Vivemos todos numa nova Era de ouro da televisão. E numa nova forma de ver/fazer televisão. O cinema também vive uma fase boa, dum ponto de vista global, e financeiro. Ainda hoje ficámos a saber que ”As notícias da morte do cinema foram exageradas? Nunca se fez tanto dinheiro nas bilheteiras do planeta”, escreveu Joana Amaral Cardoso no jornal Público. No entanto, o cinema que gera dinheiro a sério é quase todo ele de um ou dois “géneros”: o de super-heróis ou animações. “Vingadores”, “Black Panther” ou “The Incredibles 2” são exemplos disso mesmo. É o chamado cinema familiar.
A juntar a tudo isto há um fenómeno chamado Netflix que une, e que por vezes até desune, a realidade da televisão com a realidade do cinema. E é aqui que as séries ganham espaço para terem o peso que têm na vida das pessoas. Se por um lado, actualmente, se mede quase só em lucro e entretenimento rápido o peso que o cinema tem na vida das pessoas as séries, por seu lado, podem se medir da mesma forma mas também pela quantidade de tempo que ocupam na vida dos telespectadores. Se numa conversa entre amigos conseguíssemos medir a quantidade de tempo que gastamos a falar de uma determinada personagem, filme ou série seria quase certo que se perde mais tempo a falar de séries. E isso não é mau. É uma nova Era de ouro da televisão e uma nova forma de ver televisão.
No fim de contas, todos precisamos de histórias para nos distrairmos das nossas narrativas pessoais mas ao mesmo tempo também queremos sentir a confirmação de quem somos e, se tudo correr bem, da realidade que escolhemos.
O director de Planeamento Estratégico da SIC, Pedro Boucherie Mendes, falou precisamente deste fenómeno em entrevista ao Observador: “A televisão aporta à sociedade, porque é uma janela aberta ao mundo (…) aporta à sociedade dinâmicas que não tínhamos outras hipóteses de ver. No fundo és um voyeur, não sei o que se passa na tua casa, mas se tu levares a tua vida para a televisão, eu sei como te comportas, se quando te deitas arrumas a roupa aos pés da cama ou não arrumas. E posso pensar “este faz como eu, atira a roupa para um canto, ou arruma”. É importante para as pessoas não se sentirem sozinhas. As pessoas têm a mania que querem ser únicas e especiais, mas a verdade não é essa: as pessoas querem pertencer a um grupo qualquer, uma dinâmica qualquer.”
Portanto, hoje, as séries da Netflix e de outras plataformas de streaming, encurtam ainda mais a distância de nos sentirmos especiais e como parte de um todo.
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