Há faculdades sem ecopontos

por Comunidade Cultura e Arte,    25 Março, 2019
Há faculdades sem ecopontos
Fotografia de Mariana Vasconcelos
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Falar de alterações climáticas está claramente na moda, sem querer tirar o seu crédito. A greve climática estudantil de dia 15 de março contou com a adesão de mais de 20 mil pessoas por todo o país. Quem eram estes jovens? A Geração Z – jovens nativos da era digital, extra sensíveis ao FOMO (“Fear of Missing Out”) e que consideram extremamente perturbador ser excluído do grupo social no qual estão inseridos. Para quem pensa que estes são os jovens que “não querem saber de nada”, aqui provamos o contrário: é esta a juventude que pensa poder mudar o mundo à sua volta.

A greve climática foi, em certa parte, também virtual. As ruas encheram-se de cartazes coloridos com hashtags, as fotografias repletas de filtros encheram as redes sociais e os memes trouxeram humor para quem, tão seriamente, manifestava o seu direito à greve. Os jovens mostraram que estiveram lá, que também se importam e que querem salvar o mundo. E claro, a cobertura dos media foi enorme, porque desde quando é que os jovens saem das suas casas para fazer algo que não sirva os seus próprios interesses? Desde quando é que os jovens se reúnem à volta de um tema que valha a pena lutar?

A sueca Greta Thunberg, de 16 anos, foi recentemente nomeada ao prémio Nobel da Paz por se manifestar contra aquecimento global e alterações climáticas. Este é o mote que serve de inspiração para jovens de todo o mundo que, de forma um tanto ou quanto inspiradora, levantam cartazes e gritam em uníssono o que querem ver alterado.

Mas no meio de discursos que realçam a importância dos pequenos gestos fica a ideia de que esta é uma geração que procura ser salva por outros, pois, quando existe um problema, a solução é protestar e esperar que alguém o resolva. Tal como foi dito por um grupo de estudantes ativistas “Não somos nós que temos de arranjar as soluções, não é esse o nosso papel”.

Associações de Estudantes por todo o país mobilizaram-se para que houvesse adesão por parte da comunidade académica, pois os jovens adultos têm também a responsabilidade de liderar os mais novos nestes confrontos promissores.

No entanto, em certos casos, parece que as associações estudantis se preocupam tanto com o clima como com festas. A cultura do copo na mão no que toca a “fazer o dia-a-dia sustentável” parece comprometer todo o esforço que tem sido posto na luta contra estes problemas. Outro ponto a considerar é o facto de a maioria das faculdades não terem ecopontos – é o caso da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa.

A quantidade de materiais – como o cartão e esferovite – que são deitados fora diariamente acabam no lixo comum. Como a FAUL existem muitas outras faculdades que, mesmo não tendo um gasto tão grande, continuam a não reciclar. Parece que toda a vontade de querer mudar a forma como cuidamos do planeta é esquecida, e é claro que (especialmente) os adultos encontram aqui uma crítica aos valores dos jovens estudantes. A realidade é que, por não existirem destinos apropriados para o material descartável nestes locais, os estudantes são obrigados a não cumprir com os valores éticos que, na sua maioria, defendem diariamente.

E é claro, os presidentes destas faculdades não querem saber. Estão cegos a uma questão que simplesmente não querem ver, a soluções acessíveis para problemas simples que acabam por fazer a diferença. Mas como eles, dirigentes políticos de diferentes países fazem declarações semelhantes: na Austrália e Nova Zelândia, a greve estudantil foi criticada por ser realizada em tempo de aulas, tempo este que Michael Williams, presidente da associação de diretores de escolas do ensino secundário da Nova Zelândia, afirmou que devia ser dedicado à aprendizagem. A todos os que assim pensam: o exercício prático é a melhor aprendizagem que se pode ter, e este (vejam só) até pretende conduzir a um planeta sustentável.

Os posts e partilhas nas redes sociais de pouco ou nada servem se as entidades no poder não corresponderem às exigências dos tempos. Se era importante mudarmos as nossas ações há dez anos, agora é imperativo.

Crónica co-escrita por Leonor Cerezino, estudante do 1.º ano do curso de arquitetura na Universidade de Lisboa, e Filipa Martins, estudante do 2.º ano do curso de Comunicação Social no Politécnico de Setúbal.

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