Hoje à noite n’O Sótão. Jazz Is Dead 007 é a prova de que João Donato está bem vivo

por Francisco Espregueira,    2 Junho, 2021
Hoje à noite n’O Sótão. <i>Jazz Is Dead 007</i> é a prova de que João Donato está bem vivo
Capa do disco
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João Donato é um daqueles músicos para músicos. Ou seja, um artista que é, em primeiro lugar, apreciado pelos seus pares. Aos oitenta e seis anos, ainda ‘perdido e encontrado’ na sua criação e exploração musical, Donato junta-se a Ali Shaheed Muhammad (mítico produtor e membro dos A Tribe Called Quest) e Adrian Younge (compositor que já trabalhou com nomes como Timbaland, Jay Z ou Kendrick Lamar), para encabeçar a sétima e última edição da série de álbuns intitulada de Jazz Is Dead. Muito para além de uma homenagem à sua impressionante obra, Jazz Is Dead 007 é simplesmente um grande (e novo) álbum de jazz, onde as influências brasileiras e americanas, que marcaram a carreira de Donato, navegam tranquilamente com a sabedoria e subtileza musical a que nos habituou.

Mas onde anda João Donato? Pergunta de difícil resposta, tanto acerca do seu paradeiro físico, como acerca do momento criativo em que se encontra. Falamos de um homem referido por João Gilberto (com quem tocou no início da sua carreira) como sendo o inventor da bossa nova ou por Tom Jobim como sendo um génio ímpar. No entanto, Donato pouco caso faz disso. Extremamente respeitado no círculo de músicos cariocas desde metade da década de ’50, a sua incessante experimentação levou a que nunca se estabelecesse por completo numa cena musical, tendo vivido em Los Angeles, San Francisco ou Nova Iorque durante mais de 15 anos. Após o seu regresso ao Brasil em 1975, o nome de Donato dizia pouco à generalidade do público, mas uma nova geração de músicos composta por Marcos Valle, Caetano Veloso, Gal Costa ou Gilberto Gil não o tinha esquecido.

E hoje, com acesso a todo o seu trabalho, também não o esquecemos. João Donato merece um lugar ao lado das maiores lendas musicais brasileiras, apesar de ser mais difícil encaixar o seu trabalho num único género. O seu contributo, passado e presente, leva a que seja infinitamente apreciado por músicos, críticos e colecionadores de todo o mundo, e este Jazz Is Dead 007 é a prova de que Donato está bem vivo — incluindo composições que podem parecer simples, mas que contêm harmonias maravilhosamente complexas. Com todas as músicas no álbum compostas por Ali Shaheed Muhammad e Adrian Younge, o contributo de João Donato no seu Fender Rhodes é para lá de sublime. Jazz Is Dead 007 fica disponível em vinil, CD e formatos digitais a partir da próxima sexta-feira.

E ainda…

João Pinaud é um músico e DJ com uma clara identidade sonora. O seu novo EP, Afrojazz, faz jus à sua própria receita de sons orgânicos, house e música soul e disco dos anos ’70. É também um disco carregado de ‘espíritos’ positivos, que marca o debute brilhante da nova Mondo Dingo Records.

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