NOS Alive 2018: guia de um cartaz que não queremos perder

por Comunidade Cultura e Arte,    11 Julho, 2018
NOS Alive 2018: guia de um cartaz que não queremos perder
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Ao longo da sua década de existência, o NOS Alive cimentou-se como um dos mais incontornáveis festivais portugueses, atraindo todos os anos milhares de espectadores – muitos deles vindos de outros países para poderem ouvir as suas bandas preferidas a preços mais reduzidos. Sim, é o passe de festival mais caro em Portugal – mas olhando para o cartaz, torna-se óbvio porquê. A quantidade de grandes nomes que marcam presença em cada dia do evento é inigualável. Já ninguém espera que o NOS Alive não esgote, e este ano não foi excepção. A festa acontece no Passeio Marítimo de Algés entre os dias 12 e 14 deste mês; e, para quem não conseguiu bilhetes, a RTP promete passar alguns dos concertos. Fizemos uma lista daquilo que não queremos perder – é longa, e mesmo assim ficaram outros concertos interessantes de fora. Esperam-nos noites de muita música; entre rock, pop, electrónica e indie, há sons para todos os gostos.

NINE INCH NAILS (12 Julho, Palco NOS, 20.55h)

O Alive será o palco que marcará o regresso da banda de industrial liderada por Trent Reznor. Os influentes Nine Inch Nails não pisavam solo português desde o seu concerto de 2009 em Paredes de Coura. Sendo uma banda de presença muito pouco assídua em Portugal mas com uma enorme legião de fãs, há sempre a expectativa de que possam tocar alguns dos seus “clássicos” como “Closer”, “Hurt” ou “The Hand That Feeds”. Além disto, a banda traz ainda o recentemente lançado Bad Witch, além dos restantes trabalhos lançados neste hiato de tempo que os separou do nosso país. Há também a curiosidade para a presença de Atticus Ross em palco, agora membro efectivo da banda após colaborações com Reznor na concepção de bandas sonoras. Conhecidos também pela experiência rica que criam sempre nos seus concertos, com arranjos musicais direccionados a espectáculos específicos e elementos visuais únicos, tudo se conjuga para um enorme regresso a terras lusitanas de Reznor e companhia. É, contudo, de lamentar, o slot horário a que a banda terá direito: com pouco mais de 50 minutos de actuação, e a abrirem para Snow Patrol, parece-nos triste que um dos grandes cabeças de cartaz dos festivais americanos esteja a ser incompreendido do lado de cá do Atlântico.

FRIENDLY FIRES (12 Julho, Palco Sagres, 21.40h)

Após um silêncio de mais de cinco anos, os Friendly Fires voltaram em grande com o fabuloso hino de Verão “Love Like Waves”. Mantendo uma sonoridade revivalista e épica, mas refinando a produção, é difícil não ter vontade de dançar ao som do ritmo acelerado e das teclas tropicais características da banda de Ed Macfarlane. Como se este novo acepipe não bastasse para ganhar apetite para este regresso dos Friendly Fires a Portugal, importa relembrar a energia que a banda transmite nos seus concertos ao vivo, durante os quais Macfarlane compete com Samuel Herring (vocalista dos Future Islands) no que toca a suor expelido. Ansiamos voltar a ouvir grandes canções como “Skeleton Boy” ou “Hurting”, assim como ver o que a banda inglesa tem estado a cozinhar ao longo desta pausa prolongada.

ARCTIC MONKEYS (12 Julho, Palco NOS, 00.05h)

Os maiores holofotes, no primeiro dia do festival incidem sobre os Arctic Monkeys. A banda traz ao Passeio Marítimo de Algés o seu sexto disco Tranquility Base Hotel and Casino e um repertório repleto das maiores conquistas da carreira para deliciar o público. O grupo liderado por Alex Turner teve que crescer perante as massas quando cativou meio mundo em 2006. O álbum de estreia Whatever People Say I Am, That’s What I’m Not e o seu sucessor Favourite Worst Nightmare marcaram uma era inicial de tremenda qualidade para a banda: a do irreverente e perspicaz Turner a apontar o dedo às coisas e a cantar episódios da vida nocturna e amorosa com tamanho encanto que era praticamente impossível resistir à sua entrega. Humbug e Suck It And See mostrariam um crescimento e uns Arctic Monkeys evoluídos: estes estavam prontos a namorar com o neo-psicadelismo e uma sonoridade mais sombria como nunca antes. Os casacos de couro e o rock sexy reinaram com AM; e no mais recente trabalho o retro e o futurista combinam-se para criar um disco mais atmosférico. As mudanças estéticas e sonoras foram já muitas desde que os rapazes de Sheffield pegaram nas guitarras pela primeira vez. Mas o selo de qualidade manteve-se. A banda é frequentemente citada como uma das mais influentes a surgir na década passada e o seu material mais que justifica esse estatuto.

SAMPHA (12 de Julho, Palco Sagres, 01.35h)

Depois de uma actuação bastante morna no NOS Primavera Sound 2017, Sampha Sisay está de volta a Portugal, desta vez com um prémio Mercury sob a sua alçada, atribuído ao seu álbum Process. O álbum de estreia do músico britânico é um projecto que demonstra uma tremenda profundidade emocional e instrumental, em que transparece a engenhosa capacidade que Sisay tem para fazer da música sua, em todos os aspectos, valência que já se revelou frutuosa em colaborações com artistas como SBTRKT, Drake ou Kanye West. Antes de Blasted Mechanism encerrarem o dia com um estrondo tribal, certamente que Sampha vai embalar a multidão presente no palco Sagres com a sua doce voz e confortáveis melodias de piano.

ORELHA NEGRA (12 de Julho, NOS Clubbing, 01.45h)

No primeiro dia do festival começam as decisões difíceis: Sampha ou Orelha Negra? A banda portuguesa não fica nada atrás do jovem produtor britânico, especialmente depois do seu eclético e ambicioso terceiro projecto lançado o ano passado, em que combinam hip hop, funk e R&B numa atmosfera sonora que dá gosto descobrir. São hoje uma das principais referências da sua arte no panorama musical português e custa a crer que já passaram sete anos desde que se estrearam no Alive. Felizmente estão de volta, para nos deixarem com uma escolha difícil que não deve ser tomada de ânimo leve, sendo que com a sua música irrequieta, que combina samples e instrumentos tocados ao vivo da melhor forma possível, está garantido um momento muito bem passado de forma relaxada, antes da abrasão electrónica de SOPHIE deitar tudo abaixo.

SOPHIE (12 de Julho, Palco NOS Clubbing, 03.10h)

A produtora SOPHIE foi a escolhida para fechar o primeiro dia do festival; e, a partir desse momento, estava garantido que o dia 12 acabaria com um estrondo. Desde 2013 que a artista tem mostrado a sua electrónica aguerrida, que descreve como sendo um conjunto de esculturas sónicas, amálgamas de metal, plástico e látex sob a forma de frequências sonoras. Em Junho deste ano lançou o seu álbum de estreia, OIL OF EVERY PEARL’S UN-INSIDES, com temas rimbombantes e incansáveis repletos de abrasão. Mas é também um projecto que conta com momentos mais contidos que bebem da música pop. Tudo o que SOPHIE faz na sua música é planeado ao mais ínfimo pormenor e é por essa razão que a sua estreia em Portugal será certamente um dos pontos altos do festival e uma actuação que ficará na mente (e nos ouvidos!) daqueles que a experienciarem.

JAPANDROIDS (13 Julho, Palco Sagres, 17.50h)

Será a terceira vez no espaço de um ano que teremos a oportunidade de ver os Japandroids: depois do Primavera Sound do Porto e do Paredes de Coura no ano passado, será agora a vez de Lisboa. Mas será a primeira vez que os veremos tão cedo – às seis da tarde ainda o sol estará alto. Será curioso saber como resultará o rock festivo e frenético do duo americano em tais circunstâncias, para quem chegar a tempo ao recinto para poder vibrar com eles. Embora o posicionamento no horário seja questionável, qualquer outra escolha teria criado uma sobreposição pouco bem-vinda. Por isso estamos agradecidos.

YO LA TENGO (13 Julho, Palco Sagres, 20.25h)

A estreia dos Yo la Tengo num festival lisboeta constitui uma das grandes surpresas deste cartaz do Alive. Banda mítica do universo da música alternativa, com uma longa carreira iniciada nos anos 80 e que nos anos 90 viu editados os seus álbuns mais marcantes, trarão até nós os acordes atmosféricos com que magicam o seu som. Numa setlist inesperada, que de concerto para concerto não se mantém intacta, esperamos poder mergulhar no universo contemplativo do colectivo, e redescobrir a assinatura de uma das discografias mais interessantes que o advento da indie nos trouxe.

THE NATIONAL (13 Julho, Palco NOS, 21.20h)

Já deram mais de uma dezena de concertos em Portugal, mas os The National mantêm (e aumentam) a sua base de fãs em solo português. Depois de um esgotadíssimo Coliseu, os norte-americanos voltam aos nossos palcos com o seu Sleep Well Beast, álbum distinguido com um Grammy e que cimentou os The National como o expoente máximo do indie rock. Iremos certamente embalar-nos ao som de “Fake Empire” e recordar 2011 ao som de “Bloodbuzz Ohio”. Iremos, acima de tudo, ver e ouvir uma banda que porá toda a sua essência ao dispor de um público que sempre os acolheu.

QUEENS OF THE STONE AGE (13 Julho, Palco NOS, 23.05h)

Os Queens of the Stone Age apresentaram Villains no ano passado. Embora não tenha sido o seu álbum mais aclamado, é de certa forma um regresso à génese da banda. E é isso que nos irão apresentar, ao imenso mar de gente que estará à espera de ouvir não só os novos temas, como um regresso a … Like Clockwork ou Songs for the Deaf. Será a primeira vez desde 2014 que irão actuar em Portugal, e a força das guitarras promete matar-nos as saudades.

SURMA (13 de Julho, Palco Coreto by Arruada, 00.05h)

Se há actuação nesta edição do Alive em que o silêncio no recinto seria mais bem-vindo é sem dúvida o concerto de Surma. A artista de Leiria vem apresentar Antwerpen, o projecto atmosférico e transcendente que lançou no final do ano passado, um trabalho que é apreciado ao máximo no meio de uma floresta, engolfado pelos seus ritmos introspectivos. À falta de tal, temos a selva urbana do Alive, e certamente um grupo considerável de fãs prontos para ver Débora brilhar. Depois de ter mostrado o álbum de estreia pelo mundo (no festival South by Southwest nos Estados Unidos ou no festival Eurosonic na Holanda, por exemplo) parece algo “redutor” actuar num palco tão discreto como o Coreto, mas certamente que isso não irá afectar a electrónica expansiva e emocional que caracteriza a música da jovem artista.

FUTURE ISLANDS (13 Julho, Palco Sagres, 01.00h)

No segundo dia do festival, os Future Islands assumem os comandos do palco secundário, que será certamente pequeno para a explosão de sons e passos de dança de Samuel T. Herring. Com o mais recente álbum The Far Field, o quinto da banda, em carteira, e com um memorável concerto no MusicBox na memória de muitos (e, mais recentemente, neste mesmo palco do NOS Alive), será um concerto a não perder num dia já de si repleto de emoções.

REAL ESTATE (14 Julho, Palco Sagres, 19.05h)

As malhas envolventes e desocntraídas das guitarras dos Real Estate são, em si mesmas, uma definição próxima de uma tarde de verão. Por isso vai saber especialmente bem ouvir os temas que os americanos nos trarão, próximo da hora do pôr do sol. Na manga trarão temas de In Mind, o seu mais recente trabalho, editado o ano passado. Mas os singles de Days e Atlas não deverão faltar. O jungle pop da banda promete aquecer o coração de quem se dispuser a ouvi-lo.

THROES + THE SHINE (14 Julho, NOS Clubbing, 20.20h)

A temperatura no Palco Clubbing vai subir freneticamente às 20:20 com a entrada dos Throes + The Shine. O trio baseado no Porto e em Luanda é conhecido pelos seus espectáculos absolutamente ligados à corrente e cheios de intensidade. Ninguém fica indiferente às suas doses viciantes de energia positiva, e o mais difícil é mesmo manter os pés no solo quando tocam: as danças desinibidas e os moshes libertadores nunca faltam, e constituem ingredientes obrigatórios. Com três álbuns na bagagem e um quarto a caminho, os Throes + The Shine raramente falham no seu objectivo de animar o público como mais ninguém, e prometem ser uma das surpresas mais fortes desta edição do NOS Alive.

JACK WHITE (14 de Julho, Palco NOS, 21.05h)

Quais serão as músicas que Jack White irá tocar na sua estreia a solo no Alive? Certamente que farão parte dessa lista algumas das que tocou há 11 anos atrás quando os The White Stripes marcam presença na edição de 2007 deste festival. Mas a verdade é que neste momento nem o próprio artista sabe o que vai tocar. O músico polivalente é conhecido por tocar sem uma setlist previamente definida e a sua actuação no Alive não será uma excepção. Vem apresentar o seu mais recente álbum, Boarding House Reach, em que diverge do seu habitual som de rocker e abraça novos limites, mostrando um projecto com influências distintas e que transparecem nos temas que o compõem. Mas o extenso repertório do músico (e das várias bandas da qual fez parte) também marcará presença na lista mistério. A única certeza que temos é que será uma actuação com muita potência, distorção e solos tresloucados de guitarra.

PEARL JAM (14 Julho, Palco NOS, 23.15h)

Inquestionavelmente entre os expoentes máximos da efervescente cena musical de Seattle que despontou nos anos 90, os Pearl Jam regressam a Portugal no dia 14 de Julho com a promessa de mais um concerto verdadeiramente inesquecível. Desde os tempos do icónico Ten que essa tem sido a sua principal faceta: a de uma banda que vive para estar em palco acima de qualquer outra coisa. Os seus espectáculos longos com setlists sempre imprevisíveis – e sempre encantadores para os que conhecem os seus discos de trás para a frente – muito fazem para explicar por que motivos o grupo continua a atrair um público vasto até hoje: a sinergia que se sente quando o recinto inteiro canta os seus temas mais conhecidos ou o arrebatador aplauso colectivo que se ouve quando é desenterrada do baú uma música raramente tocada contribuem para que a experiência adquira um lugar muito especial nas memórias de todos os presentes. A sua história já leva alguns capítulos, mas nunca os Pearl Jam perderam o contacto único que têm com quem os segue, e certamente não mostram sinais de abrandar.

MGMT (14 Julho, Palco NOS, 01.55h)

Os camaleónicos MGMT voltam ao Alive, para concluírem o seu hat-trick no Passeio Marítimo de Algés. Festa e disforia – sonoridade pop com apontamentos escuros. Um concerto de dança e emoção, ao ritmo da electrónica espacial da banda. Little Dark Age, o mais recente álbum, conseguiu a proeza de superar em termos de recepção crítica os seus álbuns do passado – mesmo que só o tempo irá permitir que alcance (ou não) o estatuto mítico que marcou uma geração em Oracular Spectacular. Será, certamente, um fim de festa especial para um cartaz recheado de grandes nomes.

XINOBI (14 de Julho, NOS Clubbing, 02.30h)

A honra de fechar o NOS Clubbing nesta edição do NOS Alive foi dada a um artista português: Xinobi vai encerrar a noite neste palco mostrando toda a pujança do seu mundo digital com ginga. Vem apresentar o seu último álbum de originais, On the Quiet, mas certamente que 1975 com os seus riffs de guitarra apelativos também se fará ouvir em Algés. A sua música é perfeita para fechar os olhos e nos deixarmos levar pelos ritmos envolventes que a compõem, escapar para um “Far Away Place”. Numa noite que se espera quente, Xinobi vai mostrar o porquê de ser uma sensação internacional no mundo da música electrónica.

O guia foi redigido pela equipa da Comunidade Cultura e Arte: Bernardo Crastes, Daniel Dias, João Estróia Vieira, Linda Formiga, Miguel Santos e Tiago Mendes

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