apresentado na Bertrand do Dolce Vita de Coimbra pela Adriana Bebiano em Maio de 2015, ela disse na sessão pública que a verdadeira saída do armário no livro não tinha que ver com a clareza como falo da minha homossexualidade, mas sim com o facto de eu assumir que sofro da doença chamada depressão.

Já falei do quanto me ajudou a psicoterapia que fiz em 2010 com a mais maravilhosa das psicoterapeutas. Já falei do acompanhamento psiquiátrico que tive e da forma como encontrei medicação que me ajuda quando o ataque bate mesmo forte.

A sintomatologia varia muito de pessoa para pessoa: no meu caso, os sintomas físicos são sempre uma dor persistente no peito; a sensação enlouquecedora de que tenho a cabeça cheia de vidros partidos; ataques de choro por tudo e por nada (eu, que nunca choro). Se não tomar medicação, esses sintomas aumentam de dia para dia, até começarem a dar origem a pensamentos de «self-harm», como se diz no termo técnico inglês.

Dos sintomas referidos por James Middleton, solidarizo-me bem com o que ele descreve como «torture in my mind» e sentir-se «a complete failure». São sintomas que fazem parte da tipologia de depressão de que eu próprio sofro.

O perigo da depressão é deixá-la sem tratamento e, por isso, é tão importante alertar para o facto de que é uma doença séria, potencialmente muito grave; e que as pessoas que dela sofrem precisam de ajuda em termos medicamentosos e psicoterapêuticos.

Para a família mais próxima, para maridos e mulheres e namoradas e namorados, é sempre uma situação altamente ingrata terem de presenciar o ente amado nas garras desta doença. Mas aquilo que mais ajuda, na minha opinião, é a pessoa deprimida assumir abertamente o que sente, procurar ajuda, fazer o que estiver ao seu alcance para se sentir melhor. Essa é a melhor ajuda que pode dar ao seu cônjuge, à sua família, aos amigos mais próximos.

Por isso: parabéns, James Middleton. Não te conheço, mas subiste muito na minha consideração.

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