Comunidade Cultura e Arte
No Result
View All Result
  • CINEMA
  • TV
  • MÚSICA
  • LIVROS
  • ARTES
  • SOCIEDADE
  • ENTREVISTAS
  • OPINIÃO
    • CRÍTICAS
    • CRÓNICAS
  • CINEMA
  • TV
  • MÚSICA
  • LIVROS
  • ARTES
  • SOCIEDADE
  • ENTREVISTAS
  • OPINIÃO
    • CRÍTICAS
    • CRÓNICAS
No Result
View All Result
Comunidade Cultura e Arte
No Result
View All Result

José Antunes Ribeiro: o homem em quem Lobo Antunes se refugia

por Luís Osório
23 Setembro, 2020
em Crónicas
José Antunes Ribeiro: o homem em quem Lobo Antunes se refugia

Um dia, há alguns anos, António Lobo Antunes apresentou-mo. Depois de uma longa conversa numa espécie de garagem onde escreve, quis que o conhecesse. Contou-me dele, do seu talento para ouvir, da sua incrível generosidade, do idealismo com que fundou a Ulmeiro, a Livraria Obelisco e a Assírio e Alvim. Acontece por vezes. Os domadores de palavras, de tanto andarem às voltas por entre letras e símbolos, sentem a necessidade de se surpreender com os outros, com a bondade de que fogem como o diabo da cruz – não há grandes escritores que se viciem no Bem, não há grandes livros sem que o Mal e as suas sombras estejam presentes.

O Mal que muitos apresentam como mistério, nada de mais falso. Porque desconfiamos quando nos acontecem coisas boas. E achamos natural quando são as más a bater-nos à porta. Tanto ouvimos dizer que devemos estar preparados para os sobressaltos e tragédias da vida que, quando o Mal chega, dizemos cá para nós “ora aí está. É ele, chegou”. Mas como não nos dizem que o Bem também é caixeiro-viajante crescemos sem estar preparados para o receber. E, quando chega, perguntamo-nos “o que estará para acontecer”. Na escola, as nossas crianças deviam aprender a desconfiar do Mal e a achar natural o Bem. Seria uma mudança civilizacional, uma maravilhosa revolução.

Então saberíamos reconhecer o José Antunes Ribeiro, o homem que me foi apresentado por Lobo Antunes. José que tanto fez sem esperar nada em troca, que nada teve em troca para lá do reconhecimento de uns poucos que lhe dizem, entre abraços, que jamais será esquecido no que foi. Que a livraria Ulmeiro, na Avenida do Uruguai, onde esteve mais de 50 anos, nunca deixará de ser recordada como espaço de encontro do pensamento e de gente que, de um modo ou de outro, influenciou a forma como refletimos ou escutamos – todos os inéditos e poemas de Agostinho da Silva foram editados por si e, em todos estes anos, António e outros grandes como ele repousaram na sua incrível tolerância e otimismo. A Ulmeiro foi uma casa para Zeca Afonso, Carlos Paredes, Léo Ferre, Mário Viegas, Hélia Correia e alguns outros com quem José partilhou também as suas sombras, os seus fracassos, as suas incredulidades.

É um grande homem, entre os que conheço o mais ignorado. Nasceu pobre e, como todos os outros nesses meados do século passado, condenado a sê-lo para sempre. No lugar de Alburitel fez a primária com Maria dos Anjos, professora casada com um médico de Chão das Maçãs, hoje Estação de Fátima, a quem deve o conhecimento da porta dos sonhos que nunca mais fecharia na sua vida.

O pai José, camponês e operário na CP, foi o seu apoio na juventude e a única marca afetiva nesse tempo de angústias. Morreu-lhe num acidente de automóvel às mãos de um imigrante que testava um qualquer último modelo, uma tragédia potenciada pela incredulidade: fora a primeira e última vez que o pai entrara num carro.

A mãe, Maria da Conceição, camponesa e analfabeta que era temente a Deus e, ao contrário do pai, opunha-se a todos os horizontes e sonhos que se pudessem abrir; uma mulher dura que jamais lhe ofereceu brinquedos ou beijos, mas que nunca deixou de trabalhar de sol a sol para que nada faltasse a si e aos irmãos.

Sabe-o bem.

No campo, na ida ao mercado para conseguir uns tostões, a fazer o que era preciso ser feito. Mulher profundamente religiosa, José recorda-se com nitidez das gélidas noites de inverno quando o levava à igreja da aldeia “dentro” do seu xaile.

A professora primária e a bondade do pai foram importantes, tanto como o internato no Colégio dos Dominicanos na Aldeia Nova. Sem eles, marcados pela culpa da Santa Inquisição, talvez não tivesse encontrado a maneira certa de impedir que a tal porta dos sonhos fechasse. Daí, apoiado pelos tios António e Jacinta, passou para o Colégio Nuno Álvares, em Tomar, onde se completou no homem que conheci e invejo.

O que António Lobo Antunes procura quando precisa de se libertar de si próprio. O que começou a ler a sério através das Bibliotecas Itinerantes da Gulbenkian, o que saiu de Tomar para Lisboa onde, sozinho, se refugiou nas OGMA de Alverca e com isso escapou à guerra colonial que mandava jovens do campo para a primeira linha de morte. O que se escondeu nos livros e nos amigos. O que se fascinou com os outros e se foi esquecendo de si próprio, o que decidiu ser sempre voluntarioso e pagou um alto preço por isso, o que acreditou nos outros mesmo nos que não mereciam, o que continua a combater pela sobrevivência da Ulmeiro, a livraria e editora que é uma parte de si. Uma parte de si que está doente, ligada à máquina, mas que José tenta salvar.

Quis-lhe contar deste homem bom. Que no ocaso da sua vida tem medo de ter medo, o que compreendo bem. Nunca conheci ninguém que não o tivesse. Fui amigo de pessoas que não falaram sob tortura. Privei com quem matou e viu morrer. Troquei conversa com gente que arriscou a vida em ruas da noite. Procurei sinais de coragem e encontrei-os. Mas todos partiram, todos partimos se nos prepararmos bem, para a dor com a serenidade conquistada em momentos de dúvida. Não, nunca conheci alguém que não precisasse da dúvida para construir certezas. Sim, os heróis que conheci tiveram mesmo medo de ter medo. Como tu, José.

Se quiseres ajudar a Comunidade Cultura e Arte, para que seja um projecto profissional e de referência, podes apoiar aqui.

Artigos Relacionados

“L.A. Woman” dos The Doors celebra 50 anos

“L.A. Woman” dos The Doors celebra 50 anos

por José Malta
18 Abril, 2021
0

A 19 de Abril de 1971, os The Doors lançavam o seu sexto álbum de estúdio, intitulado por L.A. Woman. A...

O “Princípio” de “Princípio, Meio e Fim”

O “Princípio” de “Princípio, Meio e Fim”

por Gustavo Carvalho
18 Abril, 2021
0

Em primeiro lugar, não gosto de começar textos com “em primeiro lugar”, mas este impõe que assim o seja: o...

“Catarina e a beleza de matar fascistas” regressa aos palcos no Teatro Nacional D. Maria II

“Catarina e a beleza de matar fascistas” regressa aos palcos no Teatro Nacional D. Maria II

por Redacção
18 Abril, 2021
0

"Catarina e a beleza de matar fascistas", de Tiago Rodrigues, marca a reabertura da Sala Garrett do Teatro Nacional D. Maria II, no...

Vasco Completo estreia-se com o disco “Wormhole”

Vasco Completo estreia-se com o disco “Wormhole”

por Redacção
18 Abril, 2021
0

Para alguns artistas, isso é uma missão para a vida inteira; no caso do Vasco, essa é a única maneira...

Do gosto

A bula, essa arte esquecida

por Nuno Miguel Guedes
18 Abril, 2021
0

Pode ser dos dias, pode ser de mim, pode ser de ambos. A verdade é que, sem aviso nem remédio...

Está quase, já passou

Da infância

por Valério Romão
18 Abril, 2021
0

Bukowski escreve algures, num poema dedicado ao pai: «mas sobrevive-se: o suicídio antes dos dez anos / é raro.» De...

Assina a nossa Newsletter

Recebe em primeira mão, todas as novidades da Comunidade Cultura e Arte

Os mais Populares

Óscares 2021: onde ver os filmes nomeados, em streaming ou de forma gratuita

Óscares 2021: onde ver os filmes nomeados, em streaming ou de forma gratuita

12 Abril, 2021
RTP2 exibe concerto de Harry Styles em Manchester

RTP2 exibe concerto de Harry Styles em Manchester

30 Março, 2021
Comissão Europeia propõe manter “fim do roaming” durante mais 10 anos e quer preço e velocidade iguais em toda a UE

Comissão Europeia lança plataforma de acesso aberto para a publicação de artigos científicos

24 Março, 2021
“At Eternity’s Gate”. Filme sobre a vida do pintor Vincent Van Gogh está disponível na RTP Play

“At Eternity’s Gate”. Filme sobre a vida do pintor Vincent Van Gogh está disponível na RTP Play

15 Abril, 2021

Sobre a Comunidade Cultura e Arte

A Comunidade Cultura e Arte tem como principal missão popularizar e homenagear a Cultura e a Arte em todas as suas vertentes.

A Comunidade Cultura e Arte procura informação actual, rigorosa, isenta, independente de poderes políticos ou particulares, e com orientação criativa para os leitores.

ver mais

Segue-nos no Facebook

Segue-nos no Instagram

Seguir

  • Sobre a CCA
  • Privacidade & Cookies
  • Apoiantes
  • Parceiros
  • Fala Connosco Aqui

CCA 2019 © Todos os direitos são reservados.

No Result
View All Result
  • CINEMA
  • TV
  • MÚSICA
  • LIVROS
  • ARTES
  • SOCIEDADE
  • ENTREVISTAS
  • OPINIÃO
    • CRÍTICAS
    • CRÓNICAS

CCA 2019 © Todos os direitos são reservados.

Go to mobile version