‘Justice League’, um passo atrás depois de ‘Wonder Woman’

por João Estróia Vieira,    23 Novembro, 2017
‘Justice League’, um passo atrás depois de ‘Wonder Woman’
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Realizado por Zack Snyder e escrito por Chris Terrio e Joss Whedon, Justice League tinha o ónus de herdar o primeiro bom trabalho da DC, Wonder Woman, assim como ser a primeira prova de fogo face ao sucesso dos filmes Avengers. Falhou a todos os níveis, mas deixou boas perspectivas para os recém-chegados Aquaman, Flash e Cyborg, reunidos por Batman e pela Wonder Woman para fazerem face a uma ameaça que vem de outro planeta.

O que continua a falhar nestes filmes da DC e Warner Bros? A falta de importância que se dá aos seus próprios personagens. Se metade do filme decorre aquando da tentativa de Bruce Wayne reunir um grupo de super-heróis e gerir os seus egos, a outra parte é apenas de porradaria e de discussão sobre o que se passou e o que vai acontecer. Há poucos momentos de profundidade psicológica dos seus personagens para CGI a mais.

Os heróis da DC parecem mais humanos, mais “reais”, negros e verossímeis que os excêntricos heróis da Marvel, mas a incapacidade de explanar isso em filme prejudica tudo à partida e ficamo-nos apenas pelo leve pensamento disso. São retratos estanques e desumanizados de super-heróis com os quais pouco acabamos por nos rever, ao contrário dos da Marvel, multidimensionais (por vezes em demasia), com quem facilmente criamos empatia. Os heróis da DC ainda procuram o seu espaço, o seu habitat, a sua história enquanto os da Marvel já estão consolidados juntos dos fãs.

Neste aspecto, veja-se o caso particular de Batman, interpretado mais uma vez por Ben Affleck. Reconhecido estratega pela sua inteligência e astúcia em combate, Batman é usado maioritariamente como saco de pancada ao longo de todo o filme. A humanização do super-herói está longe de ser directamente proporcional à quantidade de pancada que este consegue aguentar, mas Snyder e a DC teimam em não perceber. Há, no entanto, luz ao fundo do túnel, muito por culpa do fantástico Ezra Miller e do seu boyish Flash (a fazer lembrar o novo Spiderman) que com a sua insegurança, jovialidade e frescura, funciona como o comic relief necessário aos filmes do género. Não são só boas notícias para Justice League; são também boas notícias para os futuros filmes a solo do Flash, para os quais se augura bom futuro (e a DC bem precisa). Cyborg/Victor Stone (interpretado por Ray Fisher) é também uma agradável surpresa, não caia a DC na tentação de o imitar em demasia a Iron Man, no que aos gadgets e actuação em combate diz respeito. Já Aquaman (Jason Momoa), apesar de ter um momento de relevo (forçado pela Wonder Woman de Gal Gadot), é pouco mais que inútil em combate, mais a sua “forquilha” (como dizem a certa altura do filme), e a sua adaptação para cinema do filme a solo terá de ser muito bem trabalhada, mas deu já para ver os laivos psicológicos que estão a ser trabalhados no personagem.

E no meio de um emaranhado de aspectos negativos em todo o filme, um dos piores é o próprio vilão (cuja voz é a de Ciarán Hinds). Além de parecer saído do CGI do filme de World of Warcraft, nunca o chegamos sequer a temer ou a achar que se trata de uma ameaça séria à Terra (e para isso muito conta o local, quase remoto onde Steppenwolf escolhe sediar-se para espalhar o poder dado pelas “três caixas do poder” (nunca se chega bem a entender a origem deste poder nem o qual é realmente o alcance do mesmo). Apesar de nos ser apresentado como um cruel conquistador de Mundos, poderoso e implacável, nunca demonstra nada que se assemelhe a tal descrição, além de ter à sua volta aquele que é porventura o exército mais anti-fílmico, anti-estético e irritante de sempre: demónios que fazem um barulho irritante e têm asas tipo libelinhas. E quem aparecerá para salvar o Mundo desta “ameaça”? Prevê-se desde o início do filme, mas antes de salvar o Mundo tem ainda tempo para um fim de semana de escape com a sua amada (Amy Adams, que escusado será dizer é um desperdício face ao tempo em ecrã) de lutar contra todos os elementos da Liga da Justiça que deixam a última caixa completamente à mercê do vilão do filme.

Passaram mais de onze anos desde que Zack Snyder gravou 300. Se na altura o filme foi, de alguma forma, um acontecimento cinematográfico pelo seu CGI e slow motion abusivos nas cenas de acção, estamos em 2017 e já é altura do realizador se reinventar, em vez de ficar parado numa obra com mais de uma década e, sobretudo, querer fazer-nos acreditar que este CGI de segunda categoria ainda é, por si só, entretenimento bastante e de qualidade num blockbuster de orçamento milionário como é Justice League. Quem perde é a DC. Justice League é um retrocesso depois da mensagem e do folgo que Wonder Woman deu. O culpado? Em grande parte é Zack Snyder (e o seu insuficiente Batman) e os seus produtores, que querem correr quando ainda mal sabem dar os primeiros passos com este Mundo da DC no Cinema.

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