Movimento cívico nacional contra atentado patrimonial em Viseu, e que desrespeita o projecto de Álvaro Siza Vieira

por Comunidade Cultura e Arte,    16 Fevereiro, 2021
Movimento cívico nacional contra atentado patrimonial em Viseu, e que desrespeita o projecto de Álvaro Siza Vieira
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No dia 24 de maio de 1876, a vereação viseense aprovou a construção de um novo edifício camarário no âmbito do “Plano de d’obras municipaes, e meios de as levar a efeito” (ATAS, 1876), apresentado pelo vice-presidente Andrade e Silva. Esse ambicioso plano de promover melhorias na cidade, ao estilo fontista, incluía a construção de um novo mercado, o alargamento da Rua Chão do Mestre, a continuação das obras na Rua Formosa, a abertura de uma rua que ligasse a Praça da Cidade (atual D. Duarte) à Rua Formosa e a expropriação da Quinta de Massorim, para futura urbanização.

O novo mercado, situado entre a Rua Formosa e a futura Rua do Comércio, que começava, também, a definir-se, foi inaugurado pouco depois, em 1879 (a construção decorreu entre 1877 e 1879). O Mercado chama-se 2 de Maio porque foi a 2 de Maio de 1834 que as tropas liberais, chefiadas pelo duque da Terceira, entraram na cidade de Viseu

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Os subscritores desta carta aberta e petição vêm exigir ao Ex.mo Senhor Presidente da Câmara Municipal de Viseu a revogação da decisão de executar o projecto de alteração/cobertura da Praça/Mercado 2 de Maio, pelos seguintes motivos:

1. Imperativos de revitalização do centro da cidade de Viseu, como de qualquer cidade com significativa trajectória histórica, não podem afectar de modo lesivo existências arquitectónicas e componentes patrimoniais. Sucede que o projecto de cobertura da Praça 2 de Maio, que o Município de Viseu anunciou vir a executar – em virtude do seu desacerto e da sua profunda dissonância com o lugar e com a envolvente —, constitui um grave e inadmissível atentado patrimonial e urbanístico.

2. Num desrespeito despudorado pelo trabalho autoral e pelo património da cidade, o actual executivo camarário ignorou os Arquitectos Álvaro Siza e António Madureira, autores do projecto executado nos anos 90 do século XX.

3. Diferentemente, cumprindo imperativos ético-metodológicos, o anterior Presidente da Câmara solicitou ao Arquitecto Álvaro Siza alterações pontuais ao projecto executado, designadamente uma solução para a cobertura “do recinto do mercado”. Tendo obtido resposta, a Câmara Municipal de Viseu não a executou. Nesta consideração, impõe-se a questão: onde está, actualmente, o projecto de alteração/cobertura da Praça 2 de Maio, desenhado a posteriori pelo Arquitecto Álvaro Siza? Exigimos o direito à sua divulgação pública e à sua discussão alargada.

4. O programa do concurso para a revitalização da Praça 2 de Maio lançado, em 2015, pela Câmara Municipal de Viseu, por ser incompreensivelmente impositivo e determinar, a priori, a solução a adoptar, eliminou quaisquer possibilidades de intervenção e revitalização distintas, adequadas e qualificadas.

Após o concurso, foram apresentadas publicamente as 3 propostas vencedoras. Porém, desconhecendo-se resultados de qualquer debate ou consulta pública, o Município decidiu avançar com a proposta classificada em 2.º lugar.

5. Por fim, consideramos ser um dever de cidadania denunciar — e não admitir — que mais de 4 milhões de euros do erário público sejam gastos numa obra profundamente atentatória do património da cidade.

Signatários: 

Eduardo Souto de Moura, Arquitecto
Simonetta Luz Afonso, Museóloga e Gestora Cultural
João Luís Carrilho da Graça, Arquitecto
Manuel Aires Mateus, Arquitecto
Dalila Rodrigues, Historiadora de Arte e Gestora de Património
Pedro Santos Guerreiro, Jornalista
José Mateus, Arquitecto e Presidente da Trienal de Arquitectura de Lisboa
Nuno Sampaio, Arquitecto e Director da Casa da Arquitectura
André Tavares, Arquitecto e Programador da Garagem Sul do Centro Cultural de Belém
Vitor Serrão, Historiador de Arte e Professor Catedrático da Universidade de Lisboa
João Mendes Ribeiro, Arquitecto
Francisco Keil Amaral, Arquitecto
Maria de Lurdes Craveiro, Historiadora de Arte e Professora da Universidade de Coimbra
Ricardo Carvalho, Arquitecto e Director do Departamento de Arquitectura da UAL
Walter Rossa, Arquitecto e Professor Catedrático do DARQ – Universidade de Coimbra
Nuno Mateus, Arquitecto
Andreia Galvão, Arquitecta e Gestora de Património
Odete Paiva, Gestora de Património e Professora da EST/Instituto Politécnico de Viseu
João Luís Oliva, Historiador
Sandra Oliveira, Programadora e Gestora Cultural
Jorge Adolfo, Arqueólogo e Professor da ESEV/Instituto Politécnico de Viseu
Patrícia Barbas, Arquitecta
Francisco Pato de Macedo, Historiador de Arte
José Pessoa, Técnico de Património e Historiador de Fotografia
António Montenegro, Embaixador Jubilado
Nuno Grande, Arquitecto, Curador e Professor do DARQ – Universidade de Coimbra
Maria José Goulão, Historiadora de Arte e Professora Associada da Universidade do Porto
Joaquim Moreno, Arquitecto, Historiador e Curador
Cristina Azevedo Gomes, Professora da ESEV/Instituto Politécnico de Viseu
José Fernando Gonçalves, Arquitecto e Professor do DARQ – Universidade de Coimbra
Tiago Mota Saraiva, Arquitecto
Luísa Trindade, Historiadora de arte e Professora da Universidade de Coimbra
Sérgio Koch, Arquitecto
Rita Aguiar Rodrigues, Arquitecta
Pedro Campos Costa, Arquitecto
Carine Pimenta, Arquitecta
Joana Antunes, Historiadora de Arte e Professora da Universidade de Coimbra
Sandra Costa Saldanha, Historiadora de Arte e Professora da Universidade de Coimbra
Daniel Alvarenga, Consultor
Júlia Alves, Advogada
Paula Garcia, Programadora Cultural

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