O caldeirão infinito de talentos da Sargent House

por João Miguel Fernandes,    3 Janeiro, 2020
O caldeirão infinito de talentos da Sargent House
Deafheaven em Copenhaga, em 2017
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Ali para os lados de Los Angeles, existe uma editora/produtora/agência de música que tem lançado alguns dos mais interessantes projectos musicais dos últimos anos. Em todos eles, há algo em comum: o ambiente meio negro, música alternativa e muita, muita qualidade. Falamos, pois, de “Sargent House”. Entre os artistas da Sargent House, estão nomes como Brutus, Chelsea Wolfe, Deafheaven, Earth, Emma Ruth Rundle, Ioanna Gika, Russian Circles, entre outros.

Fundada por Cathy Pellow em 2006, esta editora e produtora americana tentou desde sempre manter uma identidade muito própria e fazer algo diferente das outras editoras, muito através da sua comunicação. Cathy tem enorme experiência em comunicação e em pensamento criativo, muito graças a ter começado muito nova a representar fotógrafos de moda, trabalhado como produtora de vídeo, criado um programa de TV, entre outras coisas.

Mas o que existe de realmente diferente na Sargent House? Antes de mais, a comunicação nas redes sociais. Há uma constante necessidade de demonstrar o que cada banda faz, como cada banda é, o que gostam, o que estão a tocar, etc. Em segundo lugar, a honestidade face ao seu negócio. Para a editora, é importante que as pessoas que nela trabalham gostem realmente deste tipo de música e que a respeitem. Não se contratam pessoas só porque sim. De um ponto de vista de gestão, o processo também é diferente. A Sargent House também agência os seus artistas, além de os editar, mas, em caso de surgir alguma boa proposta para o artista a nível de agenciamento, a editora não tem problemas em libertá-los e continuar a editá-los. O que pode ser visto como conflito de interesses é, no fundo, uma grande confiança e um mote para que se sinta a liberdade artística.

O resultado de todo este processo são artistas de qualidade e não artistas de “hype”. A editora/produtora/agência não contrata bandas pelo seu momento de mercado, mas sim pela sua identidade. Desta forma, conseguem reunir um núcleo fiel ao seu estilo e com os mesmos objectivos.

Enquanto alguns artistas da editora não precisam de qualquer introdução, pois são gigantes nos seus géneros, outros estão ainda a despoletar. Os casos mais recentes são Brutus e Ioanna Gika, dois artistas completamente diferentes a nível musical, mas com a mesma mística típica da Sargent House. Se os primeiros são uma banda rock que mistura elementos de stoner-rock, math e hardcore (com uma vocalista/baterista), Ioanna Gika é uma musa americana de 25 anos que canta tal e qual como as musas dos contos de fadas, isto é, de forma enigmática, mística e bastante íntima. A sua música mistura pop com elementos electrónicos, mas sempre envolvidos por um ambiente negro. O seu álbum de estreia foi lançado em Abril deste ano e intitula-se “Thalassa”, sendo um enorme sucesso junto da crítica. Aliás, sucesso rima com Sargent House. Todos os recentes lançamentos da editora têm sido bastante elogiados, desde o novo álbum acústico de Chelsea Wolfe, ao extraordinário “Ordinary Corrupt Human Love” dos Deafheaven, banda que mistura post-metal com gaze e black metal.

O sucesso da Sargent House deve-se basicamente à sua forte identidade e grande espírito de união que todos os artistas e pessoas envolvidas na editora têm. A fórmula parece fácil, mas a essência é difícil de obter.

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