Financiamento público do jornalismo: o cheque-leitor e as bolsas de investigação jornalística

por Cronista convidado,    24 Maio, 2020
Financiamento público do jornalismo: o cheque-leitor e as bolsas de investigação jornalística
Fotografia de Camilo Jimenez / Unsplash
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Desde o início deste século, que ouvimos falar da crise do jornalismo, muitos defendem que esta foi provocada pela revolução tecnológica e digital que afetou o ecossistema da comunicação social e o mudou por completo o modo de comunicar. Outros autores defendem que a crise do jornalismo tem outras origens como, por exemplo, a priorização do lucro financeiro em detrimento do lucro social, isto é, não interessa se a notícia é boa, interessa é que venda. Levando isto à crise de credibilidade dos media em geral.

Todavia este texto não é para falar das causas da crise do jornalismo, mas sim para tentar apontar uma solução para o caso específico português, que pelo menos minimize o problema, que foi acentuado com esta nova crise económica que vivemos.

Dois dos problemas dos órgãos de comunicação social portugueses são: a falta de financiamento/sustentabilidade financeira; e a excessiva dependência em relação ao poder político e ao poder económico. O primeiro pode estar relacionado com a falta de leitores dispostos, e com capacidade para pagar, para ter acesso a informação. O segundo acaba por ser uma consequência do anterior, na medida em que precisam dessa dependência para sobreviver.

Parece-me claro que o Estado tem de intervir para resolver estes problemas, porém, não o pode fazer através da publicidade institucional, de forma a evitar uns dos problemas supracitados. A meu ver, há pelo menos dois instrumentos que o Estado pode utilizar para apoiar o jornalismo de forma mais indireta que são uma espécie de cheque-leitor e bolsas de investigação jornalística. 

O cheque-leitor funcionaria da seguinte forma: em vez do Estado subsidiar diretamente os órgãos de comunicação social, passaria essa responsabilidade para os cidadãos ou um segmento de cidadãos, por exemplo, os estudantes do secundário e ensino superior, que normalmente estão interessados em aceder a informação de qualidade, mas não têm rendimento disponível para pagar por ela. Mais do que uma política de financiamento do jornalismo, isto até seria uma política de acesso universal à informação, que é um direito básico.

As bolsas de investigação jornalística destinar-se-iam principalmente aos jornalistas independentes, investigadores e órgãos de comunicação social com poucos meios financeiros que queiram fazer uma investigação mais dispendiosa. Estas bolsas seriam financiadas pelo Estado, sendo que os privados também podiam ser convidados a contribuir, e geridas pelas Universidades e Fundações. 

O jornalismo é uma peça fundamental na democracia. Só com um jornalismo forte, isento, escrutinador e objetivo é possível manter uma democracia viva, pelo que é essencial que não deixemos que desapareçam os seus valores fundamentais por questões financeiras.

Crónica escrita por Abel Pereira Costa
Abel Pereira Costa nascido no ano de 1998 em Barcelos, estudante de economia na Universidade do Minho. Amante de política, música e desporto. Como bom português que é, adora comer bem, acompanhado de um bom vinho e uma mesa cheia de amigos.

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