‘L’amant d’un jour’: é o cinema de família de Garrel

por Paulo Portugal,    5 Janeiro, 2018
‘L’amant d’un jour’: é o cinema de família de Garrel
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Dizer que o cinema de Garrel é um cinema de família será, porventura, simplificar demasiado. Ainda que em boa medida se afirme como um corpo de imagens, de filmes, que nasce e cresce dentro desse seio. Não só da família sanguínea, o pai, Maurice, as várias mulheres da sua vida, o filho Louis, participação regular nos seus filmes, mas não neste, e a filha Esther, aqui uma das personagens centrais. Mas também um cinema recorrente, contribuindo também para esse corpo maior. Olhando então em particular para O Amante de Um Dia, essa aproximação torna-se ainda mais acentuada.

Por acaso, descobrimos o último filme de Philippe Garrel no derradeiro dia do Festival de San Sebastian. Ainda por cima com a possibilidade de podermos trocar algumas impressões com Esther Garrel que veio apresentar o filme e confirmar, ainda que hesitante, alguma proximidade entre a personagem de Eric Caravaca e Philippe. Ela que nos dera também recentemente essa tremenda alegria de a ver no ‘filme do ano’ Chama-me Pelo teu Nome, de Luca Guadagnino.

Trivializando, podemos dizer que O Amante de Um Dia é um novo conto moral edipiano em que uma filha chorosa (Garrel) vem secar as lágrimas em casa do pai (Eric Caravaca) depois de romper com o namorado, apenas para se aperceber pouco depois que o pai tem uma namorada (Louise Chevillotte, uma revelação) com a idade dela. É neste cinema de câmara, coerente, em que nos parece até mesmo reconhecer o cenário dessa casa em outros filmes.

Naturalmente, existem aqui as insondáveis encruzilhadas do amor, das amantes, da paixão, da sedução. É como uma espécie de pintura, em que o artista vai pintando o mesmo quadro. Vimos isso no anterior À Sombra das Mulheres e em Ciúme, a completar esta inconfessada trilogia. Bem como ainda A Fronteira do Amanhecer. Isto para falar apenas do seu cinema mais recente.

É este o cinema puro de Garrel, apenas centrado nas personagens e nas suas emoções. É um cinema que passa, mas também que fica guardado, um pouco como as fotografias a preto e branco.

Artigo escrito por Paulo Portugal em parceria com Insider.pt

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