Father John Misty e o fim do mundo tal como ele o vive

por João Jacinto,    7 Setembro, 2017
Father John Misty e o fim do mundo tal como ele o vive
PUB

Nem todos os artistas podem afirmar que lançam conteúdos novos com a regularidade de Josh Tillman, também conhecido como Father John Misty. Entre as suas colaborações, conta com artistas como Beyoncé, Lady Gaga ou Kid Cudi; assim como não podemos descurar a participação numa multitude de projetos, em que se destaca a sua prestação como baterista dos Fleet Foxes entre 2008 e 2012, inclusivé na gravação do álbum Helplessness Blues.

A carreira a solo, ainda assumindo o nome próprio, começou em 2003 e terminou em 2010; posteriormente tomou um sentido diferente, com o pseudónimo de Father John Misty. Após uma depressão grave seguida de um retiro autoimposto, e sob o auxílio de substâncias psicotrópicas, Fear Fun é editado em Maio de 2012.

Fear Fun é um álbum engraçado, em que as faixas contam pequenas histórias que fazem rir e pensar. Especial destaque para “I am writing a novel”, onde o carácter autobiográfico das letras quase nos faz invejar as aventuras de Tillman. Também “Nancy from now on” constitui um interessante exercício de falsetto, e assume-se como uma música ímpar no álbum. Foi, contudo, um trabalho em que faltou uma maior unidade entre as faixas, sendo difícil classificar o conjunto como memorável.

Seguiu-se, em 2015, I Love You, Honey Bear: uma viagem emocional ao coração do artista, com músicas escritas na primeira pessoa. Faixas onde se critica a si próprio, outras em que critica o seu país. “Bored In the USA” é uma reflexão sobre a vida na sua pátria – ou, pelo menos, a vida de Josh. Versos que descrevem a classe média dos Estados Unidos da América, tão irónicos que são acompanhados por risos de fundo. Mas é essa a confusão gerada. Nem sempre sabemos se devemos rir ou se a seriedade das questões nos impedem de o fazer. Father John Misty consegue, com este segundo álbum, confundir o público. Será um crítico? Será ele próprio parte do sistema que tenta criticar? Não fará também ele parte da pop culture que critica? E será que, no final, estas respostas interessam?

Este ano foi lançado o mais recente trabalho, Pure Comedy. Este apresenta-se como um manifesto, sobre o que Misty considera serem os problemas do nosso tempo. Os fatídicos títulos das faixas, bem como os seus arranjos, parecem prever o fim do mundo. A começar pelos nossos tempos, com “Total Entertainment Forever”; passando pelo problema do aquecimento global, que nos trouxe o fim do mundo como o conhecemos, em “Things It Would Be Helpful To Know Before The Revolution”. É um trabalho que tenta abordar temas menos pessoais que os anteriores, e mais difíceis de nos relacionarmos com eles. Excessivamente intelectual, em certas faixas Father John Misty confunde-se com um pregador que desistiu de tentar resolver o que encara enquanto problema. Afinal, como o próprio canta, é apenas e da natureza humana agirmos deste modo.

Father John Misty vai atuar no nosso país em nome próprio, no dia 20 de Novembro, no Coliseu dos Recreios (Lisboa); concerto em que é esperada a apresentação deste seu último álbum.

Fotografias de Gus Stewart/Redferns via Getty Images e John Paul Filo/CBS

Gostas do trabalho da Comunidade Cultura e Arte?

Podes apoiar a partir de 1€ por mês.

Artigos Relacionados