Kandinsky e a essência da arte

por Sandra Henriques,    3 Dezembro, 2016
Kandinsky e a essência da arte
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Nascido a 4 de Dezembro de 1866, Wassily Kandinsky, um dos grandes pintores de todos os tempos, começou por estudar direito. Apesar de desde sempre as artes lhe despertarem experiências intensas, só perto dos seus 30 anos, quando partiu para Munique, é que começou a explorar a pintura, chegando, anos mais tarde, a professor da Bauhaus.

Ao longo dos seus 78 anos de vida, além do seu papel ativo no universo da pintura e exposições, Kandinsky teorizou com muita regularidade sobre a arte em várias revistas e jornais e chegou mesmo a editar livros em nome próprio, entre eles, “Do Espiritual na Arte” , “ Ponto, linha, plano” e “Gramática da Criação”. Nesses livros é explícita a sua forma de ver não só a pintura, mas também a arte em geral e a educação cultural e artística.

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A pintura era entendida por Kandinsky como uma coisa que deve expressar algo interior, sem necessidade de comunicar nenhuma mensagem. Ele procurava, como via acontecer na música, formas da pintura se libertar da obrigação de representar o real. Nesse sentido, e como exemplo, um elemento muito usado pelo pintor era a linha, que nos seus quadros eram somente linhas, sem obrigação de definir nada e por isso, segundo ele, com uma força interior maior, já que deixavam de ser secundárias.

“O essencial da forma é saber se ela nasceu ou não de uma necessidade interior.”

Para Kandinsky, uma obra deve ser interior e espiritual.

Apesar de apontado como o percursor do abstracionismo no ocidente, o artista não procurava fórmulas únicas, via o abstrato e o objetivo como partes complementares e acreditava que, na mesma época, podiam existir várias formas “corretas” de fazer arte. Hoje em dia este poderá ser um pensamento mais vulgar, mas há cerca de um século atrás as opiniões eram mais restritas. Com o nascimento de várias correntes artísticas, o pintor defendia que as fórmulas na arte poderiam vir a tornar-se uma prisão para os artistas que se limitassem a elas – por funcionarem para um artista, não teriam obrigatoriamente de funcionar para todos.

“Não é importante que o artista recorra a uma forma real ou abstrata, uma vez que são interiormente equivalentes. A escolha deve ser deixada ao artista, que deve saber melhor que ninguém por que forma é capaz de materializar mais claramente possível o conteúdo da sua arte.”

Entre as várias maneiras de explicar a sua perspectiva, de que para produzir arte a pessoa deve deixar que as vibrações da sua alma se expressem, Kandinsky usa teoria de que todo o homem mediano pode produzir pintura, música, teatro, etc., desde que tenha recebido formação académica para isso.

“Ele executará as coisas corretamente, mas sem vida. Quando um indivíduo sem formação pinta, o resultado nunca engana”.

Era uma pessoa com uma capacidade invulgar para experiências de sinestesia e multissensoriais e dava uma grande importância às sensações que certa obra lhe despertavam, mais que à logica em si. Ainda assim, Kandinsky aceitava como igualmente válidas para a criação tanto a lógica como a intuição e tinha fé no espírito criador do homem e na sua capacidade de excluir o que há de falso, sempre que a iniciativa vêm de dentro, independentemente da forma como se manifesta.

“Não quero pintar música
Não quero pintar estados de alma
Não quero pintar com cores ou sem cores
Não quero modificar, nem combater, nem mudar um único ponto na harmonia das obras primas que nos chegaram do passado
Não quero mostrar o caminho para o futuro.”

Fotografia de capa de artigo Composition VII (1913) óleo s/ tela

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