Galgo: lições sobre como se “Parte Chão”

por Carlota Real,    7 Maio, 2020
Galgo: lições sobre como se “Parte Chão”
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Dentro de quatro paredes, muito se pode fazer. Há quem faça pão e, entre os melómanos, há quem parta chão. Os Galgo apresentam Parte Chão, o seu terceiro disco, que promete agitar os ouvidos de quem ousar ouvir. É o álbum mais consistente dos lisboetas, e no qual se apresentam numa euforia contagiante e, mais uma vez, sem “fórmulas mágicas” que expliquem as nossas reações corporais.

Em 40 minutos, os Galgo trazem-nos sete peças de puro êxtase. O rock efervescente leva a melhor, como já é habitual, no entanto destaco “Murmur” e “Burbur” – as duas pontes que interligam os vários lagos que compõem o disco. Os primeiros acordes de “Muda” soam e um frenesim de synths e guitarras encorpadas invadem os nossos sentidos, até que somos obrigados quase a abanar a cabeça com o crescendo da música, e mergulhamos de corpo inteiro no disco. Cintos apertados, prego a fundo e somos lançados corrente abaixo comPanca Espalha“, movemo-nos pela densidade inconstante da montanha russa que é o segundo tema, um pára-arranca sem fim.

Galgo / Fotografia de Vera Marmelo

Eis que chega “Burbur” num jeito pacificador. Podia ter saído facilmente de Stranger Things, com sintetizadores a engolirem-nos lentamente. Mais uma moedinha, mais uma voltinha pelos loucos anos Galgo. As guitarras voltam a conquistar o mundo em “Giga Joga”, mesmo a pedir um mergulho na multidão de camadas espessas de sons que fazem o Galgo cair de tanto mexer. “Garras Dadas” tem a produção de Xinobi e é o voltar ao início dos tempos – recordemos Dromomania – num disco essencialmente mudo, mas que fala por si. Os espasmos das guitarradas efervescentes tornam este sonho psicadélico numa realidade de olhos bem abertos.

“Murmur” é o culminar eletrizante do turbilhão que vivemos nos minutos anteriores. Estão como nunca os vimos (ou ouvimos, neste caso), onde o transe acaba para dar lugar à ressaca hipnotizante. Chegamos, por fim, ao “Grande Roubo. Acaba-se sempre em grande e com os pés já abatidos de tanto bater no chão. Se há coisa que os Galgo nos dizem com o nome do disco, é que vamos “partir chão”. Mais uma vez acertaram em tudo – desde a exaltação das guitarras efervescentes às passagens calmas, ligeiras, que nos indicam que essa é uma nova fase da banda. No fundo, o que importa é que “a festa é em todo o lado, é onde eu quiser”. 

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