Luís Sousa Ferreira: “Quando as pessoas começarem a valorizar a cultura, os políticos começam a investir nela”

por Luís Grilo,    2 Maio, 2020
Luís Sousa Ferreira: “Quando as pessoas começarem a valorizar a cultura, os políticos começam a investir nela”
Luís Sousa Ferreira / Fotografia de Rui André Soares – CCA
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Nota prévia: esta entrevista realizou-se nos últimos dias de Fevereiro, portanto, antes de pandemia da covid19 ser uma realidade em Portugal. Se entrevistássemos o Luís Sousa Ferreira hoje, certamente teríamos um produto final diferente. Não obstante, pela qualidade do entrevistado e a importância das reflexões patentes, decidimos publicar a entrevista.

Luís Sousa Ferreira é um dos programadores culturais mais influentes em Portugal. Tem 36 anos, é natural de Tomar e foi uma das caras do Festival Bons Sons, evento que pôs a sua aldeia natal, Cem Soldos, nas bocas do mundo. Actualmente, dirige o projecto 23 Milhas, onde se pensa e concretiza a oferta cultural do município de Ílhavo. Foi nessa cidade do distrito de Aveiro que o Luís recebeu a Comunidade Cultura e Arte para uma conversa que abordou diversos temas que, invariavelmente, tiveram em comum a centralidade que a Cultura tem nas nossas vidas, nos nossos territórios, nas autarquias e naquilo que é o entendimento da realidade.

Colocar as Artes ao serviço da promoção dos encontros entre pessoas, o abraçar das particularidades de cada geografia, ou o confrontar das velhas lógicas em que cada espectáculo pertence, circunscrito, a um determinado sítio não são, para este programador, ideias à espera de serem adoptadas. São parte de um método de trabalho, levado à cena quotidianamente, com objectivos específicos. Provavelmente, o futuro da Cultura em Portugal está já a ser posto em prático, pelas mãos do Luís Sousa Ferreira e da equipa que o acompanha. Cabe-nos estar atentos.

Como é que um designer acaba como programador cultural?
Comecei a trabalhar na área muito cedo, na Associação Cultural de Cem Soldos, antes de entrar no curso. Fui para Design porque não tive coragem para ir para Artes Plásticas, então procurei o equilíbrio entre conseguir uma profissão e o universo artístico. Fui para as Caldas da Rainha [ESAD – Escola Superior de Artes e Design], por ser uma escola com as duas lógicas muito presentes. Na altura da tese, o professor Jaime Sousa pediu um trabalho sobre os nossos hobbies e eu trabalhava há anos na associação de Cem Soldos, tinha lá feito um grupo de expressão corporal, co-criei o Núcleo de Artes Performativas, nas Caldas da Rainha, e participava no Caldas Late Night. Depois, fui trabalhar para o CENTA – Centro de Estudos de Novas Tendências Artísticas, no ano em que acabei o curso e fundei o Bons Sons. Nessa altura, trabalhava a dimensão de identidade, que sempre me interessou: o artesanato, o território… A Cultura é uma ferramenta para trabalhar os territórios e os encontros. O Design tem a vantagem de não ser uma ciência, mas é uma disciplina de mediação que traz método, olhar e dimensão conceptual, o que me ajudou muito. Continuo a ser designer e a trabalhar sobre o prisma do design. Foi um percurso muito natural e hoje, apesar de ser programador, vejo-me como designer.

O que te fez mudar de território e abraçar Ílhavo?
Cheguei a Ílhavo por convite, não conhecia a cidade. Trabalhava na experimentadesign, onde fazia produção, curadoria e desenvolvimento de projectos e tinha o Bons Sons, como hobby. Chamaram-me porque queriam alguém com prática na cultura popular e que viesse trabalhar para Ílhavo, para continuar um trabalho que ecoasse na comunidade. Vim às cegas, mas gostei tanto do discurso e do que me propuseram que pensei “estou sempre a reclamar com os políticos, o que é que faço agora?”. E disse logo que sim. Foi uma loucura, vivia em Lisboa e, de repente, mudei-me rapidamente para Ílhavo, sem rede de segurança. Mas senti que havia um contexto fértil. O que distingue Ílhavo é ter a confiança e o espaço para podermos arriscar, experimentar, errar… Tive um professor que dizia “pela prática aprende-se a teoria” e isso resume o meu percurso, pois não sou um teórico.

Para quem não conhece, como descreves o 23 Milhas?
É um projecto cultural do município de Ílhavo que nasceu com o objectivo de devolver às pessoas as práticas artísticas, para que se volte a dançar, a cantar e a promover encontros em torno da Cultura. Há, também, uma lógica de troca, onde temos o que se faz cá a ir para o mundo e o que se faz no mundo a vir para cá.
Se tens só o mundo a vir para os sítios, é uma espécie de “summer camp”. Se investes numa lógica de “primeiro os nossos”, é muito bairrista. Por exemplo, a Milha [Festa da Música e dos Músicos de Ílhavo] pretende aumentar as referências e não mimetizar as tradições antigas. Temos, ainda, o LEME que traz práticas e lógicas atuais, como o circo contemporâneo, que não é tradicional em Ílhavo. Isto contraria muito a ideia da cultura de um município se reduzir a um punhado de espectáculos agendados.
O mundo está a perder a lógica aburguesada dos centros culturais, espaços com grandes escadarias, em que entras e sentes-te pequeno, com a ideia de “ir à Cultura”. A Cultura somos todos nós e ela tem de acontecer no território, para que possas pensar, identificar e criar transformações no território.
Em Ílhavo, trabalhamos com quatro instrumentos: a Casa da Cultura (local de acolhimento, que integra roteiros nacionais e internacionais, com outras práticas), a Fábrica das ideias da Gafanha da Nazaré (é um espaço de residência e criação artísticas, onde também há programação), Laboratório das Artes da Vista Alegre (é um espaço de pesquisa, formação e reflexão) e o Cais Criativo da Costa Nova (uma resposta mais veraneante, para as dinâmicas da Costa Nova e um segundo pólo de acolhimento internacional), que têm práticas diferentes.
A atratividade do território não fica esquecida, pois a Cultura é um elemento de comunicação, para fora, do que é o município. Por ser periférico, Ílhavo sente que é importante reforçar a sua identidade e, por consequência, a sua existência.

Um político não deve programar. Primeiro, para se proteger. Depois, porque não cabe à política fazer acção artística e cultural dos espaços.

Achas que há falta de entendimento sobre o que é a programação cultural e o trabalho de um programador como tu? Como o explicarias?
Sim, ninguém sabe o que é a figura do programador cultural e isso explica porque é tão desprezada. Mas eu próprio estou a aprender, porque não há tantas referências assim. Em 308 municípios, se calhar, fora de Lisboa e Porto, há 20 com um trabalho sistematizado nesta área. E espera-se que esses, poucos, resolvam os problemas do país. Se um terço dos municípios tivesse programação regular, já era outra coisa e os artistas estariam mais representados. A programação municipal tem de ser diversa, pois responde a vários estímulos, necessidades e interesses. Se tiveres mais municípios a programar, há mais pessoas a circular. E esse câmbio de públicos é salutar. Em Ílhavo, trabalhamos para todos a partir da cidade. Contudo, em Portugal, há uma tradição elitista na programação tradicional, para público muito específico. Por outro lado, muitas pessoas dizem “não há comunicação”, ou “não sabia que ia acontecer”, o que significa que essas pessoas, provavelmente, não são público. Ou seja, não estão despertas para os projectos, não têm iniciativa, não consultam sites e não vêem as agendas.
Nesta área, a lógica da procura e oferta não pode existir. Afinal, podes estar a proporcionar algo que as pessoas não querem, ou não precisam. Logo, tens de alterar as necessidades e a procura que, à partida, as pessoas não têm. Há muita gente que não vai a um espectáculo, ou ao teatro, durante anos e anos e ninguém morre. Mas há países em que se vai ao teatro na terça-feira, à dança na quinta-feira e não há dias específicos de programação. Aqui, temos a ditadura da programação graças ao hábito da Cultura como lazer, que pressupõe estar bem e fazer rir, que nos confia à programação das sextas-feiras e sábados. Assim, as pessoas olham para a Cultura seguindo a lógica da distracção e do divertimento e não na lógica de entendimento, conhecimento e crescimento. É como se fosses apenas às aulas de que gostas e o resto, não precisasses de ir. Parece paternalista, mas esta forma de ver o programador, a de dar às pessoas o que elas querem, é chover no molhado.

A Cultura tem de ser vista como um bem essencial?
Eu vejo-a dessa forma. A Cultura, a Educação e a Saúde, por exemplo – há mais! -, são bens essenciais. E a Cultura não tem sido trabalhada como tal. A Cultura não é a cereja no topo do bolo, é o bolo! Pode ter-se o bolo sem cereja: há crise financeira, tiras a cereja. Tens uns trocos a mais, metes a cereja. A Cultura define-nos como povo, faz-nos crescer, mas enquanto a percepção não mudar, vai estar sempre a ser vítima desta sorte: quando há dinheiro, fazes; quando não há, não fazes. Ora, isto faz com que não haja sistematização e método, logo nunca tens resultados. Se trabalharmos de forma séria a Cultura, a sociedade terá mais espírito critico, será mais informada. Tem de haver espaço para pensar, para reflectir e precisamos da dinâmica do encontro. Não sou só eu que tenho de te procurar e valorizar, tu também tens de o fazer. Tem de haver complementaridade.

No que concerne à criação e mediação de novos públicos, de uma forma geral, Portugal está melhor?
Está muito melhor. Mas a ausência de práticas agravou-se. Hoje em dia, as pessoas não cantam, não dançam, delegaram isso nos artistas e “nos outros”, que não sei quem são. Neste momento, não vais a uma praça e vês as pessoas a dançar e a cantar. Isso está muito pior. Do ponto de vista institucional e programático, há muitas cidades a iniciarem trabalho em dimensões que não trabalhavam antes. O acesso está melhor, mas muito externalizado, como que vem de fora para mim e não de mim para outros. A frase do Zeca Afonso é de uma clarividência que me ajuda a explicar o que faço e que diz que a revolução cultural não é ir tocar a vários sítios, mas sim ir aos sítios e ouvir a música de lá. Esta ausência faz com que haja importação daquilo que não interessa. Acontece em todos os sectores, além da Cultura. Estamos mais uniformizados.

Importa-me retirar da “política do gosto” a avaliação das pessoas. Não interessa se as pessoas gostaram, ou não. O que importa é: “fez efeito, ou não fez? Fez pensar, ou não?”

Faz-nos adoptar valores que não são os nossos?
Nem adoptas. É a diferença entre cultura de massas e cultura popular. Quando tens cultura popular, ela adapta-se, apropria-se, é feita à medida das pessoas, dos contextos, dos léxicos. Ajusta-se ao território e é uma resposta para fora. A cultura de massas não tem contexto, adapta-se em qualquer lado, é tudo igual. E sempre centralizada sobre a visão de alguém que emite e tu és só um espectador sem decisão.
Isto também vem do modelo escolar, que é expositivo. A escola devia ensinar a pesquisar, a comunicar e a desenvolver o espírito crítico. E para alguns, pois nem todos terão essa capacidade, devia ajudar a projectar. Como não se faz isto, não se criam raciocínios críticos, nem se pesquisa, ou organiza informação. Hoje em dia, és bombardeado e parece que sabes muito mais, mas lá por teres acesso, não quer dizer que consigas trabalhar a informação. Os canais de contacto das pessoas são mastigados e injectados, não há uma lógica de processar o que te é entregue.

Como é que as características e a noção do território são relevantes para um programador cultural?
Os problemas que a Cultura tem, são os problemas que o (não) planeamento do território tem. Sou do interior, mas a Região Centro é assustadora. Se queres ver uma paisagem desafogada, dificilmente tens. Como diria o Álvaro Domingues, “transformámos as estradas em ruas e as ruas em estradas”. De repente, queres criar lógicas de fornecimento de energia, segurança e até na prevenção de incêndios, os bombeiros têm de escolher quais casas salvar primeiro… Se existissem núcleos habitacionais era mais fácil. Tal como seria com um ordenamento de núcleos industriais, agrícolas, florestais, comerciais e por aí fora. Como acontece em boa parte da Europa!
Temos o mesmo problema da Cultura, que tem que ver com a política de proximidade. Um programador sabe dizer “não”. Eu programo dez e digo 990 “nãos”. Estou confortável com o “não”, desde que seja justificado. As programações têm de responder a um determinado projecto. Se houver um bom Plano Director Municipal, os políticos podem orientar-se por isso. Mas os políticos só querem dizer “sins” e, de repente, toda a gente quer construir em todo o lado. Vais dizendo “sim” para agradar. Se a política de proximidade não for baseada num projecto, é um claro órgão populista. O bem comum implica sacrifícios, mas o resultado final compensa o sacrifício de cada um. Mas não há projectos, não há capacidade de comunicação, logo, não se conseguem mobilizar as pessoas.

Programar culturalmente, associando actividades artísticas a espaços que não as costumam receber tem sido uma proposta que fazes há algum tempo. Como tem evoluído essa perspectiva? Quais os maiores entraves que encontras? E vantagens?
A ausência de referências é dos maiores entraves. Para mim, é óbvio o que tem de ser feito e já se faz em alguns sítios, há muito tempo. Quando comecei a trabalhar em Ílhavo, pesquisei projectos deste género e, em Portugal, não existem políticas aglutinadoras que passam pela pesquisa, pensamento, criação, programação à pequena e à grande escala. Devia ser um trabalho indirecto dos municípios quando há associações e sociedade civil a fazerem. Quando não há, tem de existir um projecto político que promova essas competências. Mas as Câmaras Municipais não estão desenhadas para abraçar estas áreas, principalmente nos processos administrativos e na ideia de transparência, pois vão contra dinâmicas de criação mais orgânicas, de procura-resposta. Quando lanças uma criação, não sabes onde vais acabar. Não prevês quantas águas vais precisar, por exemplo! A organização administrativa do poder local está feita para a obra e para o processo administrativo, não está preparada para processos de criação e de Cultura. Esta dimensão administrativa do Estado, em geral, é a maior dificuldade.
Quanto à falta de referências, as pessoas não sabem o que esperar da Cultura. Já tive queixas de pessoas por causa de uma peça de crianças, que não contava uma história feliz. Como se as histórias infantis não pudessem falar de morte, depressão, de doenças… Temos de trabalhar as emoções desde cedo e a Cultura é uma boa forma de o fazer. Há que criar lugares de pensamento e discussão com crianças, e menos crianças também!

Como é que o sucesso do Bons Sons contribuiu para aquilo que pretendes fazer agora?
É uma prova, uma realidade. Se digo que um dos problemas do país é a falta de referências, neste caso, o meu percurso é a minha “farda”. As pessoas pensam que eu trabalhava no Bons Sons, mas era apenas o meu hobby, o meu contributo para a minha aldeia. Emprestei-lhe a minha cara, mas todos os projectos que fiz são o meu currículo e retiram um pouco da retórica do discurso, pois é uma concretização e ajuda-me a nortear. O Bons Sons tem este duplo sentido. É um projecto a que estive ligado desde jovem, é relação umbilical, foi um processo de aprendizagem em algumas matérias e foi um espaço de prática daquilo em que eu acreditava. Permitiu arriscar, em algumas coisas, mas é o nosso trabalho, meu e da equipa com quem trabalhei, concretizado.

O grande número de festivais em Portugal representa a fome de Cultura? Ou prende-se mais com a cultura de festa?
Em geral, é de festa e diversão. Os festivais são vazios na dimensão cultural, são muito “chapa 5”. A lógica de recriar modelos de sucesso está muito presente. O Bons Sons tem sido recriado, em alguns casos bem. As pessoas mimetizam formas, rituais e fins mas, às vezes, ao copiar, não encaixam no desenho… O Bons Sons investiu nas pessoas, capacitou-as, tornou-as mais robustas. Envolveram-se e compreenderam o projecto. Não estiveram sujeitas às marés dos financiamentos, nem das políticas, porque é um projecto comunitário, que valoriza aquela cultura sem pudor. Viver o hoje é muito mais interessante que o discurso de “remember qualquer coisa”. O Bons Sons faz isto: trabalha com pessoas, ouve-as e soluciona os problemas de hoje. Se copiarem isto, maravilhoso! É capaz de mudar de alguma coisa. Mas, se por outro lado, copiarem o fim, se acharem castiço andar a brincar às aldeias, não vai durar muito tempo, porque isso é um efeito, apenas, de um trabalho interessante.

Qual é a tua opinião sobre promover prioritariamente a inter-culturalidade, de forma a combater velhos fantasmas, como o racismo e o autoritarismo, que parecem estar a ganhar força em Portugal? Qual é o papel dos agentes culturais nestas questões?
É todo! Nós trabalhamos na lógica de organizar cada coisa na sua gaveta, mas a inter-culturalidade é a resposta. Há que confrontar a “história única”, para que existam mais ferramentas de pensamento, que permite que não esteja tudo tão organizado. A lógica de promover encontros tem muito que ver com inter-culturalidade, uma não existe sem a outra. Ou andamos a brincar ao exotismo das culturas, sem usar o princípio de pensar o que está perto.
Um exemplo concreto: em Ílhavo recebemos o Festim [Festival Intermunicipal de Músicas do Mundo, organizado pela associação cultural d’Orfeu] e nesse mesmo fim-de-semana, programámos uma exposição sobre um campo de refugiados, uma conversa com a Amnistia Internacional e tivemos as associações locais de imigrantes a mostrar os seus projectos. Isto é muito importante.
Há pouco falámos do Bons Sons e um trabalho de direcção artística também tem que ver com a imagem, o discurso, o preparar. No festival existem filas, mas elas são lugares de encontro. Se calhar, encontras ali pessoas que te vão acompanhar o resto da noite, a beber uns copos. Como a maior parte das pessoas, durante o festival, está muito disponível, ninguém vai berrar com alguém que está a servir e, por algum motivo, demore mais. O músico, como quer lá estar, vai dar o máximo. A aldeia como quer receber bem, vai ser super generosa. Então, este encontro vem da disponibilidade de todos, mas é trabalhado.
Na Cultura e nas Artes há ferramentas, nem sempre usadas, para criar estes interesses, entendimentos e disponibilidades. Por isso, importa-me retirar da “política do gosto” a avaliação das pessoas. Não interessa se as pessoas gostaram, ou não. O que importa é: “fez efeito, ou não fez? Fez pensar, ou não? É pertinente, ou não?”. A lógica é a de confrontar, como olhar, através da qualidade estética e de brio (que às vezes nos falta!). A Cultura e a Arte, no geral, são muito importantes para isso.

A ideia de cineteatro é obsoleta. Interessa-me que existam projectos culturais, seja onde for, até pode ser debaixo da ponte, seja nas escolas, nas bibliotecas, nos cineteatros.

Porque é que os pelouros e lugares políticos que têm poder de decisão na Cultura, são entregues, normalmente, a pessoas que nada têm que ver com o sector?
É verdade, mas um município normal, imaginemos, tem quatro vereadores e as áreas de decisão são mais de nove. Nesses quatro, dificilmente, há gente da Cultura. A questão é que confundimos muito, também pelo século XX negro que tivemos, mas política e Cultura não podem estar na mesma decisão. Devem ser coisas separadas. Mesmo que não exista um vereador proveniente da Cultura, se existir equipa técnica, direcção, programadores, com avaliações técnicas e autonomia, não há grande problema nisso. A vereação tem de ser algo mais abstracto e um político não deve programar. Primeiro, para se proteger. Depois, porque não cabe à política fazer acção artística e cultural dos espaços.

As políticas culturais parecem depender de ciclos eleitorais e das vontades de um executivo. Quais deveriam ser os mecanismos para proteger a Cultura desta instrumentalização?
A Constituição expressa, de forma clara, a separação entre política e Cultura e o papel das autarquias. O problema é que as sociedades estão muito enfraquecidas, então as autarquias estão a ir para sítios que, à partida, não são os seus. Se, em Ílhavo, o tecido cultural estivesse forte, a Câmara Municipal, se calhar, só tinha de subsidiar projectos que de alguma forma preenchessem o bem comum.

O melhor mecanismo é, então, uma sociedade fortalecida e educada?
Sem dúvida. Depois tens que criar modelos, práticas e referências . Tal como tens um grupo jurídico, devias ter um grupo para a Cultura. Mas estamos a anos-luz disso. Ou as autarquias se mudam por dentro, percebendo que precisam de responder às necessidades e dificuldades, ou se torna ainda mais difícil. São precisas políticas públicas para a Cultura, apesar de não serem vistas como relevantes. Um quilómetro de alcatrão é mais caro do que qualquer 23 Milhas. Mas as pessoas consideram que o alcatrão é justificado, enquanto duvidam do 23 Milhas. Cabe-nos inverter isso e mostrar que somos necessários.

Em 2019, o Governo apresentou o Plano Nacional das Artes (PNA). Já tiveste oportunidade de analisar o documento? Vai ser aplicado em Ílhavo?
O PNA quer que as escolas partam os muros e voltem a ser agentes da sociedade. A primeira crítica é que se quer criar a “indisciplina” na escola, como se os promotores do PNA não fossem os mesmos que criam a disciplina na escola. É a Olívia patroa, Olívia costureira. Cria-se um plano para indisciplinar a escola, mas é o mesmo Ministério da Educação que torna a escola o que ela é hoje, com currículos, obrigações, horários… Isso faz-me confusão. O pressupostos do PNA passam por abanar, descabelar a escola, tentando colocar a Cultura num local onde não há tempo e os professores não estão disponíveis para ela, pela falta de tempo, de referências e de formação. Não há um currículo para ela.
Os pressupostos teóricos do PNA estão certos, mas há problemas na dotação orçamental e de condições para a Escola o receber. Há, ainda, a visão utópica de existirem parceiros privados e civis nas pequenas cidades. Muitas vezes, os únicos parceiros existentes são as autarquias e, neste modelo, quase só podem ser parceiros administrativos. Apesar de os princípios estarem bem direccionados, gostaria que se partisse de um lugar em que a Cultura não é um extra, uma parte lúdica. A minha crítica nem é à equipa que fez o PNA, que trabalha dentro das balizas que lhes dão. Mas há falta de diálogo entre os diversos planos das Artes, da Leitura, do Cinema… Se o Estado acha que isto é importante, porque não se altera a forma rígida do ensino? Os programas extensos, a pressão dos exames, toda a rotina e protocolo, criam indisponibilidade da escola. O PNA é melhor do que ter nada, mas só vai ter efeito nos municípios onde não há nada, nos mais “áridos”. Em Ílhavo, por exemplo, não vai fazer grande diferença, na medida em que já há um trabalho com as escolas. Ainda há muito para fazer, mas de facto, todos os organismos culturais municipais de Ílhavo têm projectos pontuais, programação, contacto com as escolas e trabalham com elas.
Dizem que de boas intenções está o Inferno cheio, mas acho que antes está a Cultura, pois andamos sempre a levar com boas intenções. Parece que não há um olhar sério para a Cultura. No fundo, são as Artes e a Cultura, juntamente com as Ciências Sociais (Filosofia, Sociologia, História) que desenvolvem espírito crítico. Que interessa saber ler e fazer contas, se isso não ajudar a resolver problemas? Eu vivi uma escola que despreza todas essas dimensões. Sei ler, mas não sei contextualizar, nem analisar o que estou a ler, tal como posso saber fazer inúmeras equações, sem saber aplicá-las na realidade.
Este modelo de ensino tem muitas décadas, se calhar, séculos, e os próprios pais também são um obstáculo à mudança, porque estão imbuídos na competição, nas boas notas, no passar de ano e não aprender. Posso dizer que estudei piano durante cinco anos, mas não aprendi a tocar o instrumento! É esta a diferença. Às vezes, batalhamos em coisas que não servem para o resto da vida e há competências dentro de nós que nem temos consciência delas.
A Escola moderna pode optar por ensinar a teoria através da prática. Durante a crise, houve uma desvalorização sistemática, na comunicação social, do sistema de ensino e da aprendizagem, como se não interessasse ter um curso superior. Isso teve efeitos concretos! Hoje, precisa-se de mão-de-obra qualificada e ela é escassa, há escolas onde os professores mais jovens têm 40 anos… Isso vai ser uma grande crise. Os professores estão envelhecidos e saturados, ensinam diversas turmas, que se traduzem em formar centenas de alunos para profissões que já não existem e ainda lhes é pedido que estejam actualizados, sejam empáticos… Como é que se faz isto?
Enfim, o que me preocupa no PNA é que se torne numa nova Área-Escola, ou uma disciplina cívica, que são importantes, mas eram tratadas com desdém, como um recreio. Não havia metodologia. O meu medo é que estes novos movimentos, todos estes planos, tenham bons princípios, mas depois não exista relação com os espaços e as salas, sem dotação orçamental, sem relação com a sociedade civil. É quase uma cartilha, pois não existem ferramentas necessárias para trabalhar.

Qual é a tua opinião sobre a Rede de Teatros e Cineteatros Portugueses, que entrou em vigor no início de 2020? Contribuirá para melhorar as condições das salas e da acessibilidade a cultura? 
Há falta de noção do que é Cultura. Primeiro que tudo, no que toca à independência destes espaços, pois as autarquias são órgãos autónomos e têm de definir os seus projectos culturais e os outros. A ideia de cineteatro é obsoleta. Interessa-me que existam projectos culturais, seja onde for, até pode ser debaixo da ponte, seja nas escolas, nas bibliotecas, nos cineteatros. Há países onde se criaram espaços cívicos, com auditórios, piscinas, espaços de criação, de restauração e, de repente, as pessoas apercebem-se que a Cultura é isto. Por isso, já se começam a ver exposições em centros comerciais, que é onde as pessoas estão. Parece que se foi buscar uma ideia que estava na gaveta desde os anos 1990 e esquece-se que o país mudou. O grande problema é formular uma rede com coisas tão diferentes, que nem sequer tutelas. Uma coisa são os teatros nacionais, mas aí tens de criar interesses. Então, quem não tem uma prática cultural, neste momento, das duas, uma, ou não tem interesse, ou não tem dinheiro. Duvido sempre da segunda, porque o problema, em Portugal, não é a falta de dinheiro. É a falta de valor. A partir do momento em que as pessoas valorizarem a Cultura, os políticos vão investir nela. Quanto dinheiro tem de haver nesta rede para inverter a situação actual?
Outra questão é a contratação pública. Uma casa para funcionar precisa de dez pessoas a trabalhar, no mínimo. Além disso, é preciso acreditar que o projecto ainda vai estar a funcionar dentro de três anos, mas estas dez pessoas vão ser contratadas para o resto da vida. As câmaras municipais vão ter de assumir projectos que, à partida, não queriam, ou para os quais não teriam condições, e na garantia de que há este diálogo com o estado central.
Depois, uma casa para funcionar custa, no mínimo, 300 mil euros por ano. E isto é uma quantia ridícula, muito curta! É melhor falarmos em 500 mil euros. Então, os custos são suportados metade pela autarquia, metade pelo Estado? Se tiveres mais dez espaços a funcionar, para que seja mesmo uma rede, tens de dar mais 250 mil euros a cada um. Só neste exercício de imaginação, já estamos a falar de milhões. Ou seja, há dinheiro ou não há dinheiro? Para isto funcionar, têm que se injectar milhões, que, à partida, não existem. Além disso, investes 250 mil euros para programar música pimba? Se tens critérios de selecção, com júri, na Direcção-Geral das Artes e só alguns projectos são aprovados, porque é que, agora, estes são qualquer coisa que queiras fazer? Ou seja, tem de haver um júri, critério e selecção, o que levanta outra questão: sou livre de programar para aquele sítio? Mais, os territórios são diferentes. A programação para o Porto tem de ser distinta da de Beja, os locais têm lógicas, referências e potencialidades diferentes. Será que vai ser um júri, em Lisboa, que avalia a proposta desses locais?

Qual deveria ser, então, a actuação dos governos?
Acredito em parcerias. Ao que o teu projecto responder, a nível nacional, o Estado tem de estar lá. Veja-se Ílhavo: a autarquia tem obrigação de fazer promoção na sua terra e de criar práticas culturais, não precisa do estado central para nada. Existe um espaço de criação, outro de investigação, há eventos nacionais, como o LEME, que cria espaços para a criação, referências, um roteiro… Não é por ser em Ílhavo que não é nacional. Há projectos que têm obrigação de ter parceria nacional, porque estamos a responder, com ferramentas, para a inversão nacional do estado actual da Cultura e das Artes. Enfim, estamos a ser ferramentas importantes. Podemos ser parceiros e podem existir projectos em territórios que não sejam Lisboa e Porto. Estes projectos de nível nacional não são respostas locais, pelo que deve haver diálogo. Da mesma forma que nas escolas tens as autarquias que tratam da logística e o Estado trata dos professores, dos programas…

O Ministério da Cultura teria a ganhar se conseguisse decidir apoios ou parcerias caso a caso?
O Ministério da Cultura tem ferramentas interessantes: as Direcções Regionais de Cultura do Norte, do Centro, do Alentejo e do Algarve. Mas têm de ser reformuladas. Estão muito ligadas ao património e não às vertentes imateriais, nem programáticas. As suas estruturas orgânicas teriam de ser repensadas, tal como os recursos humanos, bem como a dotação orçamental. No entanto, teriam a obrigação de criar maior proximidade, de ter centros de criação e de artes performativas; música; arquitectura, design e afins; cinema, vídeo e multimédia; por exemplo! Mas não tinham de ser todas iguais. O Alentejo, como tem O Espaço do Tempo, em Montemor-O-Novo, a Direcção Regional poderia não trabalhar a criação na Dança, ou o teatro. Multiplicavam-se espaços de criação, mas com contacto com as comunidades, com referências…
É muito difícil quando o país está a arder, desertificado, envelhecido, com inúmeros problemas, e os artistas estão em Lisboa a falar de coisas que não interessam às pessoas de outros sítios. Mas não é culpa dos artistas. Eles trabalham naquilo que são as suas referências, a sua matéria. Há um desfasamento total entre aquilo que são as necessidades de uns e os interesses de outros.
França tem centros de criação mais antigos que a nossa Democracia. Eu estive em alguns e eles invertem a realidade dos espaços ao criarem práticas e contextos. Se existissem, digamos, quatro pontos destes no Centro de Portugal, construíam-se pontes. Os municípios aceitariam os projectos consoante as suas condições e diriam “nós damos X e o Estado dá Y”. Assim, o projecto pensaria a região, com benefícios directos de estar naqueles sítios, uma vez que seria considerado estratégico. Com este pensamento estruturado, criando pólos de pensamento diversos, trabalhavam-se as necessidades de cada lugar, identidades, o potencial dos locais, criando intercâmbios e pontes e são, eles próprios, pólos aglutinadores de escolas, universidades, pensamento, pesquisas, que não são propriedade das autarquias, mas que trabalham com elas, podendo existir protocolos de difusão, diferentes apoios… é tudo isto! Mas não é substituir o que existe, mas sim trabalhar com o existente.

Tens ambição de vir a desempenhar um papel político na área cultural?
Não tenho esse interesse, já recusei convites nesse sentido. Só o farei se sentir que aquilo que preciso de fazer, não o conseguirei de outra forma, senão lá. Neste momento, gosto da “causa-efeito”. Não é de controlar o processo, mas de conseguir ter estas coisas do fazer e do fazer acontecer. Se um dia perceber que para fazer acontecer, tenho de ir para outro lado, então irei. Até porque detesto a lógica de “nós e eles”, que é um princípio do populismo e abre caminho a muito do que está a acontecer na Europa. Não podemos achar que os políticos são todos maus, corruptos e que eles não fazem parte deste ecossistema, percebendo que são pessoas, apenas, com mais poder. Têm as mesmas referências, as mesmas lógicas, que as sociedades e são um resultado delas. Se as coisas não funcionam ao trocar um político por outro, se calhar tem que ver com um sistema que está criado e que impossibilita a inversão da coisa. Não diabolizo a política, mas não sou seduzido, porque ela está muito intrincada em protocolos formais e é abstracta o suficiente para não me interessar tanto.

Consideras que, em Portugal, os resultados dos investimentos feitos em Cultura são incompreendidos? O que nos falta compreender neste campo?
Tem que ver com a questão da empatia. Já começa a haver mais gente, e a minha geração está a mudar nisso, a usar ferramentas dos outros para comunicar. Se as pessoas não percebem o que dizes com as tuas ferramentas, com o teu entendimento, acho que tens de ir a áreas de gestão, de economia, de política, etc., traduzir o efeito nalguma coisa que seja inteligível para os outros. Isso está a ser feito.
Percebe-se o retorno do Ilustração à Vista [festival de ilustração do 23 Milhas] através do uso de uma ferramenta de uma instituição independente, que avaliou o festival e que concluiu existir um retorno 16 vezes superior ao investimento do município. E é um festival, com três anos, com orçamento muito reduzido, algo entrincheirado, mas convenhamos: um retorno 16 vezes maior é interessante.
Mas sem essas ferramentas, de investimento-retorno, de impacto mediático, estamos perante apenas intenções e intuições. Porém, a Arte não se mede só com isso, sob risco de valorizar apenas aquilo que está cheio, esgotado, em detrimento de outras práticas. Mas esta é uma acção de empatia e mediação, pois percebo a pertinência e a necessidade de acção, porque vivo dela, mas tenho de ser criativo para conseguir chegar a ti. Também há contextos que não são propícios. Por exemplo, trabalha-se de sol a sol e quando se chega a casa não se quer pensar na merda da vida que temos. Ao estar numa lógica de sobrevivência, de alienação constante, a maior parte das pessoas não se importa de ser miserável, desde que não sejam responsáveis por isso. É aquela coisa de “o meu país não deixou”. Quando começas a pensar em ti e por ti, isso implica mudança. Se calhar, vais divorciar-te, perceber que a vida com a tua mulher é uma fachada, que não interessa. Se calhar, vais perceber que tens de despedir-te e arranjar outro trabalho. Ou assumes que não quiseste ou pudeste lutar. E quem é que quer isso? A questão é que queres ir ver uma coisa que faz rir e pronto. Como na televisão, vês umas imagens a mexer e que te fazem umas cócegas no cérebro e amanhã tudo se repete. Porque, se não, é mesmo muito duro.
Repara no Facebook: quando alguém partilha uma notícia falsa e é confrontado com isso, essa pessoa diz “desculpem ter partilhado”? Não! Diz “não é verdade, mas podia ser!”. Mais difícil que enganar alguém, é demonstrar que alguém está a ser enganado, portanto nem te atrevas a isso. Daí a facilidade da disseminação da religião, dos discursos populistas… Com quantas pessoas não andei na escola, que estavam nas tintas para aquilo e, hoje, querem ser grandes professores de sabedoria, a dar ensinamentos sobre as coisas? No fundo, as pessoas querem esse lugar, de dar o conselho, mas o esforço e trabalho que isso exige, é pouco atractivo para a maior parte.
A Cultura faz doer, tal como te doem os músculos quando vais correr. E a Cultura faz doer porque estás a criar espaço para a alma, estás a crescer. Já se pensou que seria possível isolar o gene da depressão do dia-a-dia (não falo da doença) mas isso talvez só gerasse pessoas tontas. O inconformismo que te gera a ansiedade, o pensar para onde vais, são processos de angústia, mas ajudam-te a percorrer um caminho.

Existem sectores da sociedade que têm interesse em que a Cultura não atinja o seu potencial máximo? Que não seja feliz no cumprimento da sua missão social? Que sectores são esses?
Há! Muitos! Se falamos da Cultura na dimensão popular, estamos a falar de uma lógica de diversidade. E a diversidade é pouco eficiente. Se todos pensarmos o mesmo, se formos iguais, se gostarmos do mesmo, a eficiência é muito maior, é tudo mais rápido. Pensemos na indústria, na economia, na comunicação, tudo o que é estandardização. Se a fruta é mais feia, não se vende. Estamos em padrões, segmentos.
Se trabalho para haver aculturação, diferenciação, respostas do território, isto cria variáveis que não deixam criar uma multinacional. As grandes indústrias, como a do entretenimento, criam padrões em que lanças uma máscara de Halloween e todo o mundo a vai querer. Repara na eficiência: não têm de se criar mil máscaras! A lógica é a mesma da agricultura, temos dez grupos empresariais que organizam a alimentação mundial, o que é muito eficiente para a produção constante e o escoamento.
Tudo o que forem regras transversais que atingem todos da mesma forma, como o ensino único, o modelo único, permitem um genocídio cultural constante, no que toca a culturas, dialectos, práticas, tradições, hábitos, etc. As ditaduras fazem isso e há ditaduras políticas, mas também económicas, mais subtis que uniformizam os interesses. É assustador, porque é um empobrecimento brutal da potencialidade de ver o lugar do outro.
Os eventos mediáticos em Portugal não têm um trabalho de consciência sobre eles. De repente, este ano, tivemos não sei quantas cidades em Portugal a inaugurar árvores de Natal. Gastaram-se milhões no Natal, a simular pistas de gelo, em sítios onde não faz sentido nenhum, não assenta na tua cidade, na atmosfera, em nada… Estive em quatro cidades com inaugurações de árvores de Natal, que no total, gastaram mais de um milhão de euros. Isto prova que o problema não é a falta de dinheiro. O problema é a inexistência de projectos que criem foco, métodos, patamares que mostrem por onde é o caminho e que culminem em coisas diferenciadoras, pois respondem às necessidades. Isto é que é ser contemporâneo, ao contrário do que se pensa, que é fazer coisas abstractas e loucas, que ninguém percebe nada daquilo. Ser contemporâneo é responder às necessidades de hoje!

Esta entrevista também teve o contributo de Rui André Soares.

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