Festival Lux Interior 2018: rock’n’roll e nostalgia tomam conta de Coimbra

por Comunidade Cultura e Arte,    5 Outubro, 2018
Festival Lux Interior 2018: rock’n’roll e nostalgia tomam conta de Coimbra
The Legendary Tigerman – Fotografia de Idalécio Francisco/CCA
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A segunda edição do Festival Lux Interior, uma co-organização da Câmara Municipal de Coimbra e o Convento de São Francisco com o selo Lux Records, ocorreu no segundo fim de semana de Setembro para, mais uma vez, comemorar carreiras de artistas conimbricenses.

Na noite de 14 de Setembro, a entrega do Paulo Furtado – ou The Legendary Tigerman –  foi de tal ordem que nos fez lançar bem fundo no rock’n’roll.

Paulo Furtado afirmou numa entrevista ao Expresso, em 2017: “Tenho uma frase escrita na minha página do Facebook que diz: ‘Se não fosse o rock’n’roll, estava na prisão’.” Isto diz muito sobre ele, assim como do seu último álbum, Misfit, que tivemos o prazer de ouvir ao vivo nesse dia de Setembro. O disco foi composto no decorrer de uma viagem aos Estados Unidos, na companhia do realizador Pedro Maia e da fotógrafa Rita Lino. O filme “Fade into nothing”, que nasceu em simultâneo, também serviu de inspiração. Mas este enquadramento serve apenas para nos conduzir ao concerto que pudemos testemunhar. E que grande concerto.

The Legendary Tigerman – Fotografia de Idalécio Francisco/CCA

Em palco, o Tigerman encontrava-se acompanhado de três músicos: o baterista Paulo Segadães, o saxofonista João Cabrita e o baixista Filipe Rocha. O quarteto incendiou a sala, e levou ao rubro a plateia. Até o segurança se viu obrigado a intervir, devido à proximidade de um fã ao palco – excesso de zelo, aliás, também referido pelo Paulo Furtado. É de louvar a contínua fidelidade deste one man band ao rock’n’roll, neste projecto que agora se transforma numa banda. Que vai trilhando um novo caminho sem nunca perder a identidade, o misticismo a que nos habituámos. As canções transportam muitas das horas, dos dias e das noites passadas no continente americano. Agarram-nos de tal forma que é inevitável não nos deixarmos levar, e libertar. Foi isso que aconteceu. Abandonámos a sala com “Motorcycle boy” em loop, na nossa cabeça.

The Legendary Tigerman – Fotografia de Idalécio Francisco/CCA

Os responsáveis pela abertura dessa noite haviam sido os The Twist Connection. Carlos Mendes (bateria e voz), Sérgio Cardoso (baixo), Samuel Silva (guitarra) e a convidada Raquel Ralha: receita simples para um concerto de rock’n’roll à velha guarda. Rock puro, sem artifícios, muita garra e, acima de tudo, muita animação. Apresentaram o último álbum de originais que foi lançado em Junho deste ano. Ao assistirmos a este concerto confirmámos que a identidade desta banda está cada vez mais vincada, mais consistente.

15 de Setembro. A noite seguinte. Com uma lotação praticamente esgotada, os Belle Chase Hotel apresentaram-se no Convento São Francisco, em Coimbra, para comemorar os 20 anos de Fossanova, o seu primeiro álbum. “Até breve. Esperemos”, afirmou Raquel Ralha, vocalista dos Belle Chase Hotel, antes da última canção. Será? Perguntamos nós.

Belle Chase Hotel – Fotografia de Idalécio Francisco/CCA

A ocasião era de saudosismo, entusiasmo e ânsia de reviver tantas músicas que marcaram uma época. No entanto faltou energia, garra, alegria para nos contagiar e querer cantar e aplaudir de pé. Não conseguimos embarcar completamente no universo sedutor da música dos Belle Chase Hotel, que se atreveram, um dia, a juntar cabaret, bossa-nova, tango, jazz, blues. E isso entristeceu-nos. Nem o clássico “Sunset Boulevard” conseguiu animar o público, que se manteve um tanto ou quanto apático. Não cantámos desenvergonhadamente “There’s a new McDonalds on Sunset Boulevard, we love Coca Cola and the gorgeous movie stars, double cheese and triple cream, it must be a dream”. O concerto terminou, de forma pouco apoteótica, com “Mirago” no encore, interpretado com o charme e elegância de Raquel Ralha. Foi um bom concerto, claro, mas ficámos com aquela sensação de que soube a pouco. Será que haverá um novo álbum? Será que faz sentido? Citando o JP Simões “Logo se vê.”

Esta última noite do festival iniciou-se com a banda conimbricense The Walks. Fomos presenteados com a apresentação do seu novo disco, ainda sem nome, sucessor de Fool’s Gold (editado em 2015). Apresentaram-nos um som irrequieto, repleto de enérgicas guitarradas, mas que ainda carece de uma maior solidez para se poder tornar pujante. O registo algo distante do vocalista também não ajudou a cativar a audiência, que se manteve quase sempre tímida, pouco expansiva. Este grupo de amigos tem potencial mas ainda tem de amadurecer para nos fazer aplaudir entusiasticamente de pé.

The Walks – Fotografia de Idalécio Francisco/CCA

É de referir que nestes dois dias de festival houve um elemento em comum que nada abonou a favor das bandas. A qualidade do som não esteve no ponto; por vezes, a música chegava-nos estridente, o timbre desequilibrado, e isso acabou por prejudicar um pouco todos os concertos a que assistimos. Apesar de tudo, venha o próximo Festival Lux Interior – nós lá estaremos.

O Festival Lux Interior teve a duração de 3 dias, no entanto só conseguimos estar presentes nos dias 11 e 12.

Texto: Ana Moreira

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