Milhões de Festa: um poço de surpresas e desilusões

por João Horta,    27 Julho, 2016
Milhões de Festa: um poço de surpresas e desilusões
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Barcelos já se tornou num local de culto para os amantes da música em todas as suas vertentes. O Milhões de Festa confirmou uma vez mais o seu ecletismo através de um cartaz que deambula pelo rap, rock, soul, world music, punk e metal. Embora e verdade seja dita, o festival minhoto já viveu melhores dias nas edições anteriores. Esta edição contou com pouca audiência em relação aos anos transactos, juntando a agravante que a qualidade dos concertos foi vítima de um significativo decréscimo.

Contudo o sol e o calor foram os reis da festa, levando até à piscina aqueles que queriam recarregar energias para outra noite regada de riffs estridentes, baixos de rebentar os tímpanos e ritmos do mundo. Nunca fez tanto sentido esta piscina de Barcelos onde a torrar fora de água tocaram nomes como Filho da Mãe & Ricardo Martins, Surma, Ghost Hunt ou Tomaga.

O palco principal esteve debaixo de três noites quentes, nele subiram Sons of Kemet, Goat, Sun Araw, The Heads, Bixiga70, Dan Deacon, Evil Blizzard, El Guincho, entre outros. Uns estiveram à altura, outros longe disso e, por isso, fazemos por aqui o nosso balanço desta edição do Milhões de Festa.

As confirmações

Aterrava uma noite de lua cheia em Barcelos e com ela vieram as sonoridades escaldantes dos britânicos Sons of Kemet. Munidos de uma tuba, um saxofone e duas baterias que nos guiaram numa viagem pelo continente africano. Os músicos pouco interagiram, deixando que a sua “world music” comunicasse por eles, foram claramente uma das melhores surpresas do festival.

A segunda noite foi encabeçada por uma das bandas mais aguardas desta edição, os veteranos The Heads. Subiram ao palco, chutaram riffs atrás de riffs infinitas e foram competentes. A julgar pela quantidade de headbangers durante o concerto, podemos afirmar que o público parecia gostar do que estava a assistir.

Ninguém foi indiferente à energia dos Ho99o9, quem pensa que Death Grips é a cena, então por favor procurem por estes meninos na internet. Assim que subiram ao palco a energia foi contagiante, as samples de riffs apunkalhadas geraram o mosh pit mais poderoso do festival. Foram para o meio do público, deram backflips e sempre acompanhados de um baterista exímio e com a lição bem estudada. Partiram tudo e foram, para nós, o concerto mais bonito desta edição do Milhões de Festa.

Nem tudo foi bom

Tantas expectativas levantadas para The Bug no primeiro dia do festival e tanto se falou nele como um dos concertos mais aguardados. Muitos referiam a intensidade das suas batidas e dos seus baixos agressivos. Com ele subiram ao palco Gaika e Miss Red, a verdade é que mesmo com o calor da rapper israelita a actuação foi sempre morna, algo que deixou a audiência sempre pouco entusiasmada. A expectativa estava alta e acabou por cair sobre si mesma, num concerto sem agressividade, onde chorámos de saudades por Stephen O’Malley.

Na noite seguinte os Sun Araw voltaram aos palcos nacionais para nos mostrar um novo trabalho. Começaram bem mas o som traiu-os ao fim de dez minutos, o que levou a uma retirada da banda durante quase meia hora. Voltaram sem energia – e com pouco público a assistir – limitaram-se a ser competentes e abandonar o palco com um simples obrigado. A banda sentiu que merecia mais e quem adiou a hora de jantar para os ver também.

Quando subiam ao palco principal do Milhões de Festa – depois deste ter sido arrasado pelos The Heads – os Bixiga70 vindos directamente do centro de São Paulo prometiam deixar o público em delírio perante a sua orquestra de congas e sopros absolutamente incrível. Bem ao estilo brasileiro, foram calorosos e muito interagiram, mas pouco tocaram. A banda brasileira não passou de uma monotonia rítmica latina, o público delirou, talvez por ser pouco exigente ou simplesmente porque já tinha sido aquecido pelo Alfaiate Coffee Shop.

As revelações

A primeira noite foi premiada com a actuação dos Marshstepper + HHY + Vag. As sonoridades espaciais desta colaboração levaram-nos por caminhos surpreendentes, recheadas de barulho audível e com uma carga algo dramática. Apesar de não serem um nome sonante do cartaz, mereciam melhor recepção da audiência. No entanto, foi a escolha perfeita para aquecer os Goat que subiam ao palco principal logo a seguir.

Se há alguma coisa a dizer, sobre os Tomaga é: fixem este nome. A revelação do último dia deu-se na piscina e foi através desta banda que, para além de ter uma baterista inacreditável, destilou o calor através de um baixo com riffs distorcidas e um amontoado de pedalarias. Uma viagem pelo noise e drone ao ritmo do jazz.

Um concerto em família foi o prémio que tivemos dos Evil Blizzard. Uma bateria, quatro baixos e máscaras bizarras vindas directamente de Camden Town. O rock n’ roll dos Evil Blizzard levou a audiência para o palco – alguns terminaram a tocar bateria e baixo – e também os filhos dos elementos da banda. Foi divertido e mereciam mais pessoas para os ver.

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