Keith Moon, o astro da bateria dos The Who

por José Malta,    8 Setembro, 2018
Keith Moon, o astro da bateria dos The Who
PUB

No dia 7 de Setembro de 1978, Keith Moon, baterista da banda britânica The Who, considerado por muitos ainda hoje o melhor baterista rock de todos os tempos dado o seu estilo violento e destruidor ao manusear as baquetas transpondo uma alma característica à sua bateria, fora encontrado na sua cama sem vida. Na noite anterior à sua morte, Keith Moon jantou com o ilustre Beatle Paul McCarthney e com a sua esposa Linda, a propósito da estreia do filme The Buddy Holly Story, um filme norte-americano sobre o cantor Buddy Holly.

Paul e Linda McCarthney foram duas das pessoas que viram Keith Moon uma última vez com vida. As causas da morte apontaram para uma overdose de medicamentos que o baterista tomava para combater o alcoolismo que o vitimara ao longo de vários anos, deixando em choque os amantes do rock e aqueles que testemunharam o crescimento e o sucesso de uma banda que surgiu numa era onde o rock se começava a apoderar da música no seu todo. Formados numa época onde os Beatles eram a grande referência musical no Reino Unido e no mundo inteiro, os The Who deram a conhecer um estilo mais agressivo do rock que nunca antes tinha sido experimentado, conseguindo distanciar-se um pouco daquilo que era o protótipo convencional das bandas rock dos anos 60. Tendo como grande influência os Mod, o movimento criado em Londres em meados dos anos 50 e reforçado nos anos 60, dos quais jovens da classe média inglesa eram militantes e cujo uso de motorizadas do tipo Lambretta ou Vespa era um dos principais rótulos, os The Who deixaram uma marca muito significativa na música. E claro, Keith Moon fora um dos obreiros desse feito que o colocou não só a si mas também aos restantes membros da banda nas páginas mais gloriosas da história do rock. No dia em que se assinalam os 40 anos do seu desaparecimento, recordar Keith Moon é como fazer uma viagem no tempo voltando àquela era gloriosa do rock onde os The Who tinham uma influência predominante na sua geração, proporcionando concertos e álbuns de grande calibre, e onde Keith Moon exibia as suas qualidades invejáveis enquanto músico e baterista bem como também a sua faceta mais violenta e destruidora, condicionada pelo vício no álcool e nas drogas, que permitia com que muitas das vezes danificasse por completo o seu instrumento durante os espetáculos da banda, sendo esta uma das suas imagens de marca durante a sua actuação em palco.

Keith Moon nasceu a 23 de Agosto de 1946, nos subúrbios de Londres no seio de uma família de classe média tendo crescido em Wembley, no centro da cidade. Desde muito cedo mostrou um enorme talento para a música, sendo visto como um miúdo muito irrequieto e fascinado deste muito cedo por fenómenos que proporcionavam destruição como por exemplo explosões e demolições, algo que esteve sempre presente na sua maneira de lidar com a vida. Ingressa nos Sea Cadets, uma organização juvenil ligada à marinha britânica, onde toca percussão e começa a ter aulas de música. Durante este seu percurso ainda primordial começa a mostrar o seu talento com os tambores, que posteriormente se adaptaria à bateria. Mais tarde, já no auge da sua adolescência, começa a formar pequenas bandas de covers de Rhythm and Blues, das quais era o baterista, até ter chegado àquele que seria o passaporte para a sua projecção a nível mundial: os The Who. Após ter conhecido Pete Townshend, o guitarrista, a banda formar-se-ia juntamente com Roger Daltrey como vocalista e John Entwistle como baixista. Os The Who conseguiram ganhar espaço no meio dos holofotes que estavam mais direcionados para a hegemonia dos Beatles, lançando em 1965 o seu primeiro álbum de originais: My Generation. Keith Moon, o mais jovem membro da banda, com apenas 19 anos ajudaria assim a projectar através da sua energia, loucura e espírito destrutivo a tocar bateria, o reportório dos The Who, tornando My Generation num dos mais bem-sucedidos trabalhos e álbuns de estreia de um rock que ainda tinha muito para crescer. A partir desta altura, o percurso dos The Who foi sempre a subir: lançaram mais três álbuns de originais até ao fim da década de 60 e participaram no segundo dia do mítico festival de Woodstock em 1969, um concerto que começou às cinco da madrugada e onde exibiram cerca de 25 canções tornando este num dos concertos mais intensos e duradouros deste evento altamente marcante não só na música mas também para numa sociedade cada vez mais influenciada pela intensificação do movimento hippie.

https://www.youtube.com/watch?v=F03a-EYvifU

Com o decaimento de certas bandas, e o nascimento de outras, os The Who mantinham-se de vento em poupa, continuando a afirmar-se também durante a década de 70 com o lançamento de mais trabalhos de originais, em destaque para Who’s Next e Quadrophenia, dois álbuns que deram mais poder musical à banda, sempre com a presença incansável da bateria de Keith Moon em cada faixa. É nesta fase o consumo de álcool e de anfetaminas começa a atingir proporções consideráveis, o que faz com que Keith Moon seja aconselhado a ser observado por entidades especialistas que iniciam um processo de diminuição desse mesmo consumo com o objectivo de uma possível desintoxicação. Em Agosto de 1978, o lançamento de Who Are You, um álbum que daria à banda outro tipo de energia que se poderia prolongar nos anos seguintes, seria por ironia do destino o último álbum de Keith Moon como o comandante da percussão de uma das mais bem sucedidas bandas rock de todos os tempos. A banda ainda tentou persistir na sua continuação ao chamar o baterista Kennedy Jones para o lugar de Keith Moon gravando ainda mais dois álbuns no início da década de 80. Contudo, o ritmo da banda modificou-se, tornando-se algo mais lento segundo alguns críticos, pois os melhores trabalhos dos The Who tiveram como principal característica o acompanhamento incansável da precussão violenta que só um astro como Keith Moon (referindo ao seu apelido que em inglês significa Lua, o que levou muitos a baptizarem-no por Moon, The Loon: Moon o Lunático), conseguiu conferir à banda que acabaria por não ter outra alternativa a não ser o seu desfecho, tendo cada membro seguido a sua carreira a solo independente mas nunca descartando as diversas reuniões em anos seguintes, de forma a poder relembrar aqueles anos vitoriosos e homenagear também aquele que foi um dos responsáveis pelo triunfo dos The Who e pela criação de novas tendências e melodias ainda pouco experimentadas numa época onde o rock estava na ribalta.

Passados 40 anos o mundo e a música mudaram. O rock continuou a crescer, adaptando-se a outros estilos e vertentes perante uma sociedade em constante mudança e cada vez mais exigente. Contudo, Keith Moon continua a ser um astro que, apesar de ter desaparecido, continua a iluminar os dias e a aconchegar as noites daqueles que testemunharam ou que gostariam de ter testemunhado uma era musical onde ser-se baterista era como escrever poesia através da arte de manusear as baquetas na bateria, em vez de se usar canetas e papel. O astro lunático, com o seu estilo violento, audaz e também apaixonante, continua ainda hoje a ser um exemplo para outros bateristas e bandas rock que continuam a surgir, sendo este o verdadeiro poder astral que conseguiu eternizar Keith Moon no infindável universo que há na música rock.

https://www.youtube.com/watch?v=O5Up-qHTJdY

Gostas do trabalho da Comunidade Cultura e Arte?

Podes apoiar a partir de 1€ por mês.

Artigos Relacionados