Motelx 2017: a antevisão da invasão do cinema de terror à cidade de Lisboa

por David Bernardino,    31 Agosto, 2017
Motelx 2017: a antevisão da invasão do cinema de terror à cidade de Lisboa
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Depois de uma belíssima celebração dos 10 anos de Motelx, Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa, que, em 2016, viu D. Sebastião desembarcar em Lisboa numa noite de nevoeiro para trazer filmes como Don’t Breathe, The Wailing ou o Holocausto Canibal de Ruggero Deodato, ele próprio convidado de honra no festival, o Motelx está de regresso com a imagem dos diabos vermelhos das tradições profanas transmontanas. Já bem enraizado entre nós e mais robusto do que nunca, o Motelx é hoje, provavelmente, o festival de cinema de maior sucesso perante o público português.

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Ainda antes de começar o festival per se, o Motelx preparou mais um belo warm-up para os fãs do terror com 4 eventos que celebram a temática. O primeiro é já dia 31 de Agosto, com a exibição ao ar livre do documentário sobre a adaptação de Jodorowsky do clássico Dune para o cinema que nunca aconteceu. Há ainda o destaque para 3 filmes de terror latino a exibir na cinemateca, nos dias 1 e 4 de Setembro, o comentário live de Manuel João Vieira ao filme de culto They Live de Carpenter e por último, como já é costume, é feita homenagem ao falecido George A. Romero, pai do cinema zombie, com a exibição ao ar livre de Dawn of the Dead num encontro de caracterizações horripilantes que prometem invadir o Largo de São Carlos na noite de 2 de Setembro. Também nessa noite tocarão os Glockenwise no Sabotage.

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Os convidados de honra deste ano serão Alejandro Jodorowsky e Roger Corman. O primeiro, figura de culto que já viu El Topo ser exibido este ano no Espaço Nimas nas Sessões de Culto de Filipe Melo, e cuja vinda ao nosso país teve que ser adiada precisamente até agora, verá no grande écrã do São Jorge a exibição desse mítico western psicadélico de 1970 bem como de Santa Sangre de 1989, um excelente exemplo de terror psicológico. Roger Corman é, também ele, e como o festival já nos habituou, figura lendária do cinema de terror, um dos pais do terror gótico dos anos 60 com as adaptações de várias obras de Edgar Allan Poe e assíduo utilizador dos practical effects de terror nos anos 50 enquanto um dos pais daquele mítico terror low budget de filmes como Attack of the Crab Monsters, Teenage Cave Man ou The Wasp Woman, continuando a produzir filmes do género até ao presente. Os filmes de Corman selecionados para exibição são The Masque of the Red Death e X: The Man with de X-Ray Eyes, de 1964 e 63, respectivamente. Haverá conversas com ambos os ícones com entrada gratuita.

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Indo agora à seleção de filmes a estrear no festival, existe, como sempre, um vasto leque de opções dentro do imaginário do horror, do thriller ao drama psicológico, do exploitation ao gore, passando por fantasmas e assassinos. Algumas propostas serão melhores enquanto outras talvez sejam menos interessantes. Procurámos, para esse efeito, encontrar aqueles que serão, porventura, os títulos mais interessantes a passar pelo festival, entre as longas metragens em competição pelo Méliès D’Argent para melhor longa de terror europeia, a secção principal Serviço de Quarto, e a busca pelas raridades lusitanas de género dos anos 70 da secção Quarto Perdido. Eis então os nossos destaques:

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Dia 5

O festival abre com a exibição de Super Dark Times, um thriller psicológico acerca de dois estudantes de liceu dos subúrbios dos Estados Unidos, que terão que enfrentar as consequências de um trágico incidente. O filme promete argumento e realização astutas e é um dos que devem ser tidos em conta no festival, além de ser o filme que protagoniza a sessão de abertura e toda a interessante cerimónia que lhe antecede.

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Dia 6

O segundo dia do festival é um dia equilibrado, que promete uma tarde de qualidade no São Jorge, que se inicia com o primeiro de alguns dilemas que a programação nos traz, com a exibição simultânea na Sala Manoel de Oliveira, e na Sala 3, de Killing Ground e The Void, pelas 14h15 e 14h35. O primeiro trata-se de um thriller sangrento que coloca um casal a acampar num local que talvez não seja assim tão isolado. O segundo é um mistério de horror e ficção científica que homenageia os pratical effects dos anos 80. Ambos foram muito bem recebidos pela pouca crítica que já os viu. The Void será também exibido na Sala 3 do São Jorge, enquanto decorre a sessão de abertura no dia anterior, pelo que, quem falhar a compra do bilhete para essa sempre esgotada sessão, terá, decerto, uma boa alternativa.

A seguir, pelas 16h35 e 16h50, um outro dilema, com o horror fantasioso e ingénuo (ou talvez não) de Dave Made a Maze, na Sala Manoel de Oliveira, e Kfc na Sala 3, um filme vietnamita descrito como grotesco, macabro e extremamente violento, que por este último motivo demorou 4 anos até ter os apoios necessários para ser concluído. São duas sugestões que fogem à regra, e que, pela originalidade, se tornam focos de interesse na programação.

Pelas 19h, é exibido El Bar, na Sala Manoel de Oliveira, um thriller espanhol com toques de comédia negra que coloca os seus actores, clientes de um café, fechados dentro do estabelecimento, enquanto um aparente sniper os impede de sair, trazendo à memória o fenómeno mais moderno que foi Phone Booth.

Às 21.25h, é exibido X: The Man with the X-Ray Eyes para quem estiver interessado em revisitar a obra do convidado de honra Roger Corman, e por fim, à meia-noite, destaca-se o filme do músico mais conhecido por Flying Lotus, Kuso, que promete ser a proposta mais nojenta e grotesca do festival, explorando detalhadamente e de várias formas as fezes humanas naquilo que foi apelidado, em Sundance, como “terror escatológico”.

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Dia 7

Mais um dia que promete uma tarde de qualidade, mas, desta vez, sem dilemas de maior, uma vez que a Sala Manoel de Oliveira nos parece bem melhor apetrechada que a sua “concorrente”. Better Watch Out, a ver na sessão das 14h15, colocará um rapaz de 12 anos, e a sua babysitter, por quem secretamente tem uma crush, sozinhos em casa enquanto aparentemente alguém os observa lá fora, numa espécie de aproximação horror/home invasion ao igualmente natalício Sozinho em Casa.

Pelas 16h40, passa The Untamed, vencedor do Leão de Prata em Veneza, filme mexicano no qual um casal é seduzido pelo mistério de uma cabana misteriosa nos bosques que contém propriedades únicas. Às 19h, o destaque vai para The Endless, thriller provocador que explora os perigos e mistérios das sociedades secretas, dos cultos e do fanatismo, também muito bem recebido pela pouca crítica que já o viu.

Às 21h30, é exibida a segunda proposta da obra de Roger Corman, com o gótico The Mask of the Red Death, numa sessão que promete um grande ambiente em conjunto com o realizador. Para a sessão da meia-noite, está reservado Hounds of Love, um thriller inteligente, intenso e perturbador, que envolve o rapto de uma mulher por um casal, e o plano da mesma em se libertar do seu cativeiro, num filme cujo argumento e interpretações são os pontos fortes.

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Dia 8

A sexta-feira volta a colocar um dilema aos amantes do terror, talvez o maior do festival, ao colocar dois grandes destaques da programação à mesma hora, na sessão da meia-noite. Por um lado, temos a já emblemática sessão dupla, que contará com Train to Busan, o hit taildandês de apocalipse zombie fortemente elogiado, cuja acção decorre num comboio e com Game of Death, não o de Bruce Lee, mas o de uma espécie de Jumanji versão adulta e sangrenta. Por outro lado, será exibido, na Sala 3, A Dark Song, também muito elogiado pela crítica, e que promete ser o filme de terror slow burn mais atmosférico, e que mais calafrios trará nesta edição do Motelx.

Antes disso, a tarde promete voltar a ser apetecível na Sala Manoel de Oliveira, a começar pelo sul-coreano Missing You, a nova proposta da vaga do bom novo cinema deste país (o sul-coreano The Wailing foi o melhor filme a passar no festival no ano passado), um thriller de vingança com personagens de moralidade dúbia e um argumento forte para ver às 14h15. ÀS 16h40, é exibido Berlin Syndrome, um thriller sobre obsessão, de argumento forte, que coloca a mulher no papel principal enquanto prisioneira do seu amante, numa proposta que nos lembra Pet, exibido no ano passado, mas que se espera bastante superior em qualidade.

Ao fim da tarde, pelas 19h10, é exibida uma das mais interessantes propostas entre os filmes a concurso para melhor longa de terror europeia, o finlandês Lake Bodom, que conta a história de um grupo de adolescentes que vão acampar numa zona isolada na expectativa de recriar as circunstâncias de um crime hediondo que aí ocorreu 50 anos antes, e resolver o mistério do que terá realmente acontecido nessa noite. Lake Bodom é uma das raras propostas de teen slasher vindas do norte da europa. Nota ainda para Lowlife, a exibir às 21h30, um thriller ao estilo de Tarantino que aparenta ter mais ideias do que o mero copy paste sensaborão e enjoativo que tantos outros já foram no passado.

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Dia 9

Sábado conta com uma programação de destaques variados, que vão do documentário, ao regresso de um clássico do terror, passando pela recuperação de uma co-produção ibérica dos anos 70. O documentário é 78/52, a exibir às 14h50, na Sala 3 e que irá dissecar ao pormenor a mais famosa cena de homicídio da história do cinema, a cena do chuveiro de Psycho, e as suas influências no decurso da história do cinema de suspense/terror. A seguir, na mesma sala, pelas 16h55 rodará Crime de Amor de 1971, uma história de ciúmes e obsessão trágicos filmada em Lisboa e no Algarve.

Após estas duas sessões, na Sala 3 do São Jorge, é tempo de atravessar a Avenida da Liberdade até ao Teatro Tivoli para ver Santa Sangre, a primeira das propostas para revisitar a obra do convidado de honra Alejandro Jodorowsky, às 19h, e, a seguir, Mayhem, pelas 21h45, um dos filmes mais esperados desta edição, que coloca um vírus que leva à loucura no interior do edifício de uma firma de advogados, de quarentena. Por fim, à meia-noite, há mais uma sessão dupla, de qualidade e interesse aparentemente bem inferiores à primeira, que trará de volta o boneco assassino, com Cult of Chucky, seguido do over-the-top sci-fi japonês de acção Meatball Machine Kodoku.

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Dia 10

O último dia do Motelx é, provavelmente, o mais fraco, mas contará também com algumas propostas bem interessantes para os amantes do género. A primeira, a exibir às 13h45, é My Friend Dahmer, que conta a história da adolescência de Jeffrey Dahmer, que se viria a tornar num dos mais psicóticos e desconcertantes serial killers da história dos Estados Unidos. Seguidamente, é tempo de rever El Topo, a obra prima de Jodorowsky, juntamente com Holy Mountain, a exibir às 16h05 na Sala Manoel de Oliveira. Ao mesmo tempo, estará, na Sala 3, Animals, pelas 16h50, outra interessante proposta a concurso para melhor longa de terror europeia, num filme que invoca David Lynch, e o seu universo de sonho desconcertante e twilight zonesco. Animals coincide, também, com a exibição de Santa Sangre no dia anterior pelo que será difícil para os fãs de Jodorowsky conseguir vê-lo, ou o contrário.

Às 19h15, é tempo de ver Cold Hell também na sala 3, outro belo candidato ao Méliès d’Argent, vindo da Alemanha, que coloca, nesse país, uma taxista de origem turca praticante de muay thai como alvo de um serial killer islamita fundamentalista, num filme que, como se prevê, deverá provocar e desafiar o espectador pela sua temática. Finalmente, é tempo de ver a nova adaptação do palhaço assassino de It, escrito por Stephen King, um dos filmes mais esperados do ano, e que promete encerrar o Motelx em beleza numa sala que esgotará certamente vários dias antes da exibição. Aí, serão também atribuídos os prémios para melhor curta metragem de terror portuguesa, e para melhor longa de terror europeia. Os mais resistentes poderão ainda ver, pelas 00h20, Tragedy Girls, a história de duas amigas obcecadas pelas redes sociais, e que não olharão a meios para atingir o maior número de seguidores possível tornando-se assim lendas locais.

Desejamos a todos os fãs do cinema de terror muitos sustos e diversão, e que este roteiro sirva para ajudar a dissipar, de alguma forma, quais as propostas merecedoras do preço do bilhete.

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