Finalistas de Design de Comunicação da FBAUL inauguram exposição

por Comunidade Cultura e Arte,    26 Setembro, 2019
Finalistas de Design de Comunicação da FBAUL inauguram exposição
Fotograma do audiovisual “Pode ser sombra”, de Rita Russo. Ficção de Margarida Coutinho, Maria Carolina Branco,
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A exposição de finalistas do ano letivo 2018/2019 na licenciatura de Design de Comunicação da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa será inaugurada no dia 2 de Outubro. A mostra toma o nome de It Takes Several Minutes for the Eyes to Adjust to the Dark e irá acontecer até dia 18 de Outubro, na Galeria das Belas-Artes.

O título cita diretamente um artigo de 2018 de Linn Ullmann para a The New Yorker, Time for the Eyes to Adjust. Neste artigo, Ullmann, filha do realizador Ingmar Bergman e da atriz Liv Ullmann, refere o ritual que ambos praticavam todos os dias antes do visionamento de um filme. Todos os dias, excepto ao domingo, pai e filha encontravam-se religiosamente 10 minutos antes da hora marcada. Entravam numa sala improvisada, escura, e esperavam que os seus olhos se adaptassem à escuridão. Um filme começava, pontualmente, logo de seguida.

Este tempo de ajuste — o afundamento da luz para a escuridão — é análogo à adaptação da realidade para a ficção, do mundo exterior para o mundo interior: o do cinema. As fronteiras entre estes conceitos — as áreas cinzentas no seu entremeio — tornam-se espaços que o design pode passar a habitar, a comentar. A exposição cobre, portanto, esses dois grandes temas que orientaram a produção académica do ano letivo de 2018/2019: a Realidade e a Ficção.

Conta-se que o escritor Vladimir Nabokov disse uma vez que a palavra “realidade”, sem aspas, não tinha qualquer sentido. “A realidade é o ponto de coincidência de ficções diferentes. E se eliminarmos essas ficções fenomenologicamente, como camadas de uma cebola, restaria aquilo que resta na cebola: nada”, escreve Vilém Flusser em clara concordância.

Project Room de “Towards the Omega Point”, ficção de Afonso Matos, Inês Pinheiro e Vítor Serra

Numa era pós-digital, realidade e ficção diluem-se. Esta indefinição não tem apenas finalidades criativas, artísticas ou lúdicas, mas é muitas vezes instrumentalizada por estruturas mais oficiais ou mais informais de poder, desconstruindo valores como a democracia, a identidade individual e colectiva, a ética, entre outros fundamentos da nossa sociedade.

Antes da sua atual e “desejável” crise de identidade, o design sempre trabalhou com e para o real. Os objetos produzidos pertencem, circulam e (re)constroem a realidade.

A efemeridade da maior parte dos artefactos de design de comunicação também contribui para esta ideia de uma disciplina que “serve” o presente. Em suma, o choque inevitável com a realidade define o estatuto social do design. Se design e realidade é um (falso) truísmo, design e ficção será talvez uma hipótese improvável. Perante práticas históricas ou legitimadas — como a literatura e o cinema — o design reclama agora o seu lugar na ficção.

No culminar de um ciclo de estudos em design de comunicação, abordaram-se os dilemas, as contradições e os temas “na ordem do dia” da contemporaneidade. Os projetos ora comentaram, criticaram e ensaiaram a realidade, ora a transformaram em ficção. Aproximam-se do cinema, da literatura, dos mitos, mas também dos factos e de uma realidade que teima em sucessivamente apresentar-se, surpreender e desconstruir-se perante o nosso olhar.

A visitar, entre 2 e 18 de Outubro, na Galeria das Belas-Artes da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa.

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