Micro Clima: o festival que derreteu a Parede

por João Horta,    25 Dezembro, 2017
Micro Clima: o festival que derreteu a Parede
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Na Parede não existe só Micro Clima, existe também um ecossistema que começa a dar frutos; pequenos grupos despontam em diferentes áreas artísticas, da música às artes visuais e performativas. Os dias 14,15 e 16 de Dezembro foram recheados de concertos e performances, na Sociedade Musical União Paredense (SMUP).

O espaço é perfeito para acolher um festival de inverno, o conforto e a hospitalidade fazem-nos sentir em casa. No piso de cima, o bar com duas mesas de snooker acolhe um pequeno palco onde Sallim aquece os corações de quem chegou mais cedo. A voz melosa da compositora da Cafetra encantou durante quase uma hora no Juca Stage – palco apelidado com a alcunha do actual gerente do bar. Os Faq’s chegam logo a seguir, para desarrumar a casa. O quarteto do Porto abanou as primeiras cabeças da noite, despejou riffs punk, sem espinhas e truques. Destaque para a presença imparável dos elementos da banda, a atitude ficou na retina e aguardamos vê-los brevemente em palcos maiores.

A pausa para jantar serviu-se entre comes, bebes, fumos e momentos de descontração. Antes dos concertos no salão, houve tempo para espreitar uma vídeo projecção acompanhada de uma performance, por parte de Daniela Serra e Alex Cortez. É tempo de descer até ao palco do salão.

Neste terceiro dia, os Black Wizards ficaram encarregues de abrir o palco principal. O rock psicadélico pesado da banda nortenha enche a sala bem composta, num alinhamento preenchido pelo mais recente trabalho What The Fuzz. Já sabemos do que são capazes; guitarradas sujas, um baixo intenso e secções rítmicas arrebatadoras. É rock sem espinhas com nuances de blues, onde Hendrix e Joplin se encontram na pessoa de Joana Brito. “I Don’t Wanna Die” e “Lake of Fire” declararam uma avalanche de headbang pela SMUP fora. Ficou aberto o apetite para a actuação dos Pás de Problème.

São muitos os que se aproximam do palco para ver a banda de Lisboa. O septeto está bem oleado, entra de rompante e agitam-se logo as filas da frente, entre mosh, crowdsurfing e passos de dança. Realmente, estes jovens são capazes de provocar uma bela panóplia de reacções. As cantigas dividem-se por ritmos do punk, funk e fundem-se com sopros recheados de alma gipsy e latina. Gil Dionísio é o vocalista, violinista e maestro da Real Padrada – lema que acompanha a banda. É sempre a mexer, quem dita o ritmo são os Pás de Problème. “Tequilla” e “I Explode You Make Boom Boom” são as canções que mais abanam a audiência, pelo meio, anunciam o podcast da “padrada”. Uma espécie de freakshow cómico, onde os membros da banda demonstram ter talento para outras artes. Há poesia, tédio (ou nada para dizer) e um homem nu que utiliza as partes baixas para lançar fogo-de-artifício.

A versatilidade da banda não se recomenda a cardíacos, navegam entre o frenético e o swing. Lançam-se em barcos insufláveis sobre o público, fazem trinta por uma linha no palco, preenchem o espaço não só pelo som contagiante, mas também pela intensidade performativa. Um desfecho em grande da primeira edição do festival.

O Micro Clima e a SMUP são a combinação perfeita para uma noite fria de inverno. Apesar de pouco ambicioso, no que diz respeito ao cartaz, a aposta está ganha e o evento ficará registado no mapa dos festivais de Inverno nacionais.

Fotografias de André Mascarenhas Barreto / Micro Clima

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