Nem toda a gente engordou com a pandemia

por Cronista convidado,    18 Novembro, 2020
Nem toda a gente engordou com a pandemia
Fotografia de Christopher Burns / Unsplash
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Porque é que existem empresas? Muitas vezes, na espuma dos dias, acabamos por nos esquecer das respostas às perguntas mais simples, dignas de uma criança. Será que as empresas existem por causa do lucro? A minha resposta é um redondo “não”. É certo que a maioria das pessoas não trabalharia se recebesse um ordenado sem necessidade de o fazer ou o que os accionistas não investiriam se não fosse a pensar no lucro que determinada empresa pode dar.

No entanto, uma empresa existe apenas por uma razão: prestar serviços. Parece algo simples, mas esta é a ideia que, na minha opinião, é muitas vezes esquecida, mas que deve nortear o rumo de todas as empresas. O lucro não se esgota em si mesmo nem deve ser o objectivo. Nenhum trabalhador do Mundo se levanta de manhã quando toca o despertador motivado com a ideia de dar lucro à empresa. O lucro é o meio que as empresas têm para poderem continuar a prestar serviços, sendo, por isso, essencial. Para aumentar os lucros, uma empresa deve focar-se no seu serviço. A pergunta que deve ser mais feita não é “como posso aumentar os lucros?”, mas sim “como posso melhorar o serviço que presto?”. Mais importante do que fazer mais é fazer melhor. É fazendo melhor que podemos fazer mais. Se eu servir 10 cafés de pouca qualidade por dia, não faz sentido que me peçam para começar a servir 20. Devo, isso sim, começar a servir 10 cafés bons, porque um cliente satisfeito é um cliente que volta.

Muitas vezes, a melhoria do serviço que prestamos desenha-se internamente. A meu ver, uma boa política de Recursos Humanos deve ser a fundação de qualquer empresa de sucesso. Não falo apenas de bons salários, contratos estáveis ou outros benefícios — que devem existir, mas como reflexo de algo bem maior. Falo de uma visão que deve ser partilhada e de uma responsabilidade social que as empresas têm com os seus trabalhadores. Estamos a atravessar um período difícil em que muitas empresas colocaram trabalhadores em lay-off com perdas de rendimento ou que inclusivamente despediram trabalhadores. Algumas destas pessoas tiveram de atrasar pagamentos de rendas e outras contas, mas elas estão lá à espera de ser pagas. E acreditem: as dívidas não desaparecem se não forem pagas. É responsabilidade das empresas não deixar que os seus trabalhadores passem por dificuldades.

Trabalhar perde todo o sentido a partir do momento em que o trabalho não serve para pagar o básico da vida de uma sociedade como a entendemos. Muitas empresas colocaram pessoas em lay-off para diminuir perdas. O lay-off é uma medida extrema e não devia servir para diminuir perdas, mas sim para evitar que determinado posto de trabalho seja extinto. Uma empresa perde umas vezes e ganha noutras. Não estando em risco a sobrevivência da empresa, a pergunta deve ser “como é que melhoro o meu serviço?” e não “como é que perco menos?”. Mais ainda quando o desequilíbrio de forças é muito grande entre patrões e trabalhadores e não têm qualquer vergonha de o mostrar, colocando trabalhadores em lay-off ao mesmo tempo que os seus rendimentos e regalias não sofrem qualquer alteração. Isto não é populismo. É o patrão vestir a camisola da empresa, porque a empresa são as pessoas. Os números são apenas um reflexo.

Crónica de Francisco Mendes
O Francisco esteve 3 anos desempregado e trabalha há 5 anos na área de Recursos Humanos.

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